Se no capitalismo o produto do trabalho social
sempre é capturado de forma individual e os resultados de esforços coletivos
são privatizados de maneira cínica. E toda essa aviltante farsa é encarada de
forma “natural” pela cultura burguesa. Cada vez mais se multiplicam os
holofotes sobre essa parte obscura do mundo do trabalho e da geração de
riquezas. E para lançar mais luz sobre a questão, convém fazer uso do conceito
de Inteligência
Coletiva.
O conceito
da inteligência coletiva foi criado a partir de alguns debates realizados pelo filósofo
e sociólogo Pierre Lévy relacionados às tecnologias da inteligência.
Caracteriza-se pela nova forma de pensamento sustentável através de conexões
sociais que se tornam viáveis pela utilização das redes abertas de computação
da internet. As
tecnologias da inteligência são representadas especialmente pelas linguagens,
os sistemas de signos, recursos lógicos e pelos instrumentos dos quais nos
servimos. Todo nosso funcionamento intelectual é induzido por essas
representações. Segundo o criador do conceito de inteligência coletiva Pierre
Lévy, os seres humanos são incapazes de pensar só e sem o auxílio de qualquer
ferramenta. A
inteligência coletiva seria uma forma de o homem pensar e compartir seus conhecimentos
com outras pessoas, utilizando recursos mecânicos como, por exemplo, a
internet. Nela os próprios usuários é que geram o conteúdo através da
interatividade com o website.
Para Pierre Lévy in A inteligência coletiva: por uma antropologia do
ciberespaço: “É uma
inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada,
coordenada em tempo real, que resulta em mobilização efetiva das competências.
Acrescentemos à nossa definição este complemento indispensável: a base e o
objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo
das pessoas, senão o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas. Uma
inteligência distribuída por toda parte: tal é o nosso axioma inicial. Ninguém
sabe tudo, todos sabem alguma coisa, todo o saber está na humanidade”.
Já Steven Johnson,
aborda a inteligência coletiva como emergência (fenômeno não teleológico, isto é, não é
dirigido por um objetivo final. Em outras palavras, fez surgir um sistema sem
que houvesse qualquer tipo de projetista do mesmo. Simplesmente, como o próprio
nome o diz, o fez emergir). Johnson
defende que esse fenômeno ocorre em relação ao desenvolvimento das cidades.
Para Johnson, “... a cidade, como o formigueiro, é também
um fenômeno emergente. E tem, no seu interior, seus próprios sistemas
emergentes; os das calçadas, das vizinhanças, das praças, dos shoppings, nos quais interagem de
modo informal e improvisadamente os cidadãos que nela habitam. A ordem e a
vitalidade das cidades se definem também e em grande parte nesta forma social
emergente”.
É o mundo das interconexões locais
“conduzindo à ordem global; componentes especializados criando uma inteligência
não especializada; comunidades de indivíduos solucionando problemas sem que
nenhum deles saiba disto”. (p. 69) A cidade é o conjunto das múltiplas
interações locais que se misturam e formam a totalidade da vida urbana, apesar
de ou ao lado com todos os planejamentos centralizados de tipo top-down (Hierarquizado,
de cima pra baixo).
A cidade como um “sistema emergente” é um “padrão no
tempo”. “A cristalização de um fenômeno bottom-up (isto é, quando os componentes se organizam "espontaneamente",
naturalmente, sem obedecer a nenhuma "ordem" superior. Sem nenhum
"chefe" para obrigá-los a fazê-lo) que se mantém no tempo” é uma das principais “leis da emergência”.
Outra igualmente importante é que um sistema emergente é capaz de aprender,
quer dizer, ele vai ficando mais inteligente com o tempo. Para Johnson a cidade se torna “mais esperta, mais útil para seus
habitantes. E aqui, outra vez, a coisa mais extraordinária é que esse
aprendizado emerge sem que ninguém tenha conhecimento dele”. (p. 79)
Conclusão:
Por tudo isso se
pode concluir que o conhecimento da inteligência coletiva além de representar
uma importante ferramenta pedagógica para a desalienação do trabalho e o
fortalecimento da mobilização em torno da coletivização dos resultados deste. É
também uma admirável força de transformação, ora adormecida, ora em plena
atuação, mas despercebida. E por isso mesmo, subutilizada nos processos políticos,
culturais e sociais. Portanto impõe-se como tarefa de todos nós que já nos
esforçamos para apreender, desenvolver e aplicar os conceitos de Economia
Criativa e Trabalho Imaterial, avançarmos para buscar o domínio de mais
esse conceito que nos servirá de ferramenta para compreensão e fomento a ações
de emergência
envolvendo cenários de desenvolvimento local de comunidades, territórios e
bacias criativas.
Se a emergência (que também representa um
tipo de inteligência coletiva) ao se manifestar de forma espontânea e sem um
objetivo pré-definido, já demonstra tamanha força. Com o nível adequado de
direcionamento e disciplina, esta força terá o poder de modificar realidades de
cima para baixo, de forma democrática e colaborativa e com a justa socialização
do trabalho e de seus resultados. Sendo assim, aos que Corroboram essa visão, fica a tarefa imediata de empenhar-se nessa nova
e necessária empreitada.
Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_coletiva
JOHNSON, Steven.
2003. Emergência – a vida integrada de
formigas, cérebros, cidades e softwares. Tradução: Maria Carmelita Pádua
Dias, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 231 p.
http://www.mundoeducacao.com.br/informatica/inteligencia-coletiva.htm
Johnson Sales
Fellow da Rede Mundial Ashoka Empreendedores Sociais
Consultor em Tecnologias Sociais e Advocacy da Embaixada Social
Conselheiro Administrativo dos Centros Urbanos de Cultura, Esporte e Lazer (CUCAS) da Prefeitura de Fortaleza
Fellow da Rede Mundial Ashoka Empreendedores Sociais
Consultor em Tecnologias Sociais e Advocacy da Embaixada Social
Conselheiro Administrativo dos Centros Urbanos de Cultura, Esporte e Lazer (CUCAS) da Prefeitura de Fortaleza