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sábado, 21 de abril de 2012

Sobre Platão, Música e as consequências sociais que nos aguardam



Platão reclamou: Enxergam todo o campo musical como uma "mera recreação" - enquanto, na verdade, a música efetivamente tocada e ouvida - junto com o ethos da existência humana interior - cai numa desestruturação calamitosa, quanto menos a pessoa se preocupa com sua realização autêntica. E os fatos constantemente encontrados mostram que nunca uma autêntica instância da possibilidade da ordenação da música omite o conteúdo de uma viva ordenação interior do homem.

Para Platão, a música seria capaz de imergir profundamente na alma de um cidadão, moldando-a para o bem ou para o mal. Segundo ele, o uso correto da educação musical iria abrandar os irascíveis e afastar os vícios, despertando virtudes, coragem, ordem à alma e até mesmo justiça.

Em A República, Sócrates enaltece o papel da música na formação do homem para a virtude:

Sócrates – A razão aliada à música. Só ela, quando entranhada na alma,
se mantém toda a vida como defensora da virtude. (Platão; 2000: VIII, 263)

Sócrates diz ainda: “a boa harmonia, a graça e a eurritmia dependem da simplicidade do caráter”, e que os “jovens devem procurar em tudo essas qualidades, se quiserem realizar a tarefa que lhes é própria”. (III, 94)

A importância e o poder da música na formação humana e sua capacidade de despertar e incutir profundamente valores que norteiem ações práticas no cotidiano de cidadãos é largamente percebida por vários estudos acadêmicos realizados na atualidade.

As músicas produzidas a partir de uma influência religiosa, dentro deste campo religioso, trouxeram ao imaginário dos participantes dos movimentos sociais a “imagem de Deus que se coloca do lado dos pobres”. Ao fazer menção a situações de injustiça e desigualdades sociais despertavam a necessidade de participação dos fiéis na construção da história, como “povo escolhido”, que caminhava rumo à terra prometida.

A constatação a cima foi extraída da análise da relação dos Movimentos dos sem-terra e dos trabalhadores rurais com a música aliada a religiosidade. A música trabalhada principalmente pelo MST carrega fortes influências ideológicas do marxismo e também da teologia da libertação da igreja católica, além de observar um apreço pelo ecumenismo em suas manifestações. 
  
No blog Música e Educação, Vinicius Lago postou a seguinte reflexão: 
  
“Eu penso que hoje em dia, as músicas de Chico Buarque, por exemplo, não devem tocar nas rádios porque são elaboradas demais para a grande maioria absorver e fica mais fácil fazer rádio com músicas no estilo “bate a mãozinha… e dá três pulinhos pra cá, e desce até o chão…”. Outros músicos com trabalhos interessantes também não encontram espaços na mídia e os jovens ficam consumindo uma música repetitiva. Alguns inconformados, buscam outros caminhos e encontram na internet uma saída. Mas a internet usada livremente com certeza informa, não necessariamente irá educar. É tão importante Educar quanto Informar.”

Se Platão estiver correto. E se devemos levar em consideração as indagações, constatações e ensinamentos de Sócrates, o que esperar de cidadãos e cidadãs e das cidades formadas por estes, que foram e estão sendo educados com essas músicas?

“Bebo tudo de uma vez /E começo a gritar garçom pode encher /Vou beber até morrer /Se eu cair e passar mal /Me carregue para o hospital /Só não deixe mamãe saber” (Letra Beber Até Morrer Forró 20xotear).

“Vaaaaai, dá tapinha na bundinhaaa, vaaaaai/Que eu sou sua cachorrinha, vaaaaaaaai/Fico muito assanhada, seu eu pedir você me dá/Lapada na rachada” (musica Lapada na Rachada forró Saia Rodada).

“Nóis fecha nessa porra no claro e no escuro/nós roba, nós trafica/nós não gosta de anda duro/e só de hornet pra cima/no bonde dos caça tesouro” (Funk Nóis Fecha nessa porra Mc Smith).

Refletir sobre um controle social relativo ás produções musicais e artísticas, não é defender censura, mas sim, firmar compromisso com a educação dos jovens, com a formação dos cidadãos e cidadãs que governarão nosso País no futuro e com a própria cultura de nossa nação.

Se a música já embalou grandes mudanças históricas e sociais no passado. Como nos casos do movimento Hippie, da tropicália, do movimento punk e da própria MPB com Geraldo Vandré e sua “Pra não dizer que não falei das flores”, além de Chico Buarque e tantos outros. E essas mudanças inspiradas pelas musicas deles perduram até hoje em nossa sociedade. É mais do que compreensível que todas essas músicas descompromissadas com valores de respeito humano e sem preocupação com a reflexão sobre o mundo e sobre a vida e o papel do ser humano em relação ao outro, a natureza, a sociedade e a si próprio, estejam formando pessoas e forjando um futuro assustador.

Referências:
http://hugoribeiro.com.br/download-textos-pessoais/platao.pdf
Anais do II Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia
25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianópolis, Brasil Núcleo de Pesquisa em Movimentos Sociais – NPMS ISSN 1982-4602
http://culturadigital.br/viniciuslago/2009/10/20/ola-mundo/
http://letras.terra.com.br/

 
Johnson Sales
Fellow da Rede Mundial Ashoka Empreendedores Sociais
Consultor em Tecnologias Sociais e Advocacy da Embaixada Social
Conselheiro Administrativo dos Centros Urbanos de Cultura, Esporte e Lazer (CUCAS) da Prefeitura de Fortaleza


O que são Tecnologias Sociais


Para a Rede de Tecnologia Social (RTS): Tecnologia Social compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social.

Também encontramos o conceito que afirma que “considera-se tecnologia social todo o produto, método, processo ou técnica, criado para solucionar algum tipo de problema social e que atenda aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade (e replicabilidade) e impacto social comprovado...”. 

Na verdade, o conceito de Tecnologia Social em todas as suas múltiplas variações é uma construção contemporânea, uma proposta no terreno da inovação com sólida relação com o desenvolvimento socioeconômico baseado na busca de soluções para os problemas e demandas apresentados pelas pessoas, comunidades, territórios, cidades e sociedade em geral. Tecnologias sociais podem nascer nas comunidades, na universidade, em órgãos públicos e até em empresas. Algumas juntam os saberes populares e os conhecimentos técnico-científicos. Já existe um número alto de tecnologias sociais disponíveis em nosso País.

Três exemplos de Tecnologias Sociais:

Projeto Luz: A ONG Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas e da Auto Sustentabilidade (Ideaas) tem como proposta levar energia solar para pessoas de baixa renda, a fim de beneficiar aqueles locais onde ainda não existe luz. A ONG é de Porto Alegre (RS) e o fundador dela é Fábio Rosa,  engenheiro agrônomo que desenvolveu um trabalho de eletrificação rural de baixo custo no interior do Rio Grande do Sul, proporcionando a pequenos proprietários o acesso à luz, água e outros benefícios. Com a criação do Projeto Luz, garantiu o acesso à eletricidade de 25.000 pessoas de baixa renda, em 42 cidades gaúchas. O Projeto Luz II, apoiado pelo governo do estado, ampliou o alcance desta iniciativa para mais 160.000 pessoas. A experiência comprova que é possível instalar energia elétrica de maneira prática e econômica, mediante a utilização da tecnologia adequada a cada condição natural. Fábio Rosa também trabalha com manejo ecológico de pastagens e energia solar. Saiba mais: http://www.ecodesenvolvimento.org.br/posts/2011/julho/fabio-rosa-fundador-da-ong-ideaas-conta-sobre-a

Terapia Comunitária: alia a sabedoria popular ao conhecimento científico para criar espaços de tratamento nos quais o principal remédio é a palavra. Um dos principais elementos do método são sessões em que grupos de 30 a 40 pessoas compartilham experiências e problemas e aprendem a lidar com suas dificuldades. O projeto inclui iniciativas como as Casas de Cura e Relaxamento, para cuidados individualizados complementados por massagens e tratamentos populares, como banhos de ervas. Esta Tecnologia Social foi criada pelo psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto. Pela Terapia Comunitária, a própria comunidade trata as vítimas de transtornos psíquicos e emocionais. Com uma abordagem com foco no sofrimento, e não na doença, A tecnologia provou que a maioria das vítimas de transtornos psíquicos e emocionais em favelas pode ser tratada pela própria comunidade, sem necessidade de tratamento médico hospitalar. Adalberto já promoveu a formação de 11.500 terapeutas comunitários e seu método já é aplicado em diversas regiões do Brasil, disseminado por 36 pólos em organização sociais, universidades e organismos públicos que integram a Associação Brasileira de Terapia Comunitária. O método já é também aplicado em dois municípios da França e em breve também será adotado no México e em dois países africanos. A Terapia Comunitária teve a sua eficácia reconhecida pelo Ministério da Saúde, que firmou convenio para a formação de 1.100 profissionais do setor de saúde pública. Saiba mais: http://www.noos.org.br/portal/formacaotci

Projeto Educacional Coração de Estudante (Prece): O Prece identifica alunos fora da faixa etária, prepara-os, orienta-os e faz um acompanhamento para que completem o Ensino Básico através desse sistema. Cria um modelo de apoio colaborativo, onde o estudante é também o professor tomando a responsabilidade de disseminar aqueles conteúdos que tem maior domínio e assim se revezam estudando em grupos de estudos. Esta estratégia faz com que os estudantes não se desmotivem a continuar estudando, quando encontram dificuldades.  Em seguida, dá-se apoio através de um pré-vestibular com a mesma metodologia. Fecha-se o ciclo com uma importante parceria realizada com a Universidade Federal do Ceará, que apoia os estudantes egressos do projeto, fornecendo residência universitária, alimentação, veículo para transporte e uma bolsa de extensão para que deem aulas em suas  comunidades. Esta tecnologia foi desenvolvida pelo professor Manoel Andrade. Saiba mais: http://prece-ce.blogspot.com.br/

Podemos citar muitas outras, como “Soros e Rezas”, “Agência Mandala DSH”, “Banco Palmas”, o “Turismo Comunitário da Prainha do Canto Verde”, o “Doutores da Alegria”, a “EDISCA”, entre tantas.  

Todas essas soluções desenvolvidas pela sociedade civil são ainda subaproveitadas. Algumas ainda nem tem sua importância reconhecida. Sua adoção quanto politicas públicas poderia ampliar a capacidade e eficácia do estado no tocante à superação de déficits sociais históricos. 

Um longo caminho ainda nos aguarda até que se as Tecnologias Sociais sejam reconhecidas e adotadas como ferramentas imprescindíveis na busca por qualidade de vida, desenvolvimento sustentável, direitos humanos, superação das desigualdades sociais e transformação do mundo para melhor. Enquanto isso, milhares de empreendedores sociais por todo o planeta, vão promovendo uma verdadeira “Transformação Silenciosa” e modificando o mundo e a alma humana, em caráter irreversível.

 
Johnson Sales
Fellow da Rede Mundial Ashoka Empreendedores Sociais
Consultor em Tecnologias Sociais e Advocacy da Embaixada Social
Conselheiro Administrativo dos Centros Urbanos de Cultura, Esporte e Lazer (CUCAS) da Prefeitura de Fortaleza.