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sábado, 21 de novembro de 2015

November



E do leste veio uma brisa refrescante para o corpo, espírito e consciência. Era início de uma tarde de um final de ano que se aproximava. Quieto na sombra de uma cerejeira, fechou os olhos e deixou que a sua mente rompesse os limites do espaço e do tempo e o levasse a sítios de saudade incrustados em dimensões que não se limitam ao passado ou ao futuro e, muito menos, respondem pelo presente como o sabemos. Novembro chega assim, acendendo luzes e lembranças e apagando os sinais de tristeza. É algo situado entre o prólogo e o gênesis. E, sempre nos resta reinventar-se.

DJ de S.

domingo, 15 de novembro de 2015

MAIS NA CIDADE DO QUE EM SI


Inquietação e desconforto lhe sacudiam a alma naquelas horas pesadas. Uma angústia dessas que invadem os limites da zona segura dos pensamentos certeiros. Nunca temera um front. E continuava assim. Mas o tempo se apoia no vento quente que arremessa as folhas para o lado oposto da árvore da vida. Tão limpo o chão e a mente neste terreiro de festas, celebrações e batalhas. Prédios se erguem de encontro ao céu e o arranham sob o olhar atento do poeta. E no final, a chave de tudo se encontra no cofre do espírito cansado que se levanta mesmo assim. Tão bonita a sua história para que a negue, ela lhe diz. Não percebe que a história está longe do fim. E reinventar-se não significa negar a sua história ou a si. E o quanto já tem de si na cidade e da cidade em si? Se pergunta do alto do quinto andar de um antigo edifício do centro abandonado da cidade calada, deserta, contida, desperta e ciente do seu imprevisível e constante devir.

DJ de S.

Inception

"Quem vem das ruas não joga fácil"

 

sábado, 14 de novembro de 2015

Remember

E o mundo, cada vez mais perigosamente belo, com as suas contradições e consequências, com o seu caudaloso devir. Causa frio na espinha e aperto no coração. É a história se fazendo bem na nossa frente, em outras pátrias, ou no nosso torrão. Também tem a covardia; tem a solidariedade; e a indignação. É belo e perigoso como uma rosa atômica entre o céu e o chão. E as lágrimas, elas lavam a dor, mas, somente elas, não mudam a situação. E "Remember", foram muitas messejanas que criaram lampião.
 DJ de S.

Noturno Girassol

Ela vestia preto, e falava muito como de costume. Mas, nessa noite trazia algo de mais doce do que o seu próprio beijo. E novamente voltamos às ruas semi-vazias e passeamos a 30 por hora na beira-mar. A trilha sonora ficou por sua conta; e o carro deslizava seduzido pela atmosfera interna e pela cidade que passava lentamente pela janela. Também fomos a um charmoso e underground bar do subúrbio, e fizemos fumaça sob o luar. Preenchemos com poesia e prazer mais uma das nossas muitas noites em comum. E havia algo de novo naquele jogo de sombra e luz. Era como se a noite se jogasse dengosa sobre as luzes amareladas da cidade. E nós nos afetávamos sob o girassol noturno que brotou daquele encontro entre a metrópole, a poesia, e nós. 


DJ de S.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Go get it



Não podia negar que aquela boca despertava os seus instintos menos contidos. Queria aqueles cabelos por entre os seus dedos; e ficaria, por horas, ouvindo as suas percepções e apreensões dos conceitos mais profundos dos pensadores clássicos, ou não, que povoam o cotidiano de ambos. A presença dela perturbava a sua performance tão impávida. Querer é a senha para o inicio de mais uma odisseia, sabia. E mesmo assim, e talvez por isto mesmo, se deixou tomar pelo desejo. E o que deseja... 



DJ de S.

The Player



Um jogador que fazia das oportunidades, peças num tabuleiro cósmico. Dificuldades eram possibilidades de lances ousados.  E aquelas pernas distraindo, desviando a sua atenção. Não! O prazer não desvia da missão. Mas, voltará. O magnetismo que exerce a sua presença na alma feminina lhe rende probabilidades generosas demais. Sim! O prêmio será macio, quente, sorridente, impressionado. E a sua mente, atenta, não para de jogar.

DJ de S.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Atitude


Yes!


Adiante





Neste momento eu me sinto fora de todo o mundo. Mas, sei que nele estou. Da solidão do meu escritório no subúrbio eu vejo as luzes brilhantes da cidade que cresce em grande velocidade. Estou só comigo mesmo. E o meu pensamento percorre quilômetros de lembranças sem encontrar o que realmente busco há tanto tempo: Quem eu sou. Anos e meses, dias e horas, minutos, segundos, frações de vida. O corpo sente a força da vivência; a mente se aprimora. É cedo ainda. Ela me telefona. A noite escurece um pouco mais quando faço das ruas a trilha por onde desfilo o meu momento atual. Estou só. E apenas um motor potente divide comigo a missão de ir adiante. Ela insiste e faz o telefone interromper a playlist. Hoje a noite é particular, e não atendo. Também não entendo o meu lugar no campo que busquei frequentar. Nunca fui bom de realidade. Tantas faces, olhares, sorrisos, tantos prazeres. E eu, tentando colocar a cabeça, e a vida, no lugar. Em algum lugar.

DJ de S.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Três de mim




(Ilustração emprestada de Multiverso, livro de Leonardo Pratignani)

*
As coxas grossas a poucos centímetros das minhas mãos, de cima para baixo me “scaneava” a alma pelos olhos, e sorria. A boca, portal vermelho para a felicidade. A voz, nem precisou usar. Sua expressão era convite. Aceito! E tudo começou assim. Acordávamos juntos."Breakfast", e seguíamos em par para os trabalhos cotidianos. Uma rotina agradável e nada tediosa.  Já se iam vinte mil anos assim. Nossa casa de arquitetura antiga com bonitos jardins, na beira de um lago, contava com todos os confortos e modernidades necessárias para situar-se entre o bucólico e o funcional.  Companheiros. Uma cumplicidade impensada para os padrões daquela outra realidade de onde você neste momento lê este escrito. Sim, as vidas se bifurcam em realidades muitas. E estamos aqui.
**
Fecho os olhos, esvazio a mente, são três horas e vinte e dois minutos de uma madrugada Juliana do ano de 20035. Os humanoides, de uma constelação qualquer, fazem festa no posto 30 do outro lado da minha rua suspensa. Eu não gosto das suas robôs sexi que imitam as antigas prostitutas humanas de rua. Eles têm armas, e naves compactas sucateadas que estacionam umas sobre as outras. Bebem algum tipo de mistura que junta álcool etílico e poeira de cometas. Eles são gordos, têm cheiro dos combustíveis fósseis do passado, embora as suas naves sejam movidas à energia estelar. Hoje é uma daquelas noites solares na antiga terra em que sinto falta das minhas pílulas de vinho tinto e fumo maços de uma mistura semi-orgânica que comprei de um viajante intergalático que falava um pouco de “terraquiam” (é assim que eles chamam o nosso idioma naquele quadrante do universo). Sinto-me tonto, irritado, com saudades de Edja e dos seus seios volumosos e macios. Estou acordado há três ciclos cósmicos e ainda não encontrei nem um terço dos produtos que preciso comprar. Pra piorar, o dinheiro “vanuziano” que ganhei nos jogos noturnos da terra nova, está para acabar.
***
Uma e meia da manhã. Escrevo frases desconexas e o meu pensamento se difunde em buscas ininterruptas de soluções difíceis para problemas sérios demais. Sinto-me pouco. Mas, sei dos meus dons. O século é o vigésimo primeiro da era cristã. Sim, eu estou no Ocidente. Vivendo em um país chamado Brasil. Neste universo, todos envelhecem junto com o passar do tempo, os amores não dizem muito para uma sociedade monetizada demais. Por mais que eu busque, não consigo me encontrar em nada por aqui. Parece que estou novamente deslocado no espaço-tempo. Isto mesmo, nesta realidade tudo está limitado nestes dois campos. Tenho sentido saudade de coisas que aparentemente eu nunca vivi. Certamente são interseções deste com os outros universos onde existo. Aqui não se dispõe de tecnologias e nenhum outro meio para realizar interações deste tipo. Tudo aparece para mim como elementos psíquicos e são facilmente confundidos com ilusões e ou delírios por qualquer cidadão deste tempo e lugar. Mas, nem tudo é angústia, tenho vivido experiências interessantes e aprendido bastante com esta dimensão tão limitada. O que há de mais estimulante são as mulheres deste tempo- lugar.


DJ de S.

domingo, 1 de novembro de 2015

Poliamor

As três namoradas que desafiam a ‘família tradicional brasileira’

Tabeliã ‘casa’ três mulheres no Rio. Esta é a segunda união poliafetiva no Brasil


Uma empresária e uma dentista, de 32 anos, e uma gerente administrativa, de 34, acabam de jogar por terra o conceito brasileiro de família ao oficializar sua relação em um cartório do Rio de Janeiro. É o segundo trio registrado no Brasil, depois que em 2012 uma caixa, uma auxiliar administrativa e um arquiteto formaram em São Paulo a primeira união poliafetiva estável do país, o equivalente ao casal de fato que, desde 2003, vigora nas uniões civis brasileiras.

A escritura assinada pelas três mulheres, que vivem juntas há três anos, as reconhece como família, estabelece a separação de bens e concede autoridade a cada uma delas para decidir sobre questões médicas dos cônjuges. O trio, além disso, contemplou no documento a intenção de que a empresária tenha um filho por inseminação artificial e que na certidão de nascimento do bebê conste os sobrenomes das três. As noivas assinaram também três testamentos nos quais dividem seus bens em caso de morte.

“Somos uma família. Nossa união é fruto de amor. Vou engravidar, e estamos nos preparando para isso, inclusive, financeiramente”, disse a empresária ao jornal O Globo. “A legalização é uma forma de a criança e de nós mesmas não ficarmos desamparadas. Queremos usufruir os direitos de todos, como a licença-maternidade”.

Os tribunais do país ainda não criaram uma jurisdição específica para defender ou anular esse tipo de união, de forma que os argumentos a favor e contra dependem da interpretação de um leque de sentenças de casos particulares. O reconhecimento da união dessas três mulheres, por exemplo, teve como base os fundamentos usados pelo Supremo Tribunal Federal para reconhecer legalmente, em 2011, os casais homossexuais, segundo Fernanda de Freitas Leitão, a tabeliã que casou as três noivas. Desde o ano 2000, muito antes dos tribunais, Freitas vem reconhecendo a união de diversos casais gays, e comemorou publicamente o casamento das três pessoas de São Paulo. Há anos esperava “com ansiedade” poder ser madrinha de um trio em seu próprio cartório.

“O pilar que sustenta qualquer relação de família é o afeto. E essas três mulheres têm tudo para formar uma família: amor, uma relação duradoura, intenção de ter filhos... No direito particular, além disso, o que não está proibido está permitido. Não posso garantir direitos imediatos a elas, terão que lutar nos tribunais para realizar a declaração de renda conjunta ou contratar plano de saúde, mas agora estão protegidas”, disse Freitas.

A polêmica está servida mais uma vez desde a validação dessa união ante a possibilidade de um filho com três mães. O Colégio Notarial do Brasil, assim como fez em 2012, se desvincula das decisões individuais de seus membros, e não faltam juristas que defendem que essa união viola a Constituição. “Esse documento não vale nada. A Constituição brasileira estabelece expressamente que a união estável só pode ser constituída por duas pessoas, e o reconhecimento do Supremo das uniões homossexuais também se refere especificamente a duas pessoas”, diz a advogada especialista em direito familiar Regina Beatriz Tavares, que nega a possibilidade de o futuro filho dessas mulheres poder ter três mães registradas. “A poligamia no Brasil não tem qualquer apoio constitucional. Não defendo um único tipo de família, mas o princípio de união está restrito sempre a relações monógamas, a sociedade brasileira não aceita casamentos de três pessoas, sejam elas do sexo que forem. Cada um pode viver como quiser, mas atribuir direitos familiares significa institucionalizar a poligamia”, acrescenta Tavares, presidente da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS).

“Quando comecei a oficializar casais homossexuais acontecia o mesmo, me acusavam de fazer algo ilegal. Todas as uniões acabam abrindo o mesmo caminho. No começo há uma rejeição grande, depois a jurisprudência começa a reconhecer os direitos familiares, até que se normaliza. O Brasil, inclusive, já conta desde 2012 com casos de filhos com mais de dois pais, ao incluir, por exemplo, o doador conhecido de uma inseminação artificial. A história se repete agora”, reate a tabeliã Freitas.

A união oficial desse trio também contraria os pensamentos de qualquer um dos deputados conservadores que mantêm uma batalha no Congresso para restringir as políticas públicas ao modelo de família tradicional formada por um homem e uma mulher. A intenção desses parlamentares, cada vez mais próxima de ser aprovada no Senado, rema em direção contrária ao rumo tomado pela sociedade brasileira.

O modelo de casamento com filhos há anos não é majoritário nos 57 milhões de lares do país, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013. Os novos tipos de família (mães solteiras, país que cuidam sozinhos de seus filhos, casamentos sem filhos, uniões homossexuais...) representam 56,1% dos domicílios. Enquanto 75% dos lares eram formados por casais com filhos em 1980, esse número caiu para 43,9% em 2013. Atrás da opção pelo casamento tradicional aparecem os casais sem filhos (19,4%) e os lares com mulheres solteiras com filhos (16,5%).

O debate sobre o poliamor, apesar de ainda estar fora das estatísticas, é um assunto presente em várias capitais pelo Brasil onde se formam grupo, festas e atividades por meio das redes sociais. Especificamente no Rio de Janeiro, a reunião batizada como Poliencontro, onde são debatidas novas formas de entender as relações amorosas entre mais de duas pessoas, já realizou cerca de 10 edições com diferentes eventos em espaços públicos da cidade.