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domingo, 15 de abril de 2012

Inteligência Coletiva: A cooperação inevitável e inegável no trabalho e na produção humana


 Se no capitalismo o produto do trabalho social sempre é capturado de forma individual e os resultados de esforços coletivos são privatizados de maneira cínica. E toda essa aviltante farsa é encarada de forma “natural” pela cultura burguesa. Cada vez mais se multiplicam os holofotes sobre essa parte obscura do mundo do trabalho e da geração de riquezas. E para lançar mais luz sobre a questão, convém fazer uso do conceito de Inteligência Coletiva.

O conceito da inteligência coletiva foi criado a partir de alguns debates realizados pelo filósofo e sociólogo Pierre Lévy relacionados às tecnologias da inteligência. Caracteriza-se pela nova forma de pensamento sustentável  através de conexões sociais que se tornam viáveis pela utilização das redes abertas de computação da internet. As tecnologias da inteligência são representadas especialmente pelas linguagens, os sistemas de signos, recursos lógicos e pelos instrumentos dos quais nos servimos. Todo nosso funcionamento intelectual é induzido por essas representações. Segundo o criador do conceito de inteligência coletiva Pierre Lévy, os seres humanos são incapazes de pensar só e sem o auxílio de qualquer ferramenta. A inteligência coletiva seria uma forma de o homem pensar e compartir seus conhecimentos com outras pessoas, utilizando recursos mecânicos como, por exemplo, a internet. Nela os próprios usuários é que geram o conteúdo através da interatividade com o website.

Para Pierre Lévy in A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço: É uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em mobilização efetiva das competências. Acrescentemos à nossa definição este complemento indispensável: a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas, senão o culto de comunidades fetichizadas ou hipostasiadas. Uma inteligência distribuída por toda parte: tal é o nosso axioma inicial. Ninguém sabe tudo, todos sabem alguma coisa, todo o saber está na humanidade”.

Já Steven Johnson, aborda a inteligência coletiva como emergência (fenômeno não teleológico, isto é, não é dirigido por um objetivo final. Em outras palavras, fez surgir um sistema sem que houvesse qualquer tipo de projetista do mesmo. Simplesmente, como o próprio nome o diz, o fez emergir). Johnson defende que esse fenômeno ocorre em relação ao desenvolvimento das cidades. 

Para Johnson, “... a cidade, como o formigueiro, é também um fenômeno emergente. E tem, no seu interior, seus próprios sistemas emergentes; os das calçadas, das vizinhanças, das praças, dos shoppings, nos quais interagem de modo informal e improvisadamente os cidadãos que nela habitam. A ordem e a vitalidade das cidades se definem também e em grande parte nesta forma social emergente”.

É o mundo das interconexões locais “conduzindo à ordem global; componentes especializados criando uma inteligência não especializada; comunidades de indivíduos solucionando problemas sem que nenhum deles saiba disto”. (p. 69) A cidade é o conjunto das múltiplas interações locais que se misturam e formam a totalidade da vida urbana, apesar de ou ao lado com todos os planejamentos centralizados de tipo top-down (Hierarquizado, de cima pra baixo).
 
A cidade como um “sistema emergente” é um “padrão no tempo”. “A cristalização de um fenômeno bottom-up (isto é, quando os componentes se organizam "espontaneamente", naturalmente, sem obedecer a nenhuma "ordem" superior. Sem nenhum "chefe" para obrigá-los a fazê-lo) que se mantém no tempo” é uma das principais “leis da emergência”. Outra igualmente importante é que um sistema emergente é capaz de aprender, quer dizer, ele vai ficando mais inteligente com o tempo. Para Johnson a cidade se torna “mais esperta, mais útil para seus habitantes. E aqui, outra vez, a coisa mais extraordinária é que esse aprendizado emerge sem que ninguém tenha conhecimento dele”. (p. 79) 
 
Conclusão:
Por tudo isso se pode concluir que o conhecimento da inteligência coletiva além de representar uma importante ferramenta pedagógica para a desalienação do trabalho e o fortalecimento da mobilização em torno da coletivização dos resultados deste. É também uma admirável força de transformação, ora adormecida, ora em plena atuação, mas despercebida. E por isso mesmo, subutilizada nos processos políticos, culturais e sociais. Portanto impõe-se como tarefa de todos nós que já nos esforçamos para apreender, desenvolver e aplicar os conceitos de Economia Criativa e Trabalho Imaterial, avançarmos para buscar o domínio de mais esse conceito que nos servirá de ferramenta para compreensão e fomento a ações de emergência envolvendo cenários de desenvolvimento local de comunidades, territórios e bacias criativas.

Se a emergência (que também representa um tipo de inteligência coletiva) ao se manifestar de forma espontânea e sem um objetivo pré-definido, já demonstra tamanha força. Com o nível adequado de direcionamento e disciplina, esta força terá o poder de modificar realidades de cima para baixo, de forma democrática e colaborativa e com a justa socialização do trabalho e de seus resultados. Sendo assim, aos que Corroboram essa visão, fica a tarefa imediata de empenhar-se nessa nova e necessária empreitada. 


Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_coletiva
JOHNSON, Steven. 2003. Emergência – a vida integrada de formigas, cérebros, cidades e softwares. Tradução: Maria Carmelita Pádua Dias, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 231 p.
http://www.mundoeducacao.com.br/informatica/inteligencia-coletiva.htm


 Johnson Sales
Fellow da Rede Mundial Ashoka Empreendedores Sociais
Consultor em Tecnologias Sociais e Advocacy da Embaixada Social
Conselheiro Administrativo dos Centros Urbanos de Cultura, Esporte e Lazer (CUCAS) da Prefeitura de Fortaleza