Pesquisar este blog

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crupiê


Um crupiê em Sin City, ou, sei lá. De qualquer forma, dando as cartas em mesas tantas. E esta noite? Escura e úmida, quente, e de madrugada temperada. E esta cor... Ela me tem, basta chamar. O fumo queima na palha e evapora aromatizando os dedos meus. Garrafas de tinto confirmam o game. A vida em lances e sorte. E estas curvas no corpo dela? É lua clara em noite alta, eu vou.

DJ de S.

Denso





Disse-me com voz calma e firme: Não me fale em desistências, em consequências, em medos. Olhe para as sinuosas estradas da vida. Não dá pra saber o que tem lá, depois de cada curva. Até imagino dragões e labaredas. Mas o que fazer, se alguns não têm escolha nenhuma senão, seguir? 

DJ de S.

Do lado de cá



Você não faz ideia do que há do lado de cá da vida. Tão agridoce quanto um beijo de adúltera. Levantei a cabeça e ergui o olhar até o mais alto ponto que a vista era capaz de alcançar. De novo eu soube quem eu sou, e do que eu sou capaz. E sim, senti um tantinho de saudade de alguns corpos e espíritos que o devir me trouxe. Mas sabia também que há muito mais por onde eu vou. E deixei um restinho do tinto vinho que nas noites frias, em que fiquei só, eu consumi. E dos tantos nomes que rebusquei na memória nestes dias de liminaridade, o seu, me pareceu mais sonoro. Também não apaguei a fogueira que me aqueceu, deixei-a ali no santuário que reenergiza a minha alma e para onde retorno para me realinhar. É, o mundo é front mais adequado aos fortes. Mas, força é apenas uma das variáveis. E o equilíbrio, que andou distante, mais uma vez está presente em mim. Concluiu com um brilho tão intenso no olhar, que clareou o seu caminho.

DJ de S.

Deseo





Tão confusa se mostrou a construção medíocre que forjei com as minhas próprias mãos para abrigar o meu legado, pensei. É labirinto, este tabuleiro em que jogas displicente com as regras, ela me falou. Disse que acredita em mim, na minha sorte, e nesta minha relação tão boa com o cosmos. Falou-me que eu também deveria acreditar mais na força do meu destino. Beijei-lhe a boca. Provei do néctar do desejo farto que me toma a pele, a alma, e todo o corpo, quando ela, apetitosa, chega junto de mim.

DJ de S.

Rascunhos





Dizem que quem escreve quer ser lido. Acho que é mesmo verdade. Pois quero, até quando escrevo só para mim. Cabelos de várias cores, bocas em tantos batons, coxas de espessuras diversas, seios, em minhas mãos. Nas tintas reorganizo o que os sentidos visitaram. E vez por outra recupero algum significado perdido por estas noites tão velozes. Escrevo com a atenção dividida entre o que sinto; o que senti, e o que gostaria de ter sentido, mas, não. É... escrevo para ser lido. Eu lido com o que escrevo como se fosse algum tipo de confissão. Pois há, nas minhas memórias, alguma coisa de exagerado, exuberante, desregrada transgressão. Ou, talvez não. Podem também ser só palavras, escritos, ficção. Eu nunca soube mesmo separar claramente, em mim, o que é real e o que é imaginário; o que é vivido aqui ou em alguma outra dimensão. Escrevo para ser lido, só por mim. Ou não. Pensava alto, enquanto do alto, olhava a cidade onde rascunhara os dias que agora confrontava tão seguro de si, da sua história, e de onde era capaz de ir. Seu pacto com o cosmos parecia reacender-se a esta altura da vida. Terminou, sem pressa, uma garrafa de vinho verde. E direcionou os seus pensamentos para o objetivo que veio alcançar ali. 

DJ de S.

Aqueles tempos





Aqueles eram tempos de ferro. Eram dias duros e horas enferrujadas. Por várias vezes tremi. Tive que olhar bem fundo, na direção do núcleo do que eu sou; e bem pra lá do que me tornei. Senti falta de mim em vários frontes. Tive que me resgatar da calmaria em que havia me refugiado. E me lancei de volta aos perigos que sempre estiveram ali ornamentando a minha jornada. Esqueci-me do que mais me lembrava a todo instante, de que eu, cansado de guerra, queria mesmo era desertar. Precisou o poeta me lembrar numa trova, de que eu, ainda muito jovem, havia lhe dito que a vida é guerra, da qual, não lhe é permitido desertar. Contou-me, entre um vício e outro, o viajante do tempo, que, jurava que me havia visto triunfar.

DJ de S.