Tenho dificuldade de ler ou ouvir
discursos que trazem termos como "família" como sinônimo sacro de
moralidade e "normalidade" social. Acho que essas falas são conservadoras e que
elas geralmente trazem pinceladas de autoritarismo e falsa-moral. Creio que Isso se dá com o discurso
de Ariano Suassuna falando do forró atual. Em tese concordo com muito da
análise dele sobre esse gênero musical. Mas esse senhor (oriundo de família
tradicional da elite brasileira) se mostra sempre muito conservador e sectário
em relação a cultura. Ele chega a dizer: “Quando
um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma
grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas
patroas) pergunta se tem ‘rapariga na plateia’, alguma coisa está fora de ordem”. Ora, qual é a ordem que busca o
escritor? E o que ele acha que deveria acontecer? A autoridade deveria fazer o
quê? E os atos dessa autoridade deveriam ser baseados em quê?
A questão dos
conteúdos das músicas e produções artísticas em geral - porque tal conteúdo se encontra
atualmente disseminado em vários estilos artísticos e musicais como no Pagode, na
Swingueira, no Funk, no RAP, nas novelas, no
cinema, etc. - não deve se limitar ao forró atual. Até porque, a coisa não vem de agora. Afinal, de que estava falando Gal
Costa em “Chuva de Prata” quando cantou “Chuva de prata que cai sem parar /Quase
me mata de tanto esperar/Um beijo molhado de luz/Sela o nosso amor”?
E o que Ariano teria a dizer da produção
artística do diretor do Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa (o Zé Celso)?
Ou será que ele pensa que sendo uma
produção mais sofisticada, e ou mais elitizada, ou ainda, mais acessível à elite do que ao povo, então pode?
É importante refletir! Muita gente, inclusive, algumas autoridades que por muitas vezes já estiveram nas praças públicas de grandes cidades com suas "patroas" curtindo os forrós que o escritor denunciou na sua fala; e alguns outros que sabidamente até financiam, incentivam ou que apreciam essas tais produções "alvejadas" por Ariano
Suassuna, se apressam em curtir e apoiar
nas redes sociais a sua fala. E até intelectuais o fazem. Sem, no entanto, analisarem o conteúdo conservador e o tom
elitista implícito numa compreensão tradicional e tradicionalista de arte,
moral e cultura. Talvez concordar acriticamente com um renomado intelectual possa parecer com algo como vestir algum tipo de "manto de erudição". Mas acredito que há mais a se dizer sobre o assunto.
Não acho que os conteúdos artísticos
analisados à luz da educação e da formação humana da juventude e do povo, devam ser pensados a
partir de conceitos de autoridade, família e moral das elites históricas desse
País. Penso que devemos defender uma elevação do nível de reflexão crítica das
pessoas a partir da elevação da qualidade de vida destas e do acesso a bens
culturais com os quais elas se identifiquem, e não, sejam identificadas forçosamente
pela mídia e pela indústria do entretenimento. Mas minhas razões são outras,
bem diferentes das intenções de poupar os ouvidos das "patroas" das "autoridades competentes"
presentes nas praças e no meio do povo.
E quando Ariano Suassuna lembra que "uma juventude cuja
cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do
poder daqui a alguns poucos anos". Não consigo deixar de pensar que, os que ocupam o poder atualmente tiveram a cabeça feita por músicas de Chico Buarque, Caetano Veloso, Vinicius de Morais, Tom Jobim, Geraldo Vandré, Elis Regina, Gilberto Gil entre outros. E me pergunto se as "rédeas do poder" foram tomadas e estão sendo conduzidas de forma adequada para o povo.
São só percepções. Também gostaria de ver outros tipos de músicas e produções artísticas e culturais mais compatíveis com o que eu julgo ser bom para mim e para o povo, sendo difundidas na nossa sociedade. Todos temos nossas opiniões sobre música, arte, autoridade e valores morais. Mas é sempre bom refletir profundamente sobre os discursos e suas fundamentações e interesses. Principalmente quando são feitos por intelectuais da importância de Ariano Suassuna. Refletir é Preciso!
Por Johnson Sales.