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sábado, 20 de julho de 2019

Reforma do Polo de Lazer do Conjunto Ceará expõe truculência do Poder Público e resistência da Comunidade

No centro de uma importante polêmica que envolve o direito à cidade para populações periféricas e o direito a autoafirmação para comunidades criativas, o Polo de Lazer do Conjunto Ceará precisa ser visto com mais atenção para que se perceba o que está por trás da forma truculenta com que os agentes criativos e os empreendedores deste espaço são tratados há algum tempo pelos poderes públicos e se entenda a sua corajosa resistência.


O Polo de Lazer do Conjunto Ceará, surge no ano de 1990, como Polo Metropolitano Luiz Gonzaga, através de uma ação do Governo do Estado do Ceará, que transformou a área central do bairro em “área institucional”. Um quadrilátero situado entre as avenidas Ministro Albuquerque Lima (Av. Central), Avenida Alanis Maria Laurindo de Oliveira (Av. B), e Rua 602 (atualmente, a Governança do Polo Criativo considera este limite como a Av. A) na primeira etapa do Conjunto Ceará.

O Polo de Lazer antes do governo do Estado começar a quebrar os equipamentos do local para realizar a obra de reforma e requalificação do espaço

“Dez espaços abrigam a maioria das ações culturais do polo de lazer. São eles, a “Pista velha” (anfiteatro frequentado por skatistas e pelos demais grupos underground do Bairro); o Maculelê Bar, que, construído artesanalmente, funciona como atração artística, e realiza vários festivais culturais durante o ano; a sede do Território Criativo, um espaço cultural, palco de espetáculos de teatro e poesia, treinos e oficinas de break, com paredes externas oferecidas como galeria para grafites, e que congrega diversos coletivos em um formato de coworking; O Projeto de Desenvolvimento Comunitário do Conjunto Ceará (PRODECOM) cuja sede é um teatro, e que mantém uma biblioteca, um curso de violino e realiza o espetáculo “A paixão de cristo”. Soma-se aos demais, o Centro Cultural Patativa do Assaré (CCPA). Este, reúne empreendedores, artistas e produtores culturais, sendo um centro comercial e de fruição cultural. Tem ainda o Centro de Cidadania - antigo Centro Social Urbano (CSU) que oferece uma biblioteca e alguns cursos, artísticos e profissionalizantes. Em relação ao esporte, o polo de lazer conta com a “Quadra de areia” que é um espaço para prática de esportes como vôlei; A “Quadra de futsal” que é um equipamento frequentado por jovens e adultos praticantes de futebol de salão; a “Areninha”, antigo campo de futebol reformado pela Prefeitura de Fortaleza, e que recebe jogos tanto dos moradores do Conjunto Ceará, como dos bairros vizinhos, e disponibiliza uma academia comunitária; e a “Praça da Juventude”, que dispõe de vários aparelhos para a prática do skate, e de um palco destinado a shows e eventos artísticos. Juntos, estes equipamentos oferecem grande variedade de opções artísticas e sociais durante o ano todo. A programação destes equipamentos somada à oferta de serviços e produtos do entorno, serve de base para a formulação do “Polo Criativo”, que o Coletivo Território Criativo adota como principal estratégia de desenvolvimento sustentável, ou seja, de um tipo de desenvolvimento pautado no equilíbrio entre fatores sociais, culturais, econômicos, ambientais e políticos, e que priorize as fortalezas e capacidades da comunidade como elementos principais da sua autosustentação.

Atualmente as atividades da maioria dos espaços encontram-se paralisadas devido à intervenção do Governo do Estado com a obra da reforma (que também não consegue se efetivar) e pelas ações repressoras da Prefeitura de Fortaleza que inviabiliza as atividades culturais, sociais e econômicas do local.

"Palco dos principais eventos culturais e políticos da comunidade, um lugar que desperta sentimentos e visões diferentes, contraditórias e até antagônicas nos moradores, visitantes e nos seus frequentadores habituais. Ao estudar o bairro Bom Jardim, situado na periferia de Fortaleza e vizinho ao Conjunto Ceará, em seu livro Contingências da Violência em um Território Estigmatizado, O sociólogo Luiz Fábio Paiva nos diz que os poderes públicos costumam ver as periferias das grandes cidades como uma espécie de “mancha” na estrutura da cidade. A 'mancha', aqui citada, se refere a forma como estes agentes públicos tratam os problemas sociais desses lugares. É, portanto, um termo negativo e potencialmente pejorativo. O polo de lazer do Conjunto Ceará, situado na periferia da mesma cidade e bem próximo da área estudada por Paiva, não escapa a este estigma. E, vez ou outra, é tratado desta forma pelas autoridades públicas."

Diante da atual postura da Prefeitura de Fortaleza em relação ao Polo de Lazer, com ações repressivas constantes contra os comerciantes e coletivos culturais da região, perpetradas pela sua Agência de Fiscalização (AGEFIS) que multa, apreende equipamentos e instrumentos de trabalho e impede o funcionamento do local, e a omissão do Governo do Estado que mantém uma obra semi-paralisada no espaço e nada diz sobre as arbitrariedades do seu parceiro (Prefeitura de Fortaleza), a população desconfia que os atuais governantes estejam novamente encarando o Polo de Lazer do Conjunto Ceará (principalmente a sua parte viva, criativa e atuante, a sua gente)  como uma “mancha” a ser removida da cidade.


* Os trechos entre aspas foram retirados da obra TERRITÓRIO CRIATIVO: UM ESTUDO SOBRE UMA POLITICA PÚBLICA DE ECONOMIA CRIATIVA NO POLO DE LAZER DO CONJUNTO CEARÁ EM FORTALEZA – CE do Cientista Social, Sousa MJS. Disponível no Repositório Institucional da Universidade Federal do Ceará (UFC).


Mundos Possíveis.