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sexta-feira, 24 de maio de 2013

Um cotejo inusitado: Jean-Paul Sarte X Rodolfo Abrantes (ex-Raimundos)


A canção no rádio era de uma melancolia extrema: "...Quando eu acordei era fim de tarde, meu lado claro escureceu (Um novo sol só de manhã), faz envelhecer tendo a mesma idade de tanto que a alma sofreu . Eu sei que gente que tem coragem não finge..." era a banda "Rodox", com o ex-vocalista dos "Raimundos", Rodolfo Abrantes. E não pude deixar de pensar no que teria levado o Rodolfo do "Raimundos", que cantava músicas ao estilo de "minha cunhada", a essa tremenda imersão no existencialismo.  Me veio à cabeça quase de imediato Sartre sentenciando: "Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão". Rodolfo Abrantes, havia se convertido ao cristianismo e agora se intitulava "missionário cristão". Isso também me levou a revisitar o pensamento de Jean P. Sartre: "Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue". Então, cheguei à conclusão que no caso do Rodolfo, o que havia acontecido, nada mais era do que um esforço do existencialismo cristão na tentativa de reaver a chamada transcendência vertical, devido a este ver na relação com Deus um dado primordial no esclarecimento da situação humana.O existencialismo de Rodolfo seria, dessa forma, diferente do existencialismo de Sartre, que "ao recusar Deus, termina por também negar ao homem a transcendência vertical, ou seja, a relação de dependência e de apelo que o homem poderia manter com um ser que encerra em si a própria temporalidade humana, pela razão de tê-la criado".(Fascículos "História do Pensamento", n.º 58. Ed. Nova Cultural, 1987, pág. 689 e 690). Então me senti estranho e meio perturbado por encontrar-me ocupado em fazer cotejo entre Jean-Paul Sartre e Rodolfo Abrantes. E decidi apreciar o mar.