A pluralidade da identidade cultural é a chave para o progresso
humano. Esta foi a essência do discurso do Prêmio Nobel Amartya Sen
durante a primeira edição do Fórum Mundial de Cultura (WCF, na sigla em
inglês), que aconteceu em Bali, na Indonésia, entre os dias 24 e 27 de
novembro.
O evento foi o primeiro de uma série de fóruns internacionais que a
região deve sediar com o objetivo de criar um espaço permanente para
questionar ideias estabelecidas e identificar soluções para incorporar a
cultura como parte do desenvolvimento sustentável. O fórum reacende
debate levantado pelo Relatório de Economia Criativa da ONU, que
apresenta a dimensão do impulso que as indústrias culturais e criativas
dão à economia global.
O WFC quer ajudar a moldar a próxima fase estratégica antes que os
Objetivos do Milênio da ONU expirem em 2015 e garantir que o papel da
cultura seja plenamente reconhecido no futuro. O encontro reuniu 1.360
delegados e artistas de 67 países, 12 ministros da Cultura, embaixadores
e representantes nacionais, que participaram nas discussões em
mesa-redonda ao lado de altas representações políticas, ONGs e
profissionais da cultura.
Um dos editores da CNN, Fareed Zakaria, reconheceu em seu discurso
que a cultura é o elixir do desenvolvimento de um país, mas questionou
se o sucesso econômico de uma nação (ou falta de) pode ser atribuído
apenas à sua cultura. Alguns traços culturais podem abrir o caminho para
o desenvolvimento econômico, ele admitiu.
Mas um desafio comum para as nações em desenvolvimento é se
modernizar mantendo a própria cultura sem tornarem-se cópias baratas de
países ocidentais. “Tenho pena do antropólogo”, disse Zakaria. “Não há
nativos para estudo porque todos eles estão bebendo Starbucks.”
A Comissão Brundtland (cuja missão é reunir países rumo ao
desenvolvimento sustentável) apresentou suas três dimensões principais:
crescimento econômico, inclusão social e proteção ambiental. Mas a
cultura deve ser estabelecida como o quarto pilar, afirmou Jordi
Pascual, coordenador da Agenda 21 da Cultura, que está fazendo lobby
para que o setor seja colocado no centro do desenvolvimento nacional e
internacional.
Os painéis, com oradores diversificados, mostraram a importância da
cultura para uma sociedade civil e democrática. Yenny Rahmayati
apresentou a história do movimento de patrimônio cultural na região de
Aceh, na Indonésia, após o tsunami em 2004. Os slides ilustraram os
danos ao patrimônio local e acompanharam a reabilitação e reconstrução,
que surgiu de forma independente do governo local – um verdadeiro
testemunho do empoderamento conduzido pelo voluntariado.
Mark Miller, organizador do Tate Britain e de programas para jovens
da Tate Modern, também compartilhou sua experiência no “Circuit”, um
projeto colaborativo que oferece oportunidades para os jovens conduzirem
sua própria aprendizagem e criarem atividades em todas as áreas
artísticas.
O fórum culminou na assinatura de um documento, Promessa Bali,
declaração de ações propostas durante as mesas-redondas. Entre as 10
recomendações finais vigoraram: apoiar a liderança de jovens que buscam
realizar empreendimentos culturais, defender a integração do setor e
desenvolver parcerias entre os setores público e privado.
A promessa Bali foi inserida na legislação da Indonésia e será
obrigatório para os próximos governos desenvolvê-la para um conjunto de
objetivos e políticas concretos e programas usando uma abordagem baseada
em evidências. Como Estado membro das Nações Unidas, a Indonésia tem a
intenção de ser referência em liderança cultural usando a Promessa Bali
como alavanca para influenciar a formulação das Metas Sustentáveis do
Milênio.
Enquanto isso, os organizadores esperam que a WCF torne-se parte da
agenda global transformando cultura em desenvolvimento, em algo parecido
com o que Davos, na Suíça, tem representado em impacto para as
políticas globais, e como o Rio+20 , no Rio de janeiro, influencia a
agenda de desenvolvimento sustentável.
A próxima conferência está agendada para 2016 em Bali. Enquanto isso,
um projeto online está indo ao ar para condensar e distribuir
informações atuais e futuras relacionadas à cultura e a agenda de
desenvolvimento pós-2015 para ajudar o setor cultural global a comunicar
seu trabalho para um público maior.
**Publicado originalmente no site Culture Professional Network do jornal britânico The Guardian.