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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
A amizade entre Padre Haroldo e Lúcio Alcântara (Ex-governador do Ceará)
Do Blog do ex-governador Lúcio Alcântara:
Fonte: http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/
Padre Haroldo partiu. Padre Haroldo ficou. Se não poderá mais ser
visto poderemos continuar a ouvi-lo nas palavras e mensagens que nos
legou em sua permanente luta em defesa da liberdade, da paz e dos pobres
tudo em nome do evangelho de Cristo.
Um domingo, há anos, queria ir à missa e então escolhi a de 10 horas
na igreja do Carmo, embora muito distante de minha casa. A surpresa
ficou por conta do celebrante, o Padre Haroldo Coelho, a quem conhecia
de nome e do proselitismo político. Terá sido a providência divina que
marcou nosso inusitado encontro?
A partir desse dia passei a frequentar, quando em Fortaleza, referido
templo no horário a que uma escolha aleatória me levara. Isso porque me
agradava a forma como aquele sacerdote celebrava o ofício. Seguramente
fui atraído por seu carisma.
Na verdade concelebrava, como repetia sempre, convocando todos fiéis a
participarem do ato litúrgico. Pouco afeito à rigidez dos rituais se
guiava mais pela intuição que remetia às origens do cristianismo que
pelo formalismo das normas introduzidas pelo centralismo hierárquico no
curso da longa história da igreja católica.
Dava a vida às palavras evitando o tom burocrático de textos
oficiais, improvisando às vezes, com uma alegria espontânea que fazia
contraponto à contundência de suas indignadas homilias. Os anos não
banalizaram seu desempenho. Dava-me a impressão de emprestar a cada
celebração a unção da primeira vez.
Foi assim, pela via religiosa, que nos aproximamos e viemos a
constituir sólida e fraterna amizade. Se não foi a política que nos uniu
também não nos separou. Divergências eleitorais nunca toldaram nosso
relacionamento. O que havia de comum entre nós em matéria política era
maior que desencontros circunstanciais. O que nos ligava, além do amor
ao Ferroviário, era a paixão de Cristo, muito maior que a paixão dos
homens.
De toda forma não deixava de causar admiração que optasse pela missa
do Padre Haroldo cuja reiterada contundência vergastava os políticos em
geral e de modo particular companheiros e partido a que eu então
pertencia.
Não era caso de masoquismo político. É que nunca tomei as críticas
como de caráter pessoal. Creio ter sido essa minha tolerância, expressão
de um espírito democrático, que acabou nos fazendo amigos.
É certo que para meu conforto emocional dividia as críticas em três grupos:
1- as justas, cuja correção não dependia de mim
2- as justas, sobre as quais eu tinha como atuar
3- e aquelas com as quais eu não concordava
O mecanismo mental que então desenvolvi pavimentou o caminho de nossa amizade.
Ele tinha vocação para o protagonismo. Por isso se manifestava sempre
sobre os temas mais variados, universais, a paz, a democracia, a
justiça, ou meramente locais. Nunca sonegou a franqueza de suas
opiniões, algumas polêmicas. Assim, acabou por se tornar um ícone da
cidade, uma referência, alguém cujo pensamento era sempre útil conhecer.
Essa é a história de uma amizade que, se prometida, pareceria
impossível. Nossa convivência sobreviveu airosamente ao poder e aos
embates eleitorais.
Dividimos solidários momentos delicados, angústias e temores,
fragilidades humanas, que provam a consistência das relações pessoais
que empregamos, ele e eu, na busca do bem comum e da assistência aos
necessitados que nos procuraram.
Sempre com a alegria do menino que sobreviveu no sacerdote feliz com
os pequenos prazeres da vida, o contentamento estampado no rosto quando
comemorava o dia dos seus anos.
Padre Haroldo certamente lá do céu lança sobre nós seu sorriso maroto
e o olhar curioso na expectativa do que iremos fazer com o que nos
transmitiu. Sua missão aqui na terra está concluída. A tarefa não. Agora
é conosco, se queremos ser guardiões do seu ensinamento.
Fonte: http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/
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