Ao mesclar cinema de arte com blockbusters, as salas de cinema do Centro Dragão do Mar são administradas provisoriamente pelo dono do Shopping Benfica. E o que acontece depois? Essa pergunta permanece sem resposta
Um dos filmes mais esperados da temporada finalmente
chegou aos cinemas. Repleta de efeitos especiais e explosões de encher
os olhos, a saga que dá início à equipe de super-poderosos Vingadores
chegou a 19 salas de Fortaleza garantindo filas gigantescas em todas
elas. Surpreendentemente, entre essas salas está a de número 1 do Centro
Dragão do Mar de Arte e Cultura. Mesmo com o sucesso internacional
garantido para a aventura da turma liderada pelo estrelado Capitão
América, a entrada do Dragão nesse circuito bota uma pulga atrás da
orelha dos cinéfilos fortalezenses.
Anteriormente reconhecido
com um espaço reservado para um cinema mais à margem das bilheterias
milionárias, o anteriormente chamado Espaço Unibanco vem passando por
mudanças e indefinições desde o início do mês passado. Com o fim da
parceria de 13 anos com o Unibanco, agora ele está sendo administrado
por João Soares Neto, dono do Shopping Benfica, onde já funcionam outras
três salas de cinema. De antemão, ele já deixou claro que sua estada na
Praia de Iracema só vai ser pelos próximos quatro meses. Ou seja, de
agosto em diante, outra pessoa ou entidade vai assumir o lugar
rebatizado simplesmente como Cine Dragão do Mar. Até agora nenhum nome
foi anunciado.
O motivo que fez João Soares Neto assumir o
cinema do Dragão do Mar por esse curto período foi sua paixão pela
sétima arte. Por isso, ele já iniciou uma reforma das antessalas e
decidiu dar um novo direcionamento na programação, misturando
blockbusters com filmes menos comerciais. “O público do Dragão é
basicamente de aposentados e professores. Nunca há um grande público. O
ideal é que os jovens que frequentam ali as rodas de hip hop e os outros
lugares também entrassem no cinema. Esse é nosso objetivo”, aponta o
empresário.
Por isso, logo neste primeiro fim de semana da
nova gestão, Os Vingadores estão dividindo o espaço com dois filmes
franceses que já estavam em cartaz: a comédia As Mulheres do Sexto
Andar, de Philippe Le Guay, e As Neves do Kilimanjaro, drama de Robert
Guédiguian. Paralela a essa programação, projetos como o Café com
Tapioca e o Cine Clube permanecem em cartaz, até segunda ordem.
Curiosamente, segundo o próprio Soares, a aventura dos heróis atraiu
apenas sete pessoas em uma das sessões do fim de semana. Ele diz ainda
que são muitas as dificuldades para conseguir trabalhar com filmes de
arte. “Nós não temos o direito de escolher, só de pedir. Existe um
cartel e as distribuidoras são muito impositivas. Eles colocam filmes de
arte, mas com muitos anos de produção e que não deram retorno de
bilheteria”. Ainda assim ele adianta que é uma “tentativa” de quatro
meses, apenas como uma “colaboração” e sem “nenhum contrato”. “Não tem
nada a ver com o Shopping Benfica. É uma iniciativa minha, particular”,
resume.
Problema crônico
Segundo a
assessoria do Dragão, ainda não existe novidade sobre quem vai assumir o
equipamento depois desses quatro meses. Reforçado pela saída da
livraria Livro Técnico e pelo aumento da violência no entorno do Centro
Cultural, esse novo elemento vem sendo apontado como um enfraquecimento
do maior equipamento cultural do Ceará. Isabel Fernandes, presidente do
Instituto de Arte e Cultura do Ceará, instituição vinculada à Secretaria
de Cultura do Ceará (Secult) e responsável pela administração do
Dragão, nega a crise. “Só em 2012, o Governo do Estado já garantiu o
investimento de R$ 6.951.057,49 além de todo o suporte técnico que está à
disposição do Dragão. (...) O Dragão continua o maior difusor cultural
do nosso Estado”, contou por email ao O POVO.
Ainda
assim, a indefinição sobre o futuro das salas de cinema do Dragão do
Mar acendeu uma discussão acalorada sobre os rumos da Cultura na Cidade e
no Estado. Padecendo do mesmo compasso lento de espera, o Cine São
Luís, sob responsabilidade do Estado desde agosto de 2010, é outro
espaço que continua esperando o momento de reabrir suas portas. O prédio
localizado no coração de Fortaleza, que também vai abrigar a nova sede
da Secult, continua com grades fechadas aguardando um público para
chamar de seu.
Por Marcos Sampaio
marcossamapaio@opovo.com.br
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Se me permitem, acho importante que o Governo do Estado apresente respostas consistentes para essas questões. Até mesmo porque várias destas já existem e ou estão em desenvolvimento no governo. Mas é importante entender o Centro Dragão do Mar como um importante ativo da economia criativa e do desenvolvimento local daquela região. O Dragão do Mar não pode ser pensado separado do processo de requalificação da Praia de Iracema, mas sim como o principal protagonista da mobilização e dos diversos atores e ativos locais para a consolidação da região como Território Criativo.
O Dragão do Mar é importante também como elemento agregador e formador das populações locais. Deve assumir o papel de catalizador do desenvolvimento social e cultural das comunidades do entorno.
Mais do que um aparelho cultural difusor e receptor das produções artísticas e culturais do estado. Agora o que se espera desse centro é a otimização de suas funcionalidades. O CDM deve sair da condição de passividade diante da situação local de desagregação social e enfraquecimento do tecido social da região e assumir o papel ativo e protagonista no desenvolvimento da Praia de Iracema e entorno.
Para tanto sugiro algumas ações simples, urgentes e de grande impacto a curto e médio prazo:
- Parceria com a Rede Colaborativa de Economia Criativa do Ceará (fomentada pela SECULT e SEDUC);
- Montagem de um Conselho Estratégico de Desenvolvimento Local e Fomento ao Território Criativo com a participação dos grupos, entidades, empresas, universidades, artístas e produtores culturais da região;
- Planejamento Estratégico do Território para superar as dificuldades e pautar Governo e Sociedade no atendimento ás demandas do Território.
Johnson Sales.