No centro de uma importante polêmica que envolve o direito à cidade para populações periféricas e o direito a autoafirmação para comunidades criativas, o Polo de Lazer do Conjunto Ceará precisa ser visto com mais atenção para que se perceba o que está por trás da forma truculenta com que os agentes criativos e os empreendedores deste espaço são tratados há algum tempo pelos poderes públicos e se entenda a sua corajosa resistência.
O Polo de Lazer do Conjunto Ceará,
surge no ano de 1990, como Polo Metropolitano Luiz Gonzaga, através de uma ação
do Governo do Estado do Ceará, que transformou a área central do bairro em
“área institucional”. Um quadrilátero situado entre as avenidas Ministro
Albuquerque Lima (Av. Central), Avenida Alanis Maria Laurindo de Oliveira (Av.
B), e Rua 602 (atualmente, a Governança do Polo Criativo considera este limite
como a Av. A) na primeira etapa do Conjunto Ceará.
O Polo de Lazer antes do governo do Estado começar a quebrar os equipamentos
do local para realizar a obra de reforma e requalificação do espaço
“Dez espaços abrigam a maioria das
ações culturais do polo de lazer. São eles, a “Pista velha” (anfiteatro
frequentado por skatistas e pelos demais grupos underground do
Bairro); o Maculelê Bar, que, construído artesanalmente, funciona como atração
artística, e realiza vários festivais culturais durante o ano; a sede do
Território Criativo, um espaço cultural, palco de espetáculos de teatro e
poesia, treinos e oficinas de break, com paredes externas oferecidas
como galeria para grafites, e que congrega diversos coletivos em um formato de coworking;
O Projeto de Desenvolvimento Comunitário do Conjunto Ceará (PRODECOM) cuja
sede é um teatro, e que mantém uma biblioteca, um curso de violino e realiza o
espetáculo “A paixão de cristo”. Soma-se aos demais, o Centro Cultural Patativa
do Assaré (CCPA). Este, reúne empreendedores, artistas e produtores culturais,
sendo um centro comercial e de fruição cultural. Tem ainda o Centro de
Cidadania - antigo Centro Social Urbano (CSU) que oferece uma biblioteca e
alguns cursos, artísticos e profissionalizantes. Em relação ao esporte, o polo
de lazer conta com a “Quadra de areia” que é um espaço para prática de esportes
como vôlei; A “Quadra de futsal” que é um equipamento frequentado por jovens e
adultos praticantes de futebol de salão; a “Areninha”, antigo campo de futebol
reformado pela Prefeitura de Fortaleza, e que recebe jogos tanto dos moradores
do Conjunto Ceará, como dos bairros vizinhos, e disponibiliza uma academia
comunitária; e a “Praça da Juventude”, que dispõe de vários aparelhos para a
prática do skate, e de um palco destinado a shows e eventos artísticos. Juntos,
estes equipamentos oferecem grande variedade de opções artísticas e sociais
durante o ano todo. A programação destes
equipamentos somada à oferta de serviços e produtos do entorno, serve de base
para a formulação do “Polo Criativo”, que o Coletivo Território Criativo adota
como principal estratégia de desenvolvimento sustentável, ou seja, de um tipo
de desenvolvimento pautado no equilíbrio entre fatores sociais, culturais,
econômicos, ambientais e políticos, e que priorize as fortalezas e capacidades
da comunidade como elementos principais da sua autosustentação. ”
Atualmente as atividades da maioria
dos espaços encontram-se paralisadas devido à intervenção do Governo do Estado
com a obra da reforma (que também não consegue se efetivar) e pelas ações
repressoras da Prefeitura de Fortaleza que inviabiliza as atividades culturais,
sociais e econômicas do local.
"Palco dos principais
eventos culturais e políticos da comunidade, um lugar que desperta sentimentos
e visões diferentes, contraditórias e até antagônicas nos moradores, visitantes
e nos seus frequentadores habituais. Ao estudar o bairro Bom Jardim, situado na
periferia de Fortaleza e vizinho ao Conjunto Ceará, em seu livro Contingências
da Violência em um Território Estigmatizado, O sociólogo Luiz Fábio Paiva nos
diz que os poderes públicos costumam ver as periferias das grandes cidades como
uma espécie de “mancha” na estrutura da cidade. A 'mancha', aqui citada, se
refere a forma como estes agentes públicos tratam os problemas sociais desses
lugares. É, portanto, um termo negativo e potencialmente pejorativo. O polo de
lazer do Conjunto Ceará, situado na periferia da mesma cidade e bem próximo da
área estudada por Paiva, não escapa a este estigma. E, vez ou outra, é tratado
desta forma pelas autoridades públicas."
Diante da atual postura
da Prefeitura de Fortaleza em relação ao Polo de Lazer, com ações repressivas
constantes contra os comerciantes e coletivos culturais da região, perpetradas
pela sua Agência de Fiscalização (AGEFIS) que multa, apreende equipamentos e
instrumentos de trabalho e impede o funcionamento do local, e a omissão do
Governo do Estado que mantém uma obra semi-paralisada no espaço e nada diz sobre as arbitrariedades do seu parceiro (Prefeitura de Fortaleza), a população desconfia que os atuais governantes estejam
novamente encarando o Polo de Lazer do Conjunto Ceará (principalmente a sua
parte viva, criativa e atuante, a sua gente) como uma “mancha” a ser removida da cidade.
Saiba mais em: http://blogmundospossiveis.blogspot.com/2019/07/polo-criativo-do-conjunto-ceara-ameacado.html
* Os trechos entre aspas foram retirados da obra TERRITÓRIO
CRIATIVO: UM ESTUDO SOBRE UMA POLITICA PÚBLICA DE ECONOMIA CRIATIVA NO POLO DE
LAZER DO CONJUNTO CEARÁ EM FORTALEZA – CE do Cientista Social, Sousa MJS. Disponível no Repositório Institucional
da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Mundos Possíveis.