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sábado, 18 de maio de 2013

Rimbaud e a chuva



Chove muito neste momento. A chuva lava os telhados e inunda as ruas. O frio é agradável e adequado ao simpático, mas inquietante, "Uma Estadia no Inferno" do poeta Arthur Rimbaud, livro que pertence ao bom amigo Egidio Guerra - e que ainda não tive a oportunidade de devolver - e aproveito para reler neste dia de clima atípico na terra do sol e da luz. E se precisar de uma trilha sonora, djavan, e seu "Um dia frio" está ao alcance da mão.

"O tédio não é mais o meu amor. As raivas, as orgias, a loucura, da qual sei todos os impulsos e os desastres - todo o meu fardo foi descarregado. Vamos apreciar sem vertigem o tamanho de minha inocência." Arthur Rimbaud.


Uma Paris Sem Glamour



 O escritor Santiago Gamboa definiu - no seu livro "A Síndrome de Ulisses" - Paris como um lugar do qual todos querem partir e ao mesmo tempo fazem de tudo para permanecer. Só lendo a obra é possível compreender do que falava Gamboa e porque caracterizou assim uma das cidades mais admiradas do planeta. Sexo, drogas, poesia, literatura, música e um desencanto intercontinental se sobrepõem sob a garoa e as luzes de uma metrópole subterrânea que coexiste com a capital da região administrativa de Île-de-France.
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"...falou de seus carros e das namoradas, ou melhor, das mulheres que tinha comido - principalmente loiras e francesas..."
 
"...é verdade que existe uma zona de realidade onde são vividos os contrários, onde vai parar o vômito e o excremento daquelas belas mulheres e daqueles dândis que, em cima, na cidade solar representam os ideais do mundo..."

"...bem, eu disse, todos fazemos em algum momento uma descida aos infernos, ou várias descidas, e alguns ficam para viver neles ou não conhecem outra coisa e portanto não sabem que estão no inferno, mas você tem razão, o inferno existe e como existe. E existe aqui..."

 (Trechos de "A Síndrome de Ulisses de Santiago Gamboa - Editora Planeta do Brasil LTDA).
  



Leia o livro!











UM PODER BURLESCO (Uribam Xavier)

 
Para Sócrates, uma das ações que cabe ao político é guiar seus semelhantes na busca do Bem: do equilíbrio entre qualidade material de vida e elevação cultural. Do ponto de vista econômico e da justiça, guiar seus concidadãos para construção de uma cidade que elimine os dois extremos que colocam as relações sociais em processo de degeneração moral: a pobreza e a riqueza. Em nossa situação epocal, de um capitalismo em crise estrutural, não vislumbramos que os políticos e o sistema político possam impedir a proliferação dos mecanismos que produzem e reproduzem o processo de degeneração moral das relações sociais, mas acreditamos que outro futuro seja possível.

No Brasil, a democracia formal, utilizada como instrumento de participação, é um instrumento para manufaturar a vontade da maioria, fazendo com que as escolhas sejam feitas sem o conhecimento de causas. Os discursos, os debates passam apenas pelo domínio do empírico, pela repetição massificada e diversificada da visão dos que dominam, sem uma definição rigorosa do que se fala, age-se pelo pragmatismo. Assim, sem uma ampla igualdade de fala e expressão, quem tem o poder tem o direito, não só de se exprimir, mas de se impor. A lei que tentar barrar a criação de novos partidos não passa de uma manobra para o PT e seus aliados se perpetuarem no poder. O governo petista tem uma ampla base de apoio, mas não se empenhou em pautar uma reforma política profunda, colocando em curso uma minirreforma política golpista. Na mesma linha, a PEC-37, que limita a atuação do Ministério Público.

A ilusão da participação se efetiva na fala ou tematização constante dos problemas que afligem o cotidiano das pessoas, como o colapso do sistema público de saúde, a violência, a má qualidade do transporte público. Isso passa a ser falado, fofocado, mas sem que se criem mecanismos de exercício de poder sobre os quais se possa deliberar os destinos da cidade. A falta de uma esfera pública deliberativa que empodere os indivíduos, os transformando de moradores a cidadãos, gera apenas os conflitos de falas e discursos em que a violência material e simbólica se torna o único critério que prevalece diante de um poder público degenerado por se pautar por uma racionalidade instrumental.
Não é a toa que de janeiro a abril desde ano, 1.862 corpos, vítimas da violência, foram necropsiados em Fortaleza e Região Metropolitana [O Povo, 7.5.2013]. Fortaleza, que tem um prefeito calado, uma prefeitura como apêndice do governo estadual [PSB-PT] ficou nojenta, com donos que não comportam críticas profundas, e onde os dominantes querem colocar cabresto em todos. Essa cidade pede uma ação diferenciada, clama por um movimento de insurgência contra o projeto de dominação em curso e pela afirmação do bem viver.
 Uribam Xavier (Cientista político).
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Quando um intelectual levanta a voz oferecendo seu intelecto, prestígio e segurança institucional como fiadores políticos e sociais para um debate comprometido com o povo e com a sociedade em que vive, é preciso que - independente de divergências pontuais e ou mesmo profundas - façamos eco e nos somemos à tribuna, para não perder o momento histórico e desperdiçar os esforços, cada vez mais raros, dos intelectuais locais. Johnson Sales.


El coche e a cinderela ébano

Ainda era madrugada quando suas curvas generosas contornaram el coche. Madeixas escuras como a noite que encerrava-se em torno de nós. Marfim entre lábios carnudos e um olhar inquieto. Esses momentos divididos pela beleza natural de uma manhã que se mostra tardia e o eterno fascínio dos atributos de Afrodite são instantes irrepetíveis. Tais vivências grudam na gente como tatuagens que se pudesse fazer no espírito. E diante de tal circunstância não sabia eu, se era o coche que a transportava, comigo guiando; ou se na verdade era ela quem me dirigia , levando a reboque aquele veículo meio "guarda de valores", meio abóbora da cinderela.

Don Johnson de Sales.