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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Cultura como eixo de Desenvolvimento


A pluralidade da identidade cultural é a chave para o progresso humano. Esta foi a essência do discurso do Prêmio Nobel Amartya Sen durante a primeira edição do Fórum Mundial de Cultura (WCF, na sigla em inglês), que aconteceu em Bali, na Indonésia, entre os dias 24 e 27 de novembro.

O evento foi o primeiro de uma série de fóruns internacionais que a região deve sediar com o objetivo de criar um espaço permanente para questionar ideias estabelecidas e identificar soluções para incorporar a cultura como parte do desenvolvimento sustentável. O fórum reacende debate levantado pelo Relatório de Economia Criativa da ONU, que apresenta a dimensão do impulso que as indústrias culturais e criativas dão à economia global.


O WFC quer ajudar a moldar a próxima fase estratégica antes que os Objetivos do Milênio da ONU expirem em 2015 e garantir que o papel da cultura seja plenamente reconhecido no futuro. O encontro reuniu 1.360 delegados e artistas de 67 países, 12 ministros da Cultura, embaixadores e representantes nacionais, que participaram nas discussões em mesa-redonda ao lado de altas representações ​​políticas, ONGs e profissionais da cultura.


Um dos editores da CNN, Fareed Zakaria, reconheceu em seu discurso que a cultura é o elixir do desenvolvimento de um país, mas questionou se o sucesso econômico de uma nação (ou falta de) pode ser atribuído apenas à sua cultura. Alguns traços culturais podem abrir o caminho para o desenvolvimento econômico, ele admitiu.


Mas um desafio comum para as nações em desenvolvimento é se modernizar mantendo a própria cultura sem tornarem-se cópias baratas de países ocidentais. “Tenho pena do antropólogo”, disse Zakaria. “Não há nativos para estudo porque todos eles estão bebendo Starbucks.”


A Comissão Brundtland (cuja missão é reunir países rumo ao desenvolvimento sustentável) apresentou suas três dimensões principais: crescimento econômico, inclusão social e proteção ambiental. Mas a cultura deve ser estabelecida como o quarto pilar, afirmou Jordi Pascual, coordenador da Agenda 21 da Cultura, que está fazendo lobby para que o setor seja colocado no centro do desenvolvimento nacional e internacional.


Os painéis, com oradores diversificados, mostraram a importância da cultura para uma sociedade civil e democrática. Yenny Rahmayati apresentou a história do movimento de patrimônio cultural na região de Aceh, na Indonésia, após o tsunami em 2004. Os slides ilustraram os danos ao patrimônio local e acompanharam a reabilitação e reconstrução, que surgiu de forma independente do governo local – um verdadeiro testemunho do empoderamento conduzido pelo voluntariado.


Mark Miller, organizador do Tate Britain e de programas para jovens da Tate Modern, também compartilhou sua experiência no “Circuit”, um projeto colaborativo que oferece oportunidades para os jovens conduzirem sua própria aprendizagem e criarem atividades em todas as áreas artísticas.
O fórum culminou na assinatura de um documento, Promessa Bali, declaração de ações propostas durante as mesas-redondas. Entre as 10 recomendações finais vigoraram: apoiar a liderança de jovens que buscam realizar empreendimentos culturais, defender a integração do setor e desenvolver parcerias entre os setores público e privado.


A promessa Bali foi inserida na legislação da Indonésia e será obrigatório para os próximos governos desenvolvê-la para um conjunto de objetivos e políticas concretos e programas usando uma abordagem baseada em evidências. Como Estado membro das Nações Unidas, a Indonésia tem a intenção de ser referência em liderança cultural usando a Promessa Bali como alavanca para influenciar a formulação das Metas  Sustentáveis​​ do Milênio.


Enquanto isso, os organizadores esperam que a WCF torne-se parte da agenda global transformando cultura em desenvolvimento, em algo parecido com o que Davos, na Suíça, tem representado em impacto para as políticas globais, e como o Rio+20 , no Rio de janeiro, influencia a agenda de desenvolvimento sustentável.


A próxima conferência está agendada para 2016 em Bali. Enquanto isso, um projeto online está indo ao ar para condensar e distribuir informações atuais e futuras relacionadas à cultura e a agenda de desenvolvimento pós-2015 para ajudar o setor cultural global a comunicar seu trabalho para um público maior.


*Yasmin Khan, autora deste artigo, é curadora independente, produtora e consultora cultural.
**Publicado originalmente no site Culture Professional Network do jornal britânico The Guardian.