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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012: O fantástico ano que não queria acabar!

Chegamos ao último dia de um ano incomum! Foram dias "enferrujados", entremeiados por perfume de pétalas de rosas. Um ano fúnebre e também pirotécnico. Alegre e fatal. Um ano de derrotas impensadas e vitórias com pouco mérito. Dias de luta, momentos de prazer. Um ano marcante na nossa história. Um ano que se recusa a terminar e que certamente lançará suas consequências ao futuro imediato. Um ano que começou "rojo" e terminou  "yellow" na cidade à beira-mar. Dois mil e doze deixará saudades em muitos corações e um desejo de amnésia em outros tantos. Mas nada é absoluto para o bem, e tampouco para o seu oposto. Um ano de injustiças e de justiças falsas, politizadas, satirizadas, parodiadas, encomendadas. Um ano em que a elite "foi à forra" com direito a um ridículo escárnio e a um cruel flagelo público de seus desafetos. Um ano de panacéias mil. Um ano em que pagamos muito caro por nossos erros e usufruimos magnificamente das nossas acertadas decisões. Um ano "lleno" de decepções; reivenções; superações e esperanças. Um ano visitado e revisitado por "Aglaia"; "Tália" e "Eufrosina". Sim! Um ano de Cárites. Também um ano vivo, intenso, "de verdade"! Dois mil e doze foi ano impreciso, inexplicável a não ser por si mesmo. Como aliás, é uma característica própria de sua mãe: A modernidade. Este ano tão duro e ao mesmo tempo flexível, tão amargo e em certos casos, doce. Um ano "par" que se mostrou "ímpar" em tantos aspectos. Um ano como outro qualquer? Não! Um ano único, como todos os outros. E eu, que aprecio as contradições, as antíteses e as dialéticas à la Marx, não poderia jamais maldizê-lo. Antes, devo saudá-lo! Dois mil e doze é um daqueles anos sobre o qual se pode afirmar que não se encerra na vulgar divisão do tempo em fatias, que os humanos ousaram empregar. Esse ano, não se exaure nem em si mesmo. 2013 vem ai! E devido a 2012, e muito mais por isso, do que por qualquer indício do que será, dois mil e treze se parecerá mais do que qualquer outro com "o primeiro ano do resto de nossas vidas"! Mas certamente, quando raiar o sol de primeiro de Janeiro do novo ano, ainda assim, continuaremos com a impressão de que dois mil e doze ainda não terminou. Muito embora, de fato, a vida já o tenha arquivado nas gavetas do passado. Que venha então o mais belo, promissor, redentor, compensador e agradável ano do milênio. 2013 é nosso! E será bálsamo para aliviar as dores causadas pelo inesquecível ano que passou. Pois é no final das caminhadas mais duras e exaustivas que nos aguardam os mais lindos e acolhedores oásis e os prazeres mais perenes. Mais do que nunca "somos feitos de acreditar"!

sábado, 29 de dezembro de 2012

Especial para o Terceiro Setor (Um panorama situacional e do envolvimento das empresas)



Valores, pensamento no longo prazo e cuidado na relação com a comunidade são características intrínsecas aos institutos e fundações empresariais.
Estrutura de planejamento, estabelecimento de metas e mensuração de resultados integram a rotina das empresas.
A união, portanto, dessas qualidades complementares certamente poderia ser chamada de evolução.
Apesar de não estar totalmente consolidada, essa noção vem tomando corpo ao longo dos últimos 20 anos, desde a ascensão do terceiro setor até o entendimento mais amplo da noção de sustentabilidade.
De acordo com Fernando Rossetti, secretário-geral do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE), esse processo gerou uma confusão conceitual. “Há uma mudança completa no papel do investimento social privado. Algumas empresas já fizeram essa mudança, outras estão tateando o campo e outras ainda nem começaram. Quando surgiu o termo sustentabilidade, tinha-se a sensação de que o investimento social seria apenas mais um ‘penduricalho’, à parte da gestão do negócio”, recorda.
Hoje, o questionamento inevitável é: se a empresa deve ser, de fato, um ator social, manter institutos ou fundações como um ‘braço social’ torna-se  contraditório?
Divulgado durante o último congresso do GIFE, em março deste ano, o estudo O Papel dos Institutos e Fundações na Atuação Socialmente Responsável da Empresa vem lançar luz sobre a questão. “Se pensarmos que o investimento social privado corresponde a uma parte da consciência da empresa, esse recorte não pode ser feito, não se divide a consciência de um ser. Muitas empresas estão intuindo que em seus institutos e fundações há conhecimentos, habilidades e estratégias significativas a serem incorporadas. Essa é uma possibilidade. Porém, continua o desafio de reconhecê-los e, além disso, se apropriarem e reintegrarem essas identidades à sua própria identidade”, diz o documento.
As maneiras como as organizações estão realizando esse processo e as mudanças no que diz respeito à integração do investimento social privado no core business são algumas das discussões desta reportagem especial.

 Evolução conceitual
No início dos anos 90, o terceiro setor era visto como destinação certa para o investimento social das empresas, muito ligado à questão da filantropia. Em 1994, o livro de Lester Salamon, The Emergent Nonprofit Sector, representou um marco na pesquisa metódica e seu resultado chamou a atenção de estudiosos da Economia, Sociologia e do setor público por mostrar como grandes economias movimentavam recursos e geravam empregos a partir de suas organizações da sociedade civil.
“Esses estudos foram objeto estratégico para influenciar a mudança no Departamento de Estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU) que, desde 1948, utilizava uma metodologia para contas nacionais excluindo o terceiro setor. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, em 2004, o primeiro trabalho abrangente sobre o tema, com colaboração do GIFE”, conta Luiz Carlos Merege, presidente do Instituto de Administração para o Terceiro Setor (IATS).
No início da década de 2000, houve uma valorização das ações sociais pelas empresas. Esse cenário influenciou movimentos de pensadores que vinham falando sobre a necessidade de o segundo setor ir alem do objetivo principal da geração de lucro e produção de bens. “As empresas passaram a investir de forma crescente em seus projetos sociais por meio de fundações ou da criação de uma área específica dentro da organização, seguindo a linha de pensamento do Instituto Ethos”, lembra Merege.
Havia, entretanto, uma discussão sobre a necessidade de independência desse investimento, e muitas adotaram o modelo americano de criação de institutos, constituindo um corpo de trabalho totalmente separado – um modelo hoje em fase de transição.

“Há uma mudança significativa na atuação das fundações e no próprio olhar da empresa sobre elas, que representam um elemento de capilaridade e muitas vezes estão trabalhando diretamente com o público-alvo. O conhecimento revertido para a gestão de negócios tem aumentado cada vez mais e se tornado mais significativo”, destaca Marina Grossi, presidente-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
À medida que o conceito de sustentabilidade ganha força, a dissociação entre investimento social e o cerne dos negócios começa a se mostrar incoerente.
“O distanciamento entre empresas e institutos é cada vez menor. Não faz mais sentido a percepção de que estar próximo poderia caracterizar interesse da empresa com vistas ao negócio e não com foco no interesse público. Tornou-se evidente que a parceria fortalece a atuação do instituto e vice-versa, isto é, pode contribuir para a sustentabilidade do negócio”, avalia Wilson Mello, vice-presidente de Assuntos Corporativos da BR Foods.

As empresas mais evoluídas já consideram o pilar social de maneira integrada ao seu negócio, em seus produtos, no dia a dia. “Começo a concordar que as organizações sem institutos talvez não venham a criá-los devido à crença da questão social já estar contemplada pela sustentabilidade. Ainda vivemos um momento onde tudo está meio esquizofrênico. Mas, se reconhecermos que estamos trocando o pneu com o carro em movimento, há uma perspectiva otimista“, pondera Graziella Comini, professora-doutora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP) e coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Administração em Terceiro Setor da Fundação Instituto de Administração (Ceats/FIA).

Troca de ideias e ideais
Até pouco tempo atrás, quando uma empresa pensava em uma nova instalação em uma comunidade, por exemplo, pouco conhecia do seu dia a dia e de como suas obras poderiam influenciar o espaço.
Aos poucos, desenvolveu-se a percepção de que as fundações e institutos próximos a esses stakeholders poderiam oferecer uma visão de planejamento mais adequado às ações, reduzindo riscos para o negócio.
Com uma cobrança maior por parte da sociedade, agregar valores comunitários também passou a trazer ganhos de imagem para a empresa. O setor privado viu-se diante da crescente necessidade de avaliar ativos intangíveis.
O GIFE usa o termo “unidade de inteligência social” da empresa para denominar uma fundação – justamente a ideia de que repertório, competências e rede de relacionamentos resultantes da natureza da atividade comunitária podem ser úteis para o negócio. “Um banco que está pensando em produtos financeiros para a nova classe média brasileira pode chamar a fundação para ajudá-lo a conceber isso da forma mais adequada ao público-alvo. Na área de infraestrutura, a fundação pode contribuir para uma mineradora de impacto socioambiental grande estruturar um plano para lidar melhor com a comunidade e o meio ambiente. Então, por meio dessas competências, o negócio pode tornar-se mais sustentável e manejar melhor os seus impactos”, exemplifica Rossetti.
No sentido de absorver esse conhecimento inerente às fundações, o Instituto Camargo Corrêa tem atuado, desde 2007, no nível da holding – alinhando o investimento social de 20 companhias do grupo. Cada empresa se capacita e customiza um projeto do portfólio de acordo com a própria realidade. Quando um processo tem início em determinada comunidade, o instituto constitui um comitê para pensar formas de envolvimento empresa/comunidade e identifica lideranças locais para convidá-las a integrar o projeto. Após essa etapa, escolhe-se uma boa prática já adotada no Brasil e o instituto promove a interação entre os comitês, visitas e debates para replicagem do modelo. Há também oficinas especificas para elaboração de projetos e a busca de parceiros locais. “O grande desafio é fazer as empresas entenderem que a responsabilidade social deve fazer parte dos negócios e não ser apenas um ‘braço’. E o papel do instituto é mostrar os caminhos para envolvê-las e ajudá-las a pensar no assunto”, destaca Francisco Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa.
Como algumas empresas permanecem por muitos anos nas localidades onde atuam, o desenvolvimento dessas regiões pode gerar diversos benefícios mútuos, como a descoberta de talentos locais para trabalhar na própria companhia.
“Preocupar-se com a elevação da qualidade de ensino dos municípios é um investimento social descolado da empresa diretamente, pois está se investindo na comunidade, em princípio. Mas há interesse do negócio porque, na medida em que se eleva a escolaridade de uma região, pode-se contratar mais facilmente, evitando deslocamento e desistência de colaboradores.
Além disso, outras organizações – inclusive concorrentes -, são beneficiadas com o aumento da qualidade da mão de obra local”, reflete Ricardo Piquet, diretor-presidente da Fundação Vale. A empresa patrocina o Movimento HotSpot Brasil de incentivo a novos talentos em diversas área profissionais, com foco em inovação.
Por ter um olhar para o planejamento mais efetivo no longo prazo, os institutos e fundações podem ampliar essa consciência aos colaboradores da empresa, auxiliando na melhoria de sua gestão. Quando uma nova indústria da Votorantim vai ser aberta, por exemplo, o instituto trabalha junto ao negócio diagnosticando impactos e oportunidades para alavancar o desenvolvimento do território; questiona, entre outros aspectos, quais ações são necessárias para fazer com que os empregos gerados sejam ocupados por residentes da região e, a partir disso, monta programas para sanar as fragilidades identificadas.
Como o instituto entra em ação antes do início da obra e pode permanecer após a sua saída, também investe em ações para evitar a dependência da comunidade da empresa. “A presença da companhia gera crescimento econômico por natureza. Percebemos isso observando os indicadores dos municípios. Nosso desafio é transformar esse processo em desenvolvimento sustentável”, destaca Rafael Gioielli, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Votorantim.
Com o programa Futuro em Nossas Mãos, o instituto qualifica colaboradores da comunidade – principalmente para a construção civil -, e acaba absorvendo esses profissionais por meio da articulação com os parceiros de construção de suas fábricas. Já o programa Evoluir forma jovens para postos de trabalho dentro da empresa: eles estagiam em outras unidades e voltam para a comunidade no início da operação. “Para a empresa isso é muito importante porque não precisamos levar funcionários de outras regiões”, destaca Gioielli.

O Instituto Votorantim foi criado em 2002 com o objetivo de qualificar e definir o foco do investimento social do grupo. “A Gerência Geral de Sustentabilidade da empresa estipula os projetos socioambientais dentro do ciclo de planejamento estratégico para todos os negócios, enquanto o instituto participa da elaboração dos temas e fornece as metodologias e tecnologias adequadas para desenvolvê-los no âmbito social”, destaca David Canassa, gerente geral de Sustentabilidade da Votorantim Industrial.
Para viabilizar seus projetos, o instituto prepara funcionários da empresa para a gestão em cada unidade de atuação. Nesse processo, os colaboradores também começam a ter noção da importância de considerar os aspectos socioambientais para o sucesso do negócio. “No desenvolvimento de uma planta nova, por exemplo, um engenheiro pensará na logística para a produção sair da fábrica e chegar à estrada da forma mais rápida, podendo desconsiderar os impactos na comunidade. É o papel dele. O instituto consegue enxergar que, muitas vezes, é preciso fazer um desvio, pois a empresa pode ter prejuízos posteriores, como ações de indenização das famílias afetadas”, exemplifica Gioielli.
Esse cuidado no planejamento, considerando os impactos no longo prazo, é crucial para a perenidade dos negócios. “Se uma empresa não entende sua realidade como um todo, sofrerá as consequências dessa falta de conhecimento. Qualquer companhia cuidadosa está construindo relações de respeito para não correr esse risco”, enfatiza Christopher Pinney, senior fellow do The Aspen Institute, voltado ao fomento de valores com base em liderança e na discussão de questões sociais críticas.
Com base no trabalho que vem realizando nos Estados Unidos, Pinney identificou que o grande potencial das fundações está justamente em educar a companhia para a realidade social na qual ela opera e ajudá-la a entender onde precisa mudar seu comportamento para tornar-se mais efetiva. “Há um grande espaço para os institutos desempenharem um papel mais catalisador. No modelo tradicional, eles operam completamente separados da empresa. Agora, precisamos de um alinhamento muito maior”, avalia.
Porém, tanto institutos e fundações como as áreas de sustentabilidade das empresas começaram apenas recentemente a exercer alguma influência sobre a gestão dos negócios. E, na medida em que se profissionalizam, desempenham um papel fundamental para a concepção de projetos integrados.
A partir da evolução dos conceitos, o Instituto Algar readaptou sua estrutura de atuação. “Evoluímos nosso trabalho quando nossa responsabilidade passou do investimento social privado para a sustentabilidade. Há cinco anos o instituto é responsável, em todo o grupo, pelo programa de sustentabilidade na gestão dos negócios”, destaca Camila Fioranelli, coordenadora interina do Instituto Algar. O programa Algar Sustentável, sob sua coordenação, estabelece um comitê focado no tema em cada empresa, composto por um colaborador de cada área.
Segundo Pinney, nos EUA esse tipo de alinhamento entre a corporação e o instituto tem crescido significativamente. Companhias como IBM desenvolvem ações conjuntas nos níveis de filantropia, instituto e empresa, construindo uma rede dinâmica e eficiente. “A grande vantagem de se ter uma mediação fora da companhia é a criação de um canal de comunicação mais aberto, transparente e com maior credibilidade”, avalia.


Desafios e soluções em rede
Cada vez mais a atuação dos institutos e fundações estará em consonância com as estratégias de suas empresas mantenedoras. Entretanto, fazer com operem dentro dos padrões tradicionais do mundo corporativo poderia significar um erro, até porque o modelo de gestão tradicional das empresas ainda encontra-se atrasado em relação às questões socioambientais. Por outro lado, alguns aspectos práticos dos negócios podem contribuir para uma atuação mais efetiva de seus institutos. O desafio é construir linguagem e dinâmica conjuntas.
“A mentalidade dos dois grupos é de independência e segmentação. Pouco a pouco novas brechas estão sendo abertas – de forma ainda muito tímida, se pensarmos no potencial de sinergia e na geração de novos negócios”, reflete Luiz Ros, gerente da área de Oportunidades para a Maioria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Profissionais que hoje atuam nas fundações e vieram do terceiro setor podem não ter tanta abertura na hora de tratar da integração com o setor privado. “Eles muitas vezes tendem a desprezar ou não colocar a relação com a empresa como prioridade, preferem a postura de ‘deixa que eu faço e quanto menos intromissão, melhor’. Nessa ânsia por autonomia, muitas vezes descolam-se do negócio. Mas o entendimento é muito importante para disseminar o que a fundação está fazendo, envolver e conscientizar colaboradores em outro nível, não apenas por meio do voluntariado”, destaca Graziella, do Ceats/FIA.
O movimento de conscientização na maneira de fazer negócios ainda não chegou à dimensão formal das empresas, mas já está latente nos profissionais que as compõem. Segundo Rossetti, do GIFE, as trocas existentes e a riqueza do relacionamento evidenciam que essa separação é apenas um jeito antigo de pensar e agir e, na medida em que evoluírem, trarão benefícios a todos. “Ainda há necessidade de aprender muito mais com a escuta da comunidade sobre a humildade necessária para lidar com processos complexos como educação, saúde pública e meio ambiente. As soluções para esses problemas não são simples”, avalia.
A mudança da cultura organizacional, que abrange desde a percepção de tempo à razão de existir, pode ser lenta. Porém, não há mais tantas resistências. Nesse sentido, o Instituto Votorantim desenvolveu, em 2008, a metodologia de Engajamento das Partes Interessadas, com a aplicação de cases-piloto, em 2009 e 2010. “Durante esse processo, integrantes da atual Gerência Geral de Sustentabilidade estiveram junto com o instituto nas operações para a aplicação in loco. Ajustes foram feitos e hoje temos uma metodologia padrão para todos os nossos negócios”, revela Canassa, da Votorantim Industrial.
Nessa integração entre empresa e instituto, alguns cuidados devem ser observados. Para Graziella, do Ceats, a energia de business de “tudo para ontem” pode atropelar o ritmo das fundações, fazendo com que se perca a sua contribuição mais preciosa: as parcerias arranjadas com cautela e no tempo certo. Outras características como negociação, trabalho colaborativo e o olhar cuidadoso para as necessidades do outro fazem parte do planejamento estratégico de uma fundação.
“O foco da empresa em resultado é muito positivo. O lado negativo é usar a mesma noção para o tempo: ou seja, o resultado no curto prazo. No social não se obtém isso: precisam-se considerar as diferentes métricas, tempos e movimentos. O receio também é trazer pessoas do negócio que desconhecem a dinâmica social, muito mais colaborativa, participativa e lenta no processo decisório.”
Mostrar o resultado dessa integração para estimular o trabalho das empresas também representa um desafio. É o que o Instituto Camargo Corrêa visa fazer estruturando um estudo de caso – no município de Pedro Leopoldo (MG) – que evidencie os benefícios do investimento social para o poder público, sociedade e, principalmente, para o negócio.
A unidade de cimentos da empresa instalada na região teve a maior produtividade no ano de 2011 – exatamente quando mais investiu no social e mais funcionários foram envolvidos nos projetos. “A própria pesquisa de clima corporativo já apontou uma melhoria significativa depois do investimento social. Hoje, ainda são raros os exemplos evidentes, mas esperamos com isso estimular cada vez mais as empresas a investirem nessa interação”, destaca Azevedo, do Instituto Camargo Corrêa.
Colocar na ponta do lápis essas melhorias é o caminho para estimular os trabalhos em parceria e mudar o olhar das empresas sobre suas fundações. “O fato de se estar precisando melhorar esses dados permite também que a empresa consiga enxergar aquilo como parte de seu negócio”, avalia Marina Grossi, do CEBDS.
Para engajar de fato os colaboradores, os temas socioambientais não podem estar distantes do seu dia a dia. “A empresa e as pessoas sentem-se envolvidas quando o tema tem a ver com o que fazem. Estamos em um momento na sociedade no qual temos de aprender muito com a experiência de cada um, precisamos nos considerar parte do problema e da solução. Por isso é muito importante criar estratégias para que se consiga fazer esse debate dentro da empresa”, destaca Graziella.
Sair do discurso e ir para a prática representa outra fronteira a ser ultrapassada – particularmente pelos institutos. “O desafio é ir além de um discurso poético, apesar de a crença ser muito importante. Mas o instituto, hoje, é tratado como parte do negócio e precisa dar resultado. A diferença é que o resultado dele não está no lucro, e sim na evolução dos projetos”, avalia Eliane Garcia Melgaço, vice-presidente de Marketing e Sustentabilidade da Algar.



Repensando o terceiro setor

Com a ascensão da sustentabilidade, muitas rupturas aconteceram dentro e fora do âmbito de atuação das empresas. Agora, fundações e institutos, juntamente com o terceiro setor, precisam rever seus papéis. “Se no caminho de tornarem-se cada vez mais atores sociais as empresas incorporarem muito do que os institutos e fundações fazem hoje, de certa forma essas instituições não precisariam mais existir; no entanto poderiam rever sua vocação”, pontua o estudo do GIFE.
E, na medida em que os negócios redirecionam seus recursos para institutos e fundações, o terceiro setor perde voz; perde seus profissionais qualificados para as empresas, onde passam a receber salários mais altos. Surge aí um ponto que exige reflexão, justamente para que esse processo não se torne mais um aspecto negativo do mundo globalizado. Há uma crise na captação de recursos pelo terceiro setor gerada exatamente pelo novo posicionamento das empresas.
“Atualmente, há uma tendência cada vez maior de as companhias investirem em seus projetos empresariais. Precisaríamos de um estudo estatístico para saber se elas investem na esfera social por meio de fundações e institutos, mas o investimento privado no terceiro setor diminuiu depois do movimento da sustentabilidade. Hoje, as organizações da sociedade civil estão se debatendo em busca de recursos”, alerta Merege, do Iats.
Uma saída está na profissionalização das ONGs para que busquem outras formas da captação financeira e diversifiquem suas fontes de forma eficiente. “Do ponto de vista estratégico seria importante que as empresas se unissem às ONGs nas comunidades para obterem resultados mais velozes por meio dessas parcerias. O governo também não despertou para a importância das organizações da sociedade civil como forma de investir”, avalia Merege.
Nessa fase de transição do papel das ONGs, as empresas podem ajudar muito na melhoria de gestão, de acordo com Pinney, do Aspen Institute.
“Ambos os lados devem ser claros sobre seus objetivos e encontrar metas comuns nos projetos, além de estabelecer como vão medir o progresso nesse sentido. Então, há alguns passos básicos para negociar uma boa parceria – e nisso as empresas têm experiência.”
A Ford Foundation é um exemplo de fundação que conseguiu caminhar com as próprias pernas e contribuir para a sociedade. Criada por Edson Ford, em 1936, tornou-se completamente independente a partir de 1972.  Ao longo dos anos, tem documentado as formas como as comunidades colaboram para a gestão de recursos naturais, principalmente nas florestas.
Pablo Farias, vice-presidente do programa Ativos e Oportunidades Econômicas da Ford Foundation, conta como as comunidades da Amazônia têm ajudado na redução do desmatamento, tanto pelo reconhecimento de sua importância e dos direitos dos indivíduos quanto pelo entendimento de que o manejo das florestas é central para criar novas políticas e mecanismos para o gerenciamento desses recursos. “Esse tipo de capacidade é única da filantropia – ter flexibilidade para atuar sem as restrições do espaço governamental e identificar onde a inovação está acontecendo. Nenhum outro ator tem capacidade de fazer isso. Nesse processo, as empresas desempenham um papel chave para estreitar diferentes vozes da sociedade civil”, avalia.


Futuro compartilhado
Diante de um quadro que começa a exibir contornos mais evidentes, algumas possibilidades se explicitam para o futuro. Empresas inteiramente sustentáveis ainda são utopia, mas podem deixar de ser. Mesmo assim, parte delas deve manter seus institutos.
E, outra parte, também deve manter o investimento social de forma dissociada da empresa.  Para Graziella, do Ceats, gerir uma empresa e, ao mesmo tempo, manter certa autonomia para lidar com a dinâmica social podem ser atividades complementares.
“A sustentabilidade acabou unindo dois lados, incorporando às empresas ações de institutos – às vezes de maneira abrupta. Agora, com o movimento mais maduro e as estratégias de sustentabilidade no core business, essas instituições terão mais asas para voar no sentido de resolver objetivos sociais”, pondera.
De qualquer forma, um olhar integrado será essencial para a perenidade dos negócios e da sociedade como um todo. “A questão fundamental é que, atualmente, as tarefas para os nossos países são muito grandes. Quando se pensa em educação, saúde e capacitação profissional, o setor privado também precisa refletir de forma inovadora em como contribuir para lidar e resolver esses problemas graves. O conhecimento deve ser compartilhado no sentido da criação de novas modelagens de negócios – algo muito pouco explorado, ainda em estágio inicial”, avalia Ros, do BID.
Nesse sentido, o Banco Interamericano de Desenvolvimento auxiliou um caso de sucesso junto à Pepsi, no México. A empresa queria reduzir a quantidade de gordura saturada de seus produtos e, para isso, necessitava de novos provedores de óleo vegetal. Por meio de uma ação conjunta com sua fundação, alcançou o objetivo. Além disso, muitos seguimentos negligenciados podem proporcionar negócios inovadores. “Desse modo, a empresa atua de forma complementar – unindo filantropia e área de negócios, construindo novas relações e ofertando novos serviços. Assim, consegue-se um impacto social muito maior do que temos visto até hoje”, destaca Ros.
Aqui no Brasil, o Instituto Votorantim conta com parcerias como a do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para projetos visando alavancar a geração de trabalho e renda nos municípios em que atua, por meio de sua capilaridade. “Não vamos substituir o papel do Estado, e sim ajudar a prefeitura a viabilizar o que necessita. Existem recursos disponíveis para obras de saneamento, por exemplo, mas não há um plano e um projeto executivo para acessá-lo. Então, a empresa auxilia na compreensão das linhas de financiamento, em como buscar recursos para fazer as obras necessárias ao município e a prefeitura vai atrás”, destaca Gioielli, do Instituto Votorantim.
Também seguindo essa linha de trabalho conjunto, o Instituto BR Foods coordena a gestão do investimento social da empresa atuando em três frentes estratégicas: redes intersetoriais, terceiro setor e políticas públicas. Em 2013, pretende dar início a mais um ramo de atuação: empregabilidade e empreendedorismo. “Acreditamos que essas quatro frentes sejam promotoras de desenvolvimento em um município. Não há uma receita pronta, mas algumas ‘avenidas’ que, se fortalecidas, ajudarão o local a encontrar sua própria concepção de desenvolvimento”, destaca Luciana Lanzoni, diretora executiva do Instituto.
O incentivo fiscal para projetos público-privados pode ser uma boa solução nesse sentido – desde que não pensado de forma utilitarista, principalmente em períodos eleitorais. “Se existem políticas públicas consistentes para engajar a sociedade, o resultado é positivo. O incentivo fiscal é uma ferramenta muito importante, mas o Estado precisa estar estruturado para usá-la bem, senão acaba acontecendo simplesmente uma apropriação privada de dinheiro público”, pontua Rossetti, do GIFE.
Para Merege, do Iats, a ideia dos três setores trabalhando em conjunto precisa amadurecer, a exemplo do que aconteceu na cidade de Jacksonville, na Flórida (EUA), onde há mais de 30 anos se tem essa visão para melhorar a qualidade de vida da comunidade com base em uma metodologia de indicadores em nove dimensões – entre elas, sociabilidade, saúde e segurança. A cada ano a cidade mensura dados, avalia o cenário e discute onde governos, empresas e ONGs podem atuar. “Em alguns países como Itália, Espanha e EUA existem exemplos impressionantes de como a união entre os três setores pode modificar a realidade numa velocidade muito grande”, ressalta. A ideia de que a união faz a força, afinal, apesar de chavão, faz muito sentido.

Sobre radicalismo demais

É no mínimo surreal ver o "classe média" ou "playboy" como prefere a periferia, querendo ser mais radical do que os trabalhadores e mais indignado do que os excluidos, sem no entanto, nunca ter passado fome ou apanhado da polícia. É por essas e outras que acabo vendo no PT, com todas as suas imperfeições e vacilos, muito mais verdade e sinceridade do que em seus derivados pretensiosos. desculpa, mas é que não me acostumo!

Sobre Amizade e Política


Não sou amigo do poder e nem dos poderosos. Tenho carinho por pessoas que costumam ocupar certos espaços, quando passo a apreciar seu caráter e suas posições políticas. Não renego esse afeto diante dos revés da conjuntura e nem das guerras de posição. Também não espero favores e nem vantagens por essas relações. Para mim, amizade e política coexistem. Mas são coisas distintas!

O mito de Aquiles e Heitor e o vilipêndio ao Projeto Popular derrotado em Fortaleza

Se não pode haver pactos entre leões e homens tal qual no mito de Aquiles e Heitor. Tampouco haverá entre elite e povo. E isso fornece explicação sustentável para o insistente vilipêndio ao projeto popular vencido nas últimas eleições em Fortaleza-CE.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Fortaleza: O Reveillon 2013 e o protagonismo do prefeito eleito

Na verdade, nunca considerei papel da Prefeitura e muito menos do Estado realizar reveillon para beneficiar principalmente aos grandes empreendimentos ligados à hotelaria e ao Trade Turístico do Ceará. Independente de quem esteja à frente da Prefeitura. E ver o governador tomando a frente e realizando o evento que tradicionalmete é feito pela prefeitura de Fortaleza, me passa uma impressão ruim do protagonísmo do novo prefeito. Na minha humilde  compreenção esperava ver o novo gestor buscando um diálogo com a gestora em fim de gestão e acertando política e diplomaticamente a realização do evento. Ver o Governador chamar arbitrariamente para si essa responsabilidade, me pareceu um tipo de desautorização ao prefeito eleito. Mas pode ter sido só impressão.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O segundo escalão de Roberto Cláudio e o perfil inicial da gestão

A expectativa agora é para o anúncio do segundo escalão do prefeito eleito de Fortaleza. Geralmente é nesse espaço que se evidencia o caráter de barganha dos cargos administrativos com os vereadores e políticos. E nessas trocas, geralmente a qualidade técnica e a eficiência administrativa constumam sair avariadas. Mas como ele passou bem pelo primeiro teste que foi a escolha do primeiro escalão, está com um certo saldo positivo. Essas nomeações vão delineando um perfil inicial para a nova gestão. E no mais, na base aliada do seu governo tem muita gente qualificada e competente que pode perfeitamente ser aproveitada sem prejuizo da eficácia e ainda atender aos interesses de seus apoiadores.Vamos esperar para conferir!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

"Os loucos são os outros"?

Afinal, o que é mesmo a loucura? Quantas características de algum tipo de distúrbio psicológico você consegue identificar em amigos, pessoas próximas, conhecidos, personalidades, ou em você mesm@?

Responda se "os loucos são os outros", ou somos todos nós, em alguma proporção. Analise-se com sinceridade a partir dos seguintes "indicadores":

A saber: Sintomas Psicopatas :

Principais Sintomas

1. - Encanto superficial e manipulação

Nem todos psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utilizam o encanto pessoal e, conseqüentemente capacidade de manipulação de pessoas, como meio de sobrevivência social.Através do encanto superficial o psicopata acaba coisificando as pessoas, ele as usa e quando não o servem mais, descarta-as, tal como uma coisa ou uma ferramenta usada. Talvez seja esse processo de coisificação a chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos do psicopata para com seus semelhantes ou para com os sentimentos de seu semelhante. Transformando seu semelhante numa coisa, ela deixa de ser seu semelhante.O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se sucedem no psicopata. Partindo do princípio de que não se pode manipular alguém que não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse alguém foi antes seduzido.

2. - Mentiras sistemáticas e Comportamento fantasioso.

Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada.O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não se importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente desprazer quando mente. E mente, muitas vezes, sem nenhuma justificativa ou motivo.Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo, quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de suicídio, etc.É comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre circunstâncias reais. Isso porque sua personalidade é narcisística, quer ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, à seu personagem do momento, de acordo com a circunstância e com sua personalidade é narcisística. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um personagem verdadeiro.

3. - Ausência de Sentimentos Afetuosos

Desde criança se observa, no psicopata, um acentuado desapego aos sentimentos e um caráter dissimulado. Essa pessoa não manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por nada e mantém-se normalmente indiferente aos sentimentos alheios.Os laços sentimentais habituais entre familiares não existem nos psicopatas. Além disso, eles têm grande dificuldade para entender os sentimentos dos outros mas, havendo interesse próprio, podem dissimular esses sentimentos socialmente desejáveis. Na realidade são pessoas extremamente frias, do ponto de vista emocional.

4. - Amoralidade

Os psicopatas são portadores de grande insensibilidade moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência morais, bem como noção de ética.

5. - Impulsividade

Também por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, o psicopata não tem freios eficientes à sua impulsividade. A ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à falta de sentimentos morais, impulsiona o psicopata a cometer brutalidades, crueldades e crimes.Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às frustrações, refletindo-se na desproporção entre os estímulos e as respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos mínimos e triviais. Por outro lado, os defeitos de caráter costumam fazer com que o psicopata demonstre uma absoluta falta de reação frente a estímulos importantes.

6. - Incorregibilidade

Dificilmente ou nunca o psicopata aceita os benefícios da reeducação, da advertência e da correção. Podem dissimular, como dissemos, durante algum tempo seu caráter torpe e anti-social, entretanto, na primeira oportunidade voltam à tona com as falcatruas de praxe.

7. - Falta de Adaptação Social

Já nos primeiros contatos sociais o psicopata, desde criança, manifesta uma certa crueldade e tendência a atividades delituosas. A adaptação social também fica comprometida, tendo em vista a tendência acentuada do psicopata ao egocentrismo e egoísmo, características estas percebidas pelos demais e responsável pelas dificuldades de sociabilidade.Mesmo no meio familiar o psicopata tem dificuldades de adaptação. Durante o período escolar tornam-se detestáveis tanto pelos professores quanto pelos colegas, embora possam dissimular seu caráter sociopático durante algum tempo. Nos empregos a inconstância é a característica principal.

Fonte: http://psicopatasss.blogspot.com.br/2009/08/sintomas-psicopatas.html

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Manoel Andrade Neto nas paginas Azuis do OPOVO - Reconhecimento justo e merecido demais!

 Manoel Andrade Neto

Encantador de alunos

De filho de agricultores ao pós-doutorado em Química, o caminho de transformação da comunidade de Pentecoste
O que ele fez foi muito pouco. Tão mínimo, acredita que nem mereça menção. Na visão do professor Manoel Andrade Neto, 53 anos, os feitos e conquistas nada mais são que um reflexo do amor por uma terra chamada Cipó. De tão pequeno, o lugar nem distrito de Pentecostes (a 103 km de Fortaleza) chega a ser. Ainda assim, desse lugarejo de morada de apenas 10 famílias, partiu a ideia de modificar a vida de um povo. Manoel ousou: ao invés de seguir as carreiras dos pais, os filhos dos agricultores poderiam ser o que desejassem.

E foi desse jeito que resolveu reunir um grupo de alunos para que jovens e outros nem tanto assim ensinassem uns aos outros. Manoel seria somente o motivador. Arrumaria transporte, alimentação, livros. E na educação mútua, de troca de saberes, ensinamentos e, principalmente, de vontade de estudar, surgiu o Programa de Educação em Células Cooperativas, antes Projeto Educacional Coração de Estudante (Prece). Foram sete os primeiros alunos, em 1994, que devem se converter em mais de 25 mil participantes em 2013.

De tanto que cresceu, o Prece original deixou de ter controle sobre outras sedes abertas Brasil afora. E, apesar de ter ajudado a formular o programa, o sonho do professor é justamente não precisar mais dele. “O que eu sonho não é que o Prece cresça. O meu sonho é que a gente possa ser forte o suficiente para influenciar o desenvolvimento das escolas públicas. Minha vontade era que, daqui a dez anos, dissesse que o Prece foi feito por um grupo de pessoas que sonhou, mas que hoje a gente não precise mais dele, porque a escola é muito boa”, ensina.

O POVO – Vamos começar pelo início. O Prece surgiu em 1994, na comunidade rural de Cipó, em Pentecoste, com apenas sete estudantes. O que incentivou o senhor a ter essa ideia?
Manoel Andrade Neto – Bem, o Prece nasceu de uma mistura de coisas. De uma experiência que eu tive quando eu tinha uns 16 anos. Eu saí do interior com noves anos para morar na casa dos meus avós, em Fortaleza. Eles tinham fugido da seca na década de 1940 e acabaram no bairro Panamericano. Ela (avó) era uma mulher muito obstinada, queria muito que os filhos estudassem, mas eles não puderam estudar muito. Meu pai mal assina o nome. E quando eu tinha uns 16 anos, eu estudava numa escola de bairro, no Panamericano, e conheci um jovem que me convidou para participar de um grupo. “O que o grupo faz?”, eu perguntei. “A gente estuda no (bairro) Jóquei Clube”, ele disse. Ele me perguntou o que eu mais gostava de estudar e eu falei que era Biologia. A minha ligação com o Interior? Ele disse: “Ah, você gosta de Biologia, então você vai ensinar a gente Biologia”. Cada um tinha uma função no grupo. Ele era de Matemática, tinha uma pessoa da História... Então, depois eu criei outro grupo, com outros amigos da escola, e começamos a estudar. Quando eu já terminava o ensino médio, nós estudávamos ali próximo ao Liceu (do Ceará, no bairro Jacarecanga), na casa de um pai de um amigo nosso. E eu queria era estudar. Tinha tentado várias coisas de trabalho. Vendi maçã na rua, na praça José de Alencar; vendi livros; fui do exército, mas nada dava certo. Essa experiência de grupo de estudo foi muito forte. Nós fizemos vestibular e do nosso grupo, apenas um não foi aprovado. Eu fui aprovado para Química. Entrei na universidade e nosso grupo se desfez.

OP – E qual era a situação financeira da sua família?
Manoel – Meus pais eram pobres, são agricultores, bem simples, e meus avós também.

OP – E foi a experiência do grupo de estudo da casa próxima ao Liceu que estimulou o senhor?
Manoel – A experiência foi muito forte mesmo. Aquilo ficou na minha cabeça. Terminei a Química, fui trabalhar fora, voltei, fiz mestrado e quando comecei o doutorado e ganhei um pouco mais de dinheiro, comecei a retornar para Pentecoste nos fins de semana. Quando era menino, passava quatro meses de férias lá. Cipó não chega nem a ser um distrito, é uma localidadezinha que nem tinha escola quando eu tinha nove anos de idade. Eu fui alfabetizado na casa de uma vizinha. Comprei uma moto, então todo o fim de semana, eu voltava para lá. Eu queria muito ajudar a comunidade.

OP – Foi quando começou com o grupo de estudo?
Manoel – Eu comecei a organizar campeonatos de futebol. Ia para os jogos aos domingos, comecei a organizar campeonatos de todos os times da área rural de Pentecoste. Mas, com o passar do tempo, eu já estava cansado de organizar. Ficava revoltado ao ver a dependência muito grande da política, principalmente na época de eleição. As pessoas ficavam vendendo voto.

OP – Para conseguir jogar?

Manoel – Não, por outros motivos. Mas eu pensei que tinha que fazer alguma coisa que fosse diferente do futebol. Eu tive a ideia de convidar algumas pessoas para montar um grupo de estudos, inspirado na ideia do meu amigo que me convidou para o grupo do Jóquei Clube. O nome dele era Flávio Barbosa Barroso, ele faleceu há dois anos. No Cipó, chamamos vários jovens para estudar debaixo do pé de juazeiro, mas somente seis homens e uma mulher aceitaram.

OP – Como eram os estudos?
Manoel – Eu não posso dizer que eu ensinava, eu era o estimulador. O que eu fiz? Eu botei os meninos para estudar juntos. Eu sabia que não era a minha aula que ia resolver, eles tinham que ter estímulo, motivação. E como eu ajudava? Eu os colocava no meu carro, trazia para a universidade, para mostrar o museu, visitar os cursos. E eles me viram como alguém da região, que não era da mesma idade porque eles eram mais novos, mas como alguém que tinha tido sucesso. Não era um cara rico, mas tinha um emprego, eu já era professor da universidade (UFC) desde essa época. Eu disse a eles que eles também podiam entrar na universidade, que eles podiam ter sucesso na vida. E eles tinham muita vontade de mudar de vida.

OP – Eles tinham terminado o ensino médio ou estavam cursando?
Manoel – Não, não. Um tinha 20 anos e tinha abandonado a escola na 4ª série. Outro estava com 18 anos e fazendo a 6ª série. Tinha outro com 18 anos também, fazendo a 6ª série, mas ainda estava na escola. Só um tinha terminado o ensino médio, mas pelo sistema supletivo. Eram jovens completamente excluídos educacionalmente. Numa casa de farinha que a gente tinha lá (no Cipó), que estava abandonada, eles começaram a ensinar uns aos outros. O sucesso deles foi atraindo outros jovens também. E alguns desses jovens passaram a morar na casa de farinha.

OP – Numa cidade pequena, isso não gerou comentários maldosos?
Manoel – Gerou sim. Porque alguns pais não gostavam muito da ideia de eles estudarem. Queriam que eles trabalhassem no campo e os jovens queriam mudar de vida. Eles também se sentiam rejeitados na própria comunidade, então ir para lá (casa de farinha) era uma forma de refúgio. Porque alguns desses jovens ficavam sem fazer nada. Aí o pessoal do Interior dizia que era perda de tempo, porque não valorizavam muito isso. E começaram a criticar, porque os meninos estavam morando junto, acharam que eram homossexuais. Os jovens começaram, então, a se agregar. Foi nesse período que eles se fortaleceram. Depois de dois anos, um desses estudantes, o Francisco Antônio, o Toinho, fez vestibular para Pedagogia e foi aprovado. Foi uma festa.

OP – Foi daí que a comunidade passou a valorizar a ideia?
Manoel – Quando ele entrou na universidade, conseguimos residência para ele, se alimentava no restaurante universitário e retornava todo fim de semana comigo. Era um jovem da comunidade, da idade deles, e isso trouxe uma grande motivação para a comunidade. Seis meses depois, o Francisco José também fez vestibular e foi aprovado na UFC, no último vestibular semestral. Estávamos com dois estudantes aprovados no vestibular. Depois, mais dois outros estudantes foram aprovados na UFC. Em 1998, tínhamos quatro estudantes na UFC, retornando todo fim de semana para ajudar outros estudantes. A gente criou o Projeto Educacional Coração de Estudante (Prece), por causa da música (Coração de Estudante) do Milton Nascimento. Esse nome pegou, e nós criamos uma instituição registrada. Mas com o tempo, o nome da instituição ficou sem sentido. A coisa cresceu tanto, criou tantos projetos, que fomos obrigados a mudar de nome em 2004. O projeto foi registrado na Pró-reitoria de Extensão (da UFC). Em 2004, mudado de projeto para programa de extensão, porque tinham vários (projetos) já. O Prece ficou Programa de Educação em Células Cooperativas. Só que o nome Prece significa muito mais que um programa. Ele virou uma marca. Foram criadas mais de 10 instituições a partir do Prece. Tem uma agência de desenvolvimento local, foi criado um programa de rádio, que hoje não existe mais. Esse ingresso dos meninos na universidade e o retorno deles, nos fins de semana comigo fez com que o programa crescesse muito.

OP – E foi daí que se criaram os Preces em Fortaleza.
Manoel – Isso. Criou-se um no Benfica, no Pirambu e depois tiveram vários núcleos que foram se multiplicando.

OP – O Prece nasce do debaixo de um pé de juazeiro, sem apoio de ninguém deu muito certo. O que isso significa para o senhor?
Manoel – É uma pergunta complexa (pausa). O Prece para mim é uma prova contundente que a interação, a cooperação e a solidariedade entre as pessoas são forças e instrumentos fortes para a aprendizagem. É uma compreensão que eu tenho com muita clareza. A gente aprende muito interagindo com as pessoas. Muito mais que você simplesmente recebendo aula. Não tenho dúvidas em relação a isso.

OP – Quem financiava o Prece? Ele precisou de dinheiro no início?
Manoel – No início, as despesas do Prece eram de coisas que não eram contabilizadas. Os meninos precisavam vir fazer prova em Fortaleza. Aí eu trazia no meu carro e passavam dois dias na minha casa. Livros, eu pedia aos meus amigos, como doações, e levava. Depois, os meninos entraram na universidade e precisaram de uma bolsa para viver. E a universidade foi ajudando com bolsa. Começou a aumentar o número de alunos que passou no vestibular e meu carro já não dava para levá-los. A UFC, então, deu o transporte num primeiro momento, depois já não podia dar mais. A gente então tinha que alugar carro, ônibus.

OP – Hoje, o Prece tem quantos estudantes?
Manoel – É difícil dar essa resposta. Nós temos ações mais organizadas em Pentecostes, Apuiarés, Paramoti, Umiri. O Prece é uma entidade descentralizada.

OP – Que papel o senhor pensa em ainda alcançar com o Prece?
Manoel – A educação é um dever do estado. Então, nós hoje estamos cada vez mais envolvidos com o estado, sendo a palavra “estado” no sentido geral. Estamos hoje ajudando o estado com a nossa experiência, a multiplicar uma ideia. Não é alguém de fora. Se ele não tivesse deficiência, não precisaria da nossa ajuda. Estamos trabalhando em cima disso. O primeiro desafio foi a UFC, que olhou o Prece e pensou: “será que podemos levar o gene do Prece para a graduação?”. Assim nasceu o Programa de Aprendizagem Cooperativa, da graduação da UFC. Hoje temos o programa com 250 bolsistas de vários cursos, em todos os cantos da UFC. Foi criado também na Coordenadoria de Protagonismo Estudantil da Seduc (Secretaria da Educação do Ceará) um movimento para estimular estudantes de escola pública a também montarem grupos de estudos.

OP – O senhor achava que o Prece ganharia uma dimensão tão importante?
Manoel – Não, desse jeito não. Eu tinha uma visão de que os meninos poderiam entrar na universidade, podiam mudar de vida, ser agentes de transformação das suas comunidades.

OP – Quais foram os louros colhidos pelo Prece para além da aprovação do vestibular?
Manoel – Através desses ‘matutos do interior’, nós temos um grande processo de multiplicação da rede. Já saímos do Estado do Ceará e tem um programa criado em Mato Grosso inspirado no daqui. Os professores estão sendo contaminados com a metodologia da aprendizagem cooperativa. Temos uma escola de educação profissional lá em Pentencoste. Este ano, pretendemos atingir 25 mil alunos. Tudo isso aconteceu por conta daqueles primeiros sete estudantes que acreditaram e conseguiram compartilhar o que sabiam. Dos sete estudantes, um abandonou e os outros seis se graduaram. Um deles, terminou agora o doutorado em química. Esse menino tinha abandonado os estudos na quarta série e estava com 20 anos e hoje é pesquisador na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Outro menino que estava na sexta série, com 18 anos, hoje está terminando o doutorado em Fitopatologia, na Universidade Rural de Pernambuco. O outro é agrônomo, a outra é professora de História, um outro é mestre em Educação e outro é graduado em Teologia. Só um que desistiu. O mais importante não é isso, não. Se só eles tivessem tido sucesso, era legal. Mas nós contabilizando cerca de 500 estudantes, todos lá de Pentecoste, que passaram pelos grupos do Cipó, que estão na universidade a partir desse movimento.

OP – O Prece dá a oportunidade a uma pessoa que mora no interior de estudar para ser o que ela quiser, não é isso?
Manoel – O que ela quiser. Agora, o meu sonho é que a gente possa ser forte o suficiente para influenciar o desenvolvimento das escolas públicas, entendeu? A gente sonha que a gente possa influenciar o desenvolvimento das escolas públicas, para que toda criança tenha uma escola pública de qualidade desde o momento que ela começa a estudar. Entenda: se nós tivermos uma população mais educada, ela vai saber exigir mais dos governos. Ao invés de querer tomar o papel de educador, a gente tem é de dizer assim: eu vou votar num prefeito, num governador que vai ter um olhar na educação, porque eu sei que desenvolvendo a educação, tudo vai se desenvolver. A gente vai montar o Prece enquanto ele for preciso. A visão é de que é preciso melhorar a educação brasileira e não assumir o papel que é de lugar da escola.

OP – O senhor considera sua formação um exemplo e conquista?
Manoel – Acho que essa titulação acadêmica que eu conquistei foi uma coisa que aconteceu paralelo. O Prece foi um trabalho de extensão, que foi feito movido pelo coração. O que eu aprendi na academia não tem influência direta aqui. Agora, o mundo vive disso, os títulos valem alguma coisa. Talvez as relações que eu construí na pós-graduação tenham influenciado... Nada que foi feito aqui nasceu do banco da academia. Nasceu de uma paixão pela educação, de uma relação com o lugar, entendeu?

OP – O senhor acha que mudaram as prioridades das pessoas das comunidades onde o programa atuou?
Manoel – Na área da educação, sem dúvida, o impacto do Prece é grande. Hoje, os jovens têm o desejo de ir para a universidade. Em qualquer comunidade rural, tem muito menino sonhando com isso. Porque eles têm vários colegas na universidade e que mudaram de vida. O que a gente gostaria muito de impactar era na renda, na politização. Mas se o cara não tem como se sustentar, ele fica sempre dependente. A gente gostaria de afetar, mas isso pode levar 20, 30 ou 50 anos. Na educação, já afetou.

OP – Aonde o Prece quer chegar?
Manoel – Eu posso responder onde eu gostaria que ele chegasse. Quando eu penso num futuro para o Prece, não penso em criar um programa em qualquer lugar. A ideia não é chegar ao mundo. Se nós conseguíssemos que esse caso de Pentecoste desse certo – e esse dar certo significa não só o menino ir para a universidade, mas criar uma situação com que o aluno vá e volte, com apoio de governo e ver as escolas funcionando a contento - acho que isso já é um sonho que vale à pena. A toda criança que entra na escola é dada a oportunidade de aprender e de usar a aprendizagem para a própria vida. Se a gente puder contribuir com isso, eu me sentiria satisfeito. Porque, a partir dessas escolas, todas as outras coisas acontecerão.

Fonte: Jornal O Povo (Páginas azuis).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

PC do B, PDT e PSB na Gestão de Roberto Cláudio

Gostei dos espaços entregues ao PDT, PSB e PC do B no primeiro escalão da nova gestão municipal de Fortaleza. Os nomes indicados foram de grande nível e possibilitarão um debate oxigenado acerca dos caminhos administrativos e das políticas públicas na nossa capital. Destaque especial para Ivo Gomes (PSB) na Secretaria de Educação do Município. Afinal, depois de criticar ferrenhamente o desempenho desse setor na gestão de Luzianne Lins, Ivo teve a coragem de assumir a pasta e agora terá a oportunidade de implementar o que afirmava faltar na gestão passada. O futuro promete!

Perder com decência é importante. Ganhar com ela, também!

A conturbada eleição para a prefeitura de Fortaleza nos mostrou que nosso modelo democrático ainda é muito imperfeito e deixa margens à várias ações questionáveis. Seja na justiça eleitoral, na mídia, nas ruas e ou nas redes sociais é importante que "ganhadores" e "perdedores" manifestem suas análises sobre os acontecimentos que "dividiram Fortaleza ao meio" nas últimas eleições. E que "ganhem" e "percam" com decência! Quem não pode perder é o povo! E isso sim, será indecente se acontecer!

Quanto ao jornalísmo do O Povo, creio ser desnecessário registrar o " leve riso de canto de boca, do prefeito eleito de Fortaleza, Roberto Cláudio" ao comentar a ação do PT contra sua eleição. A não ser que a intenção de seu jornalísmo esteja voltada para o fomento à animosidade crescente entre os grupos políticos locais e para a divulgação de um certo "cinísmo" do Prefeito eleito. Se nenhuma dessas intenções estão presentes na sua matéria, penso que foi infeliz tal registro.

Mais no Link: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/12/20/noticiasjornalpolitica,2975161/sobre-acao-prefeito-eleito-cobra-que-pt-perca-com-decencia.shtml

Élcio Batista - Uma opção animadora para a Coordenadoria de Juventude da Prefeitura de Fortaleza

Gostei do anúncio de Élcio Batista para a Coordenadoria das Juventudes. É um ótimo nome! Agora, é acreditar na qualidade de Élcio, na sua capilaridade e na sua condição de inovar. Capacidade e conteúdo para tanto, ele tem. Outra aparente vantagem é que o mesmo conhece muito bem o Projeto CUCA com o qual já colaborou. E é também conhecedor das diversas variáveis que envolvem e determinam os problemas e as buscas de soluções para a temática das juventudes.

Sem dúvida, o estilo de condução da pasta mudou completamente e pouco ou nada restará da forma que a Coordenadoria vinha sendo conduzida nos últimos oito anos. Mas certamente não perderá sensibilidade social e nível político. A escolha me agradou bastante!

Parabéns ao Élcio e vamos de imediato retomar os debates e os trabalhos. O Crack avança! O desemprego juvenil também, a violência dizima a juventude que carece de qualificação profissional e ainda mais acesso ás políticas públicas.

A Coordenadoria precisa avançar no tocante à  intersetorialidade das ações governamentais voltadas para os jovens. E programas como o CRED Jovem e áreas como a Economia Criativa voltada para o aproveitamento e potencialização dos talentos juvenis necessitam de atenção imediata.


Vamos aguardar os primeiros movimentos do sociólogo!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Sobre certas crises envolvendo Casa Grande e Feitor

Sempre tive muita dificuldade de apoiar ou mesmo solidarizar-me com repressores. Sempre considerei que os mesmos jamais serão confiáveis. E tenho muitas dúvidas se seus interesses chegam a convergir em algum instante com os interesses dos oprimidos e por estes reprimidos. Quando os vejo em choque com o poder que os instrumentaliza contra o povo, tenho grande tendência a ver isso como uma pequena divergência no quintal da casa grande entre o feitor e o senhor, divergindo sobre métodos de tortura, o melhor chicote a ser empregado nas costas dos escravos, melhor remuneração para o feitor e outras coisas do gênero. Deve ser preconceito meu. Mas é assim que tenho percebido essas coisas. Vou refletir e estudar mais! Principalmente vou rever "Guerra de posição" em Gramsci pra tentar perceber importância tática ou estratégica no apoio à feitores aparentemente rebelados contra a Casa Grande.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O despejo na comunidade Nova Estiva no Serviluz e o silêncio ensurdecedor na Cidade

Gostaria de ver mais intelectuais, ativistas, militantes, autoridades e políticos comentando a ação de despejo sofrida pela comunidade da Nova Estiva no Serviluz. Os acontecimentos cotidianos que envolvem o choque entre as duas Fortalezas divididas pela força do dinheiro deveriam despertar o interesse e atenção dos pensadores e formadores de opinião de nossa cidade. Pessoas arrancadas de suas casas e de seu local de convivência social e comunitária para atender a interesses insensíveis, são mais importantes do que as festejadas peripécias políticas dos bastidores do poder que tanto pautam os jonalísmos, redes sociais e rodas de conversa regadas à cerveja e muito pedantísmo. Se vai ter Réveillon, ou não? Não! Não haverá Réveillon, e nem Natal, para essas pessoas despejadas em pleno reinado do Papai Noel.

Roberto Cláudio acena com uma uma Agência de Desenvolvimento para Fortaleza.

Uma agência de Desenvolvimento para uma cidade como Fortaleza com nítida vocação para serviços, carecendo de um modelo pautado pela valorização da energia limpa, da sustentabilidade e das tecnologias sociais inovadoras representa uma das ferramentas mais estratégicas para nosso futuro. Não deve ser implantada e conduzida pela visão da economia de mercado tradicional sob pena de tornar-se pouco útil e disperdiçar uma grande oportunidade. 

Nesse momento em que surgem especulações sobre sua criação e também sobre seus prováveis postulantes, devemos opinar e torcer para que nesse instrumento encontre espaços os conceitos e práticas fomentadoras da Economia Criativa, do Desenvolvimento Endógeno, do Empreendedorismo e da Economia Social.

É importante que sejam ouvidos setores já engajados na discussão, elaboração e atuação com esses temas como as Universidades, o Banco do Nordeste, Sudene, Secretaria Nacional de Economia Criativa do Ministério da Cultura e a Rede Estadual de Economia Criativa (E-Criativa) fomentada pelas secretarias da Educação e da Cultura do Governo estadual.

É muito importante o envolvimento dos intelectuais, técnicos, ativistas e estudiosos do tema. Não devemos relegar essa questão à uma mera acomodação política dos aliados da nova gestão municipal. É a qualidade do desenvolvimento de Fortaleza que está em jogo.

No mais, saúdo a intenção de se criar essa importante ferramenta.

Mais sobre o assunto: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/12/17/noticiasjornalpolitica,2972965/quandoentenda-a-noticia.shtml



Johnson Sales - Consultor em Economia Criativa e Advocacy e Empreendedor Social da Rede Global Ashoka Empreendedores Sociais.

Sobre a equipe de governo do novo prefeito de Fortaleza

Sobre a montagem do secretariado e equipe de governo do novo prefeito de Fortaleza, aguardo com espectativa e cito um grande e polêmico pensador florentino para ilustrar meu interesse nessa questão:

"A primeira imprensão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam."
  
(Maquiavel).

Expectativa de espaços na gestão de RC movimenta aliados

Pelo menos sete partidos, apoiadores de primeira hora ou não, admitem ao O POVO interesse em participar da administração Roberto Cláudio (PSB). Três deles - PSD, PSC e PPS -, citam áreas para onde gostariam de ir

MAURI MELO
José do Carmo, do PSL: quadros para "qualquer área"
 
A poucos dias do anúncio do secretariado de Roberto Cláudio (PSB), se intensifica a busca por espaços na futura gestão. Apesar do prefeito eleito ainda não ter tratado abertamente do assunto, lideranças de partidos políticos já admitem cobiçar “fatias do bolo” do Executivo. Segundo articuladores de diversas legendas no Município, RC irá se reunir com as siglas aliadas nos próximos dias, para tratar da questão.

“Tivemos uma primeira reunião há uns 15 dias, e temos a sinalização de que a partir dessa semana deveremos, em cima de uma pauta que o Roberto preparou, ter outras conversas”, diz Almircy Pinto, presidente do PSD no Ceará. Ele admite que o partido – que apoiou RC desde o primeiro turno – indicou três nomes e tem expectativas de integrar a gestão, sobretudo na área de reabilitação de usuários de drogas.

Outros partidos na mesma situação são o PPS e o PSC. O primeiro admite, segundo o presidente Alexandre Pereira, buscar a Agência de Desenvolvimento Econômico, conforme informou ontem O POVO.

Já o PSC, apesar de ter apoiado Elmano de Freitas (PT) na eleição deste ano, afirma ter bons quadros para as áreas de combate às drogas e trânsito, inclusive para a instalação do Bilhete Único.

“Nós apoiamos o Elmano, mas a eleição passou e o Roberto não pode ser prefeito de um só segmento. Ficamos de marcar uma conversa sobre o partido, para ver como o prefeito vê o PSC dentro do governo dele”, diz o vereador eleito Wellington Saboia (PSC), presidente municipal da legenda.

Há ainda outro grupo de partidos, que sinaliza interesse por espaços no Executivo, mas não chega a definir áreas específicas de interesse. “Para qualquer área que ele puder oferecer, nós temos pessoas para exercer um trabalho de qualidade. Temos muitos engenheiros e professores no partido”, afirma o vereador José do Carmo, presidente do PSL no Ceará.

Apoiadores do 2º turno
Na mesma situação estão o PDT, PRTB e o PPL, partidos que tiveram candidaturas próprias na eleição, mas que apoiaram o PSB no segundo turno. Já o DEM, que apoiou RC no segundo turno com Moroni Torgan, afirma que não deverá buscar espaços no Executivo.
Quando

ENTENDA A NOTÍCIA

Nas últimas semanas, o prefeito eleito Roberto Cláudio tem se dedicado a realizar diagnóstico da gestão municipal de Fortaleza. O anúncio oficial da composição do secretariado deverá sair até o sábado, 23.

Saiba mais

Partidos que admitem buscar posições e delimitam áreas
PSD - reabilitação de dependentes químicos
PSC - combate às drogas e ordenamento de trânsito
PPS - Agência de Desenvolvimento Econômico de Fortaleza

Partidos que admitem querer espaços, mas não delimitam áreas
PDT
PSL
PRTB
PPL

Serviço

Coletiva de imprensa para balanço da transição Luizianne/RC
Quando: hoje à tarde
Onde: Superintendência Caixa Econômica, no Centro
Fonte: Jornal O Povo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Organização sem hierarquia é possível?

No livro Emergência (A Dinâmica de Rede em Formigas, Cérebros, Cidades) Steven Johnson descreve como sistemas complexos se organizam sem hierarquia. Para quem gosta de imaginar outras formas de organização social menos autoritárias, o livro é uma grande pedida. Eu recomendo a leitura!

"Ele descreve o fenômeno que batiza o livro, que observa pequenos indivíduos em atividades simples guiarem, inconscientemente, o comportamento macro de coletivos formados por esses seres, sejam formigas ou softwares de reconhecimento de padrão. Assim, descobre que a natureza não trabalha com líderes e descreve o conflito entre a lógica vigente e a emergência como sendo o contraponto entre sistemas "top-down" (de cima para baixo, em que todos obedecem a hierarquias) e "bottom-up" (de baixo para cima).

Traçando paralelos e buscando novos padrões, Johnson passa por campos científicos novíssimos e completamente alienígenas para o leitor médio, como biomatemática, morfogênese e ciência da complexidade. Mas seu grande trunfo é mastigar esses bichos-de-sete-cabeças em uma linguagem agradável e texto fluido, citando pelo caminho referências pop, como o game "The Sims" ou a história da computação." (
ALEXANDRE MATIAS da Folha de S.Paulo).


 Um dos exemplos mais interessantes citados no livro é o discoideum:

"O *discoideum tem uma vida dupla e paradoxal. Ora ele é um, ora ele
é muitos. Tudo dependendo das condições ambientais favoráveis ou
desfavoráveis que se lhe apresentem. “Quando o ambiente é mais hostil, o
discoideum age como um organismo único; quando o clima refresca e
existe uma oferta maior de alimento, ‘ele’ se transforma em ‘eles’. O
discoideum oscila entre ser uma criatura única e uma multidão”. (p. 10)


*Discoideum:  É um eucariota primitivo que transita, durante o seu ciclo de vida, de uma colecção de amibas unicelulaes para um conjunto multicelular e depois para um corpo frutificante.

"O Principe" na Prefeitura de Fortaleza.



No tocante à gestão de Roberto Cláudio na Prefeitura de Fortaleza é razoável acreditar que as medidas mais duras, mais impopulares e que desagradarão até mesmo aos vereadores e aos partidos políticos aliados, ou não, ocorram logo de início e em sua maioria, de uma só vez. É que entre os mentores e detentores de grande infuência sobre o prefeito eleito, pelo menos um, é apreciador dos ensinamentos de Maquiavel em "O Príncipe" e vez por outra costuma recomendar medidas inspiradas no pensador florentino.

Justiça, mídia e política no Ceará. Uma mistura que vai ganhando consistência!

E a política cearense vai aparentemente ganhando contornos mais marcantes de uma ingerência crescente sobre a justiça e uma cumplicidade subserviente explícita da mídia. Resta saber que tipos de reações isso tudo vai provocar. A sociedade moderna não costuma comportar-se de forma catatônica diante do avanço de práticas como essas. Não por muito tempo!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O que significa esse aumento da passagem de ônibus em Fortaleza?

E esse aumento repentino da passagem de ônibus em Fortaleza, sendo produto de uma decisão judicial favorável aos empresários do setor, e se dando ao "apagar das luzes" de uma gestão que conseguiu manter durante o seu governo a passagem mais barata do Brasil, trará que tipo de consequências? Reascenderá o movimento estudantil e popular? Precipitará as prometidas mobilizações sociais? E o que significa essa atitude dos empresários e da justiça, nesse momento em que se encerra a gestão de Luizianne Lins que tem como um dos seus marcos o baixo (ou menor) custo da passagem? A teoria da conspiração às vezes guarda um certo teor de credibilidade. Será o caso?

Fortaleza: Teremos dieta para o Leviatãn?

 
Em relação à nova gestão de Fortaleza: O Leviatãn cresce e se fortalece ainda mais, ou recua e enfraquece? Teremos dieta para o Leviatãn? Os primeiros indícios (Criação de secretarias) apontam para um Leviatãn "se bombando". Mas ainda é muito cedo para se tirar conclusões.


Roberto Claudio anuncia duas novas secretarias

http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/12/11/noticiasjornalpolitica,2969372/por-queentenda-a-noticia.shtml

sábado, 8 de dezembro de 2012

CRACK: Não vamos aceitar a violência das internações compulsórias!

Divulgo artigo do Professor Luís Fernando Tófoli. O texto me foi apresentado por Leonardo de Sá. Vale a pena conferir!

A epidemia involuntária e suas consequências

Data de publicação: 
30/11/2012

Luís Fernando Tófoli * 
Atualmente, no Brasil, vivemos sob o grave e intenso impacto de uma epidemia que altera a percepção da realidade e ameaça a nossa sociedade. Convido o leitor a fazer um pequeno experimento pessoal: repita a frase acima a diversas pessoas, de variados níveis socioeconômicos e educacionais, perguntando que epidemia é essa. Não é difícil prever a resposta: crack. Consideremos, no entanto, a possível existência de outra epidemia: a de um conjunto de conceitos – memes – associados ao uso crack. Diferente das garatujas das mídias sociais às quais este nome se encontra agora ligado, um meme é, academicamente falando, uma ideia que tende a se replicar e se espalhar como que por contaminação. Concepções políticas e religiosas, por exemplo, seriam típicos memes. A esta epidemia memética corresponderia o seguinte conjunto de ideias, todas questionáveis diante da evidência disponível na literatura sanitária: 1) “vivemos uma epidemia do uso do crack"; 2) "o usuário de crack não tem condições de decidir por si mesmo"; 3) "a única solução possível para o usuário de crack é a internação compulsória".
O termo epidemia do crack tem sido repetido metodicamente nos meios de comunicação, e é muito fácil aceitá-lo como verdadeiro. Entretanto, não dispomos de dados que apontem que tenha havido crescimento inequívoco do uso de crack nas grandes cidades brasileiras nos últimos anos. Parece claro, no entanto, ainda que mais dados sejam necessários, que o uso do crack cresceu no interior do Brasil. Mesmo assim, resta o desafio de esclarecer se o impacto nestes novos e antigos territórios se deu pelo surgimento de usuários ou porque houve a migração de consumidores do mercado irregular (ainda que lícito) de cola de sapateiro e solventes para o mercado ilegal do crack. A questão, portanto, não está fechada.
A experiência clínica das iniciativas de redução de danos e sua tradição de olhar o indivíduo com uso problemático de drogas ilícitas numa perspectiva mais ampla de cuidados, têm demonstrado que o meme “todo consumidor de crack perde sua autonomia" é inverídico. Há relatos e evidências que indicam claramente que quando o dependente de uma droga cujo uso está associado a grave comprometimento social – como o álcool, os opiáceos e o crack – é tratado como um sujeito e sua vontade é levada em consideração, resultados positivos podem ser atingidos. 
É, no entanto, no terceiro meme – o que indica a solução do encarceramento compulsório ou involuntário como único possível – que residiria o maior e mais perigoso erro dessa epidemia memética. Além da redução de danos, existe um vasto conjunto de estratégias que deveriam ser utilizadas. As respostas às intervenções variam muito de indivíduo para indivíduo, e nenhuma medida tem como ser mais eficiente do que um conjunto delas, sem falar na discussão sobre a reforma da legislação de drogas no país. Isso não quer dizer que não existam casos que necessitem do tratamento involuntário – quando a equipe de saúde assim decide, diante do risco do paciente. Mas a melhor evidência disponível nos permite assumir que os casos que exigem internação involuntária são a exceção e não a regra do universo de usuários de crack. Por fim, quando analisamos a literatura sobre tratamento compulsório "aquele determinado pelo poder público e que no Brasil, até o momento, só pode ser aplicado caso a caso e não em massa" descobrimos que ele é ineficiente como cuidado à saúde e vem sendo criticado por sérias distorções éticas.
A epidemia memética do crack estaria, portanto, assentada sobre distorções da realidade que têm uma grande aceitabilidade pública. Mas, por que ela seria um risco à nossa sociedade? Haveria outros problemas além do relevante – e real – sofrimento pessoal e social causado pelo uso do crack? Sim. A questão reside nos riscos de se interpretar o uso de crack como uma doença transmissível e que, portanto, exigiria medidas radicais de isolamento epidêmico. Diante disso, aceitar-se-ia o uso da força como medida emergencial e assim se solapariam os direitos constitucionais, como no caso da ceguidão branca e epidêmica apresentada no romance Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago.
É, portanto, extremamente importante que os trabalhadores dos sistemas únicos de saúde e assistência social não se deixem levar pelo ofuscamento que contamina a visão sobre o crack no Brasil e seduz os políticos a soluções fáceis e autoritárias transvestidas de políticas públicas, como no caso da internação compulsória de usuários do crack proposta por Eduardo Paes [prefeito], na cidade do Rio de Janeiro. Da mesma forma, devemos cobrar do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que tem toda competência para separar o que é epidemia de ideias e o que é agravo real, superar as pressões políticas e assumir um posicionamento mais claro de seu discurso, de forma a não sugerir que haja apoio federal a medidas higienistas e de caráter protofascista.
* Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Especial para a 'Radis'.