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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Economia Criativa e Economia do Negro

Resumo do material apresentado na Reunião do Fórum da Economia do Negro em Fortaleza-CE, discutindo a Economia do Negro e a Economia Criativa.

O IBGE verificou crescimento de 6% das autodeclarações como “negros” entre as pesquisas de amostra domiciliar (Pnad) de 1999 e 2009. Ascensão social e aumento da autoestima repercutem no comportamento e no consumo.

Nos últimos 15 anos, a população negra economicamente ativa cresceu 58,3% e a renda média do negro subiu 29,3%, de acordo com o instituto Data Popular a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE).

Para Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto, essa melhoria é alimentada pelas políticas distributivas (Bolsa Família e ganho real do salário mínimo) e pela ascensão que os negros apenas começam a experimentar no mercado de trabalho.

Conforme o Data Popular, “essa população [negra] está em busca de status de consumidora, revelando a necessidade da criação de linhas e produtos específicos para ela”. O comunicado do instituto aponta que o consumo se liga à imagem. “Estar bem-arrumado é importante tanto para as mulheres quanto para os homens negros, seja para diminuir a discriminação, seja para reforçar a identidade”.

Para Tatiana Dias da Silva, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as políticas de cotas raciais para ingresso nas universidades poderão ser um mecanismo importante para melhor inserção do negro no mercado de trabalho e aumento de sua renda. Além dos efeitos na autoestima da população, ter mais negros cursando o nível superior também poderá mudar a composição das elites e a formação dos quadros de dirigentes do governo.

Uma importante ferramenta para potencializar essas mudanças e reforçar o empoderamento e a inclusão produtiva dos negros no Brasil é sem dúvidas a Economia Criativa.

Economia Criativa: É um conceito ainda em formação para designar um setor que inclui, porém, extrapola a cultura e as indústrias criativas. Reúne as atividades que têm na cultura e na criatividade a sua matéria prima. Englobando uma vasta gama que vai do indivíduo que trabalha a TI, Consultorias, Geração de Símbolos e comunicação até uma grife de automóveis de luxo. (fonte: Revista Idéia Socioambiental – Dez 2008).

Outro conceito perfeitamente aplicável ás estratégias da Economia do Negro, é o conceito de Economia da Cultura.

Do ponto de vista da economia, a expressão “economia da cultura” identifica o conjunto de atividades econômicas relacionadas à cultura, incluindo a criação e o fazer cultural. Do ponto de vista da cultura, o conjunto das atividades culturais que têm algum impacto econômico. Pode-se incluir neste conjunto qualquer prática direta ou indiretamente cultural que gere valor econômico, além do valor cultural. (Fonte: Sérgio Sá Leitão - Cultura e Mercado - www.culturaemercado.com.br 23.05.2007).

Por essa visão, a Criação e o Fazer Cultural, incluindo qualquer prática direta ou indiretamente cultural que gere valor econômico, caracterizaria a Economia da Cultura. Ou seja, em um sentido laico, tudo.

Apesar de muito parecidos os dois conceitos coexistem de uma forma nem sempre amistosa. Porém, cada vez mais, ganha força a concepção de que ambos englobam as atividades econômicas relacionadas com as artes e o patrimônio cultural e histórico e com os saberes e fazeres culturais, mas que a economia criativa vai além destes, usando como diferenciais a criatividade e a inovação.

Inovação - Nem sempre necessária ou presente na economia da cultura. Assim sendo, a especificidade da Economia Criativa e sua diferença em relação à Economia da Cultura, residiria na presença imprescindível da Inovação na base de suas atividades econômicas.
A Economia Criativa tem como base para suas atividades a inovação e a criatividade.

Algumas importantes características da Economia Criativa:

Não poluente;

Realça as tradições e histórias locais;

Promove a inclusão social;

Reforça a cidadania;

Promove a diversidade;

É muito mais permeável á valores (Cooperação, solidariedade, etc).

Mauricio Pestana observa: Os negros têm sido os maiores responsáveis pela difusão da cultura brasileira dentro e fora do país.

Antes mesmo de se inventar o termo Economia Criativa, os negros já sobreviviam com criatividade econômica em que a matéria prima era a cultura, preservada desde África e comercializada mesmo que de modo informal no seio da sociedade.

A baiana do acarajé que com seu tabuleiro e sua culinária milenar africana sustentou e ainda sustenta gerações. O capoeirista que com sua arte e inteligência criou grupos de alunos e hoje projeta o Brasil em mais de 150 países;

O futebol de jogadores como Pelé e Ronaldinho(s), projetando o Brasil no mundo por décadas, tempo esse em que nenhuma ação patrocinada pelo Estado conseguiria tamanho efeito positivo.

Se os negros já trabalham, produzem e comercializam no seio da Economia Criativa, o que se faz urgente é o reconhecimento, fomento e apoio a essas atividades e a esses empreendedores criativos.

E em relação á Fortaleza e ao Fórum da Economia do Negro, podemos sugerir alguns passos estratégicos para a inserção e consolidação das ações étnico-econômicas no âmbito da Economia Criativa:

Ampliar as discussões e debates sobre a Economia do Negro na Sociedade (chegando a escolas e universidades);

Realizar projetos e viver experiências econômicas criativas;

Aproveitar as oportunidades (Cred Jovem, Economia solidária, etc.);

Incubar Empreendimentos;

Atuar no cenário da Economia Criativa fazendo o recorte racial;

Incentivar a produção e comercialização de produtos criativos e culturais nos eventos;

Dar mais visibilidade para o tema (Publicação de materiais, entrevistas na mídia, etc).

Johnson Sales – Consultor em Economia Criativa e Advocacy da Embaixada Social, Conselheiro Administrativo dos Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCAs) da Prefeitura de Fortaleza e Fellow da Rede Ashoka Empreendedores Sociais.