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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Confissões - de Darcy Ribeiro (trechos)





"As mulheres sempre me interessaram soberanamente. Desde que me lembro de mim, criança, ainda, me vejo embolado nelas. Carente, pedindo carinho. Encantado, querendo encantar. Quis ter muitíssimas, se conto as duas ou três que sempre tive em mente como senhoras dos meus desejos. Alcancei as graças de pouquíssimas. Uma pena.

Foram elas, são elas, o sal de minha carne, o gosto e gozo de meu viver. Marinheiro neste mundo, amor é o vento que sopra minhas velas nas travessias. Amando, navego por mares calmos e bravios, me sentindo ser e viver. Não posso é viver sem amor, desamado, na pasmaceira das calmarias; parado, bradando de ver o mar da vida marulhar à toa.

Um olhar trocado, instantâneo, me acende todo em expectativas. Antigamente, jovem, tímido demais, ficava nisso, esperando outra piscadela, com medo de que me fugisse, nem olhares me desse mais. Maduro, fiquei meio ousado, impaciente. Ao primeiro sinal de assentimento provável me precipito. Assusto, assim, muitas vezes, amores levemente prometidos; nem isso, apenas insinuados, que perco porque os quero ter ali e agora.

O amor é a mais funda, mais sentida e mais gozosa e mais sofrida das vivências humanas, e suspeito muito que o seja também para todo ser vivente.

Que força terrível a desse motor da vida que vibra em todo ser, forçando-o a transar, multiplicar, isso é a vida, esse clamor do desejo, essa confluência sem fim, esse gozo, ou a ruminação longuíssima da memória deles."

*Dedicado à bela da foto que emprestou sua estética e seu inquestionável poder de musa para sobrepor poesia visual ás palavras de Darcy Ribeiro.


Por Don Johnson de Sales.