Sem
pressa ou ansiedade. Minha tranquilidade, disse ele, passa longe de desinteresse. O
personagem "David" do filme "Vanilla Sky" de Cameron Crowe
tinha como uma espécie de receita para a potencialização do prazer, o seu
adiamento. David afirmava que gostava de manter as relações casuais ao máximo
possível e entregar sua efetivação ou desfecho ao puro acaso. Hoje em dia,
poucas pessoas conseguem degustar a vida com essa serenidade e paciência. Todos
tem pressa demais e vivem os impulsos em detrimento dos desejos. O sociólogo
polonês Zygmunt Bauman trata esse tema no seu livro "Amor Líquido"
com uma elegante precisão. Ele afirma: "Semear,
cultivar e alimentar o desejo leva tempo (um tempo insuportavelmente prolongado
para os padrões de uma cultura que tem pavor em postergar, preferindo a
satisfação instantânea"). O desejo precisa de tempo para germinar, crescer
e amadurecer. Numa época em que o "longo prazo" é cada vez mais
curto, ainda assim a velocidade de maturação do desejo resiste de modo
obstinado à aceleração. O tempo necessário para o investimento no cultivo do
desejo dar lucros parece cada vez mais longo — irritante e insustentavelmente
longo". E o autor completa: "Com
a ação por impulso profundamente incutida na conduta cotidiana pelos poderes
supremos do mercado de consumo, seguir um desejo é como caminhar constrangido,
de modo desastrado e desconfortável, na direção do compromisso amoroso".
Mas para quem aprendeu ou pretende aprender e apreender os sentidos de uma vida qualitativamente superior a que a modernidade nos impõe, priorizar, no devir afetivo, os desejos em relação aos impulsos, torna-se imprescindível. Por isso, calma. Degustemos a vida!
Por Don Johnson de Sales.