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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Pralem da social-democracia - As dificuldades da esquerda e da sociedade brasileira de passar essa fronteira



E então, estamos presos todos nós a uma lógica social-democrata? Seria o "Estado do Bem Estar Social" a idealização mais apurada de nossas aspirações sociais? Não conseguiremos nós, ir além do liberalismo? A imensa maioria das propostas e bandeiras levantadas nos protestos da Multidão pelas ruas do Brasil não ultrapassam os limites do liberalismo e se acomodam perfeitamente no cesto restrito do "Welfare State". A esquerda brasileira também não tem conseguido ir além. Até as pseudo-extrema-esquerdas não tem articulado palavras de ordem que possam romper essa lógica e ao mesmo tempo fazer algum sentido para a Multidão. De onde vem tal dificuldade? No próximo dia 11 de Julho, as centrais sindicais e os partidos de esquerda pretendem trazer o proletariado e os trabalhadores em geral para o o centro das manifestações por todo o País. Isso poderá modificar a qualidade das propostas. Ou não. Reivindicar políticas públicas, moralidade, endurecimento das leis, infraestrutura e benefícios sociais do governo é na verdade fortalecer o estado burguês e exigir sua "providência". Até o momento, toda a pressão se concentra no estado e nas suas limitações e ou "má vontades" para com as necessidades da Multidão. A elite capitalista tem passado quase despercebida aos olhos das manifestações que sacudiram o estado brasileiro e suas instituições. A primeira sinalização de uma mudança, ou uma ampliação, do alvo das lutas sociais foi dado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) que anuncia que vai passar a apoiar a "taxação das grandes fortunas" que aliás, há muito tempo já encontra abrigo na nossa constituição e vem sendo ignorada até hoje. Bandeiras como esta tem o potencial de assustar os capitalistas, mas é preciso muito mais para modificar a pauta social-democrata e limitadamente liberal que reina exclusiva em nosso País. Talvez a entrada dos sindicatos na luta ainda fortaleça mais as reivindicações corporativas e não apontem para reivindicações mais ideológicas de classe. Ou quem sabe, suas reivindicações apontem para a participação nos lucros das empresas e para a gestão e a propriedade coletiva destas, tudo é possível. E também, se movimentos como o MST passarem a evidenciar a bandeira da Reforma Agrária e o fim do latifúndio nas terras brasileiras; e a Multidão atentar para a reversão das privatizações de FHC e PSDB e a suspensão das privatizações de Dilma e do PT, já estaremos mais próximos de uma pauta menos social-democrata e mais revolucionária. Mas ainda será pouco. Nossa sociedade, incluindo as esquerdas (de todos os tipos, crenças e cores) realmente sofre atualmente de uma grande dificuldade de ultrapassar os limites da contraditória democracia liberal burguesa. Quem sabe os anarquistas possam inspirar bons pensamentos em relação à supressão do estado e da propriedade privada dos meios de produção no Brasil. E se os socialistas e comunistas (os de verdade) conseguirem acordar junto com os gigantes (que pra mim são as classes perigosas que compõem a multidão), então talvez, possam colaborar com a orientação coletiva e cooperativa de novas lutas que se darão em um front mais avançado em relação às fronteiras do liberalismo e da social-democracia. Quem sabe? Tudo tá em disputa, nada tá definido. Lutemos! Pois só a luta muda a vida; a vida muda por você!

Por Johnson Sales.



Pierre Bourdieu, Ordem Social e Corpos Rebelados no Brasil





Segundo Pierre Bourdieu, "nós aprendemos pelo corpo. E a ordem social inscreve-se no corpo por meio desse confronto permanente, mais ou menos dramático, mas que sempre abre um grande espaço para a afetividade". Escreve Loic Wacquant em Corpo e Alma. Talvez tenhamos aqui uma chave importante para entender o desespero da mídia e da direita de nosso País em limitar as experiências corporais da juventude à atividades dóceis e pacíficas durante as manifestações de rua. Que aprendizados podem brotar das vivências duras dos confrontos com a polícia, do enfrentamento simbólico e sensorial com a propriedade privada dos capitalistas, com o patrimônio do estado burguês? Que afetividades podem emergir da solidariedade entre corpos atacados, feridos e presos enquanto lutam por seus direitos e pelos direitos de toda uma sociedade? E a ordem social, como vai se inscrever em corpos rebelados? Corpos rebeldes pedem uma nova ordem social; querem inscrições diferentes. Talvez por isso, não seja possível para a velha ordem inscrever-se nos corpos dos "vândalos". Talvez o "vandalismo" tão temido pela mídia, seja na verdade, o testemunho mais evidente da perda por parte dessa ordem social autoritária e elitista da capacidade de se inscrever nos corpos da juventude.

Por Johnson Sales