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sábado, 10 de setembro de 2016

De lá



Eu venho das ruas,
das quebradas,
do fundão da periferia,
de onde tudo é mais difícil.
Eu venho de um forno de poetas,
de um celeiro de gladiadores.
E quem diria?
De um jardim inóspito de muitas flores.
Eu sou produto do encontro incômodo de dois mundos,
o seu, e o meu.
Então, não “se cresça demais”,
baixe a bola, rapaz.
Eu venho de onde o dia é mais quente
e a noite é mais fria.
Não deixe que a eloquência,
o cuidadoso trato com as palavras,
lhe confundam.
Eu venho do gueto, do lumpen.
Eu sou um deles. Eu sou periferia!

DJ de S.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Paris como você nunca viu

Paula, a colombiana riquinha e doida por sexo. A festejada Paris da Torre Eiffel tem revelados os seus subúrbios, os seus esgotos, os seus preconceitos, o sofrimento dos imigrantes perseguindo conquistas intangíveis. Bebidas, muitas bebidas, drogas, muita droga, desencontros, encontros, sonhos despedaçados. Paris vista a partir do underground, mas também dos bastidores universitários. Você precisa conhecer a obra de Santiago Gamboa. Você precisa ler "A Síndrome de Ulisses".


D. J. de S.

Qualquer gato que seja

E qualquer gato vira-lata que conheça razoavelmente as ruas dessa cidade bonita e arriscada, sabe dos trajetos pelas sombras e das incursões na madrugada, sabe um pouco de mim.

D.J. de S.

E nada mais.


E então, me encontro em mim.


D.J. de S.

Wilde


"Há sempre qualquer coisa de ridículo nas emoções das pessoas que deixamos de amar."

(Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray). 

Macia


E quase nada restou sobre os lençóis macios além da maciez sua, além de você.

D.J. de S.

Possibilidades


Nestes dias excêntricos em que o tempo acorda comigo a velocidade e a densidade dos acontecimentos, faço valer cada momento ao sol tropical que te doura a pele. E outros desejos se vão. Mas você me olha nos olhos e aperta firme a minha mão. Sabemos, ambos, que esta é só uma das nossas múltiplas possibilidades. E juntos nos pomos a sorrir.

DJ de S.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O impacto da arte urbana sobre os fluxos humanos na cidade



Que forças definem trajetos na cidade? O que nos leva de um ponto a outro? Quais motivações nos fazem optar por esta, ou por aquela rota? O que tem de voluntário em cada direção ou destino escolhido?
Fluxos humanos (ou de humanos) se movem por entre as ruas e desenham correntezas no grande “oceano de concreto” que é a metrópole. O que me intriga, e me instiga, é não saber ao certo qual a força motriz por trás de cada um desses fluxos. O lazer; o prazer; a paixão; o medo; a ganância ou o belo, o que é que define, impulsiona, anima, ou altera o fluxo dos homens e mulheres pelas ruas da “pólis”?
Que o ócio, o trabalho, a educação e todas essas outras motivações cumprem a tarefa de traçar, impulsionar e alterar os fluxos pelas artérias vivas das cidades me parece cada vez mais, um fato. Percebo a ação dessas forças em relação aos fluxos, a partir do que elas interferem comigo mesmo, ao me estimular ou mesmo forçar a definir, pausar, acelerar, reduzir ou alterar, a velocidade e as direções em que me movo sobre a epiderme da cidade.
E muito embora essas minhas percepções, por si só, já demandem muito estudo.
Na verdade, o meu foco neste texto está voltado para descobrir se a arte urbana também pode se inscrever nesta categoria de forças capazes de definir, motivar ou alterar a velocidade e ou a direção de fluxos humanos na cidade.
Um “grafitti” pintado em um muro de uma escola ou nas colunas de um viaduto poderia fazer com que uma pessoa, ou várias, reduzisse o seu ritmo de passos e até parasse por alguns minutos diante da pintura para contemplá-la, alterando assim em velocidade o seu fluxo predeterminado? As cores recém-emprestadas a um velho navio encalhado na orla - e coberto por anos com a monocromia da ferrugem – seriam, pelo menos em alguns casos, suficientes para que transeuntes adotassem determinado trajeto que favorecesse a sua contemplação?
E quantos alunos universitários, com as suas câmeras e celulares nas mãos, não definiriam e ou alterariam, o seu trajeto para catar “pixos” pelos muros e apresenta-los em seus trabalhos acadêmicos?
E o que dizer dos escritos urbanos mais imperativos como as pichações do tráfico e do crime organizado nas paredes de determinadas comunidades: “Reduza a velocidade, abaixe os vidros e os faróis”?
A linguagem “urbanizada” do poder assiste as intervenções artísticas urbanas confirmarem Certeau . A cidade, ou vários dos seus “pedaços” - para ficar com uma expressão de Magnani - se insurge contra as “operações programadas e controladas”. As cores, a estética e o simbólico da arte urbana com todos os seus significados e significantes, se inscrevem nas astúcias e naquelas combinações de poderes “sem identidade” e “impossíveis de gerir”.
Se for assim, então, a arte urbana pode alterar ou definir o fluxo humano sobre e sob o relevo da cidade?
A arte urbana parece atentar contra o “não lugar”; parece preencher os espaços com “razões para se estar ali”; parece impactar também sobre a “errância” e diminuir o que Michel de Certeau chamou em “A invenção do Cotidiano” de “Experiência social da privação de lugar”. O caminhante caminha à procura de um lugar que lhe ofereça o significado específico que ele busca. Este significado pode ser no final da jornada, o que funda o lugar. Porem, durante a caminhada, encontra a arte urbana, preenchendo com outros significados, os lugares (antes, “não lugares”) por onde passa. Então, essa caminhada agora preenchida de significados pela arte urbana, é um mosaico de lugares que preenchem a jornada – agora menos errante – no trajeto até o lugar, na busca do qual, o caminhante caminha. Dessa forma, seria coerente pensar que a arte urbana, não só define e altera trajetos na cidade, mas também, cria lugares através da geração de significados?
Mas, na definição de Certeau, o lugar é uma configuração instantânea de posições. Implicando uma “indicação de estabilidade”. E mais, o lugar é único. Só podendo ser ocupado por uma “coisa” de cada vez. Novamente, aqui, a arte urbana inova e parece subverter a logica posta. O pixo, ou o grafitti, ou ainda o Stencil atuam sobrepondo lugares. O lugar “oficial” recebe sobre as suas cores, um novo lugar. O lugar do viaduto agora também é o lugar do grafitti. O lugar da placa de trânsito é ao mesmo tempo o lugar do pixo. O lugar do fotosensor, também é o lugar do Stencil.
O que concluo é que a arte urbana não só tem o poder de definir e alterar rotas de fluxos humanos na cidade, como também, tem a capacidade de criar lugares a partir da geração de significados que sobrepõe a outros, ressignificando assim trajetos e trajetórias na cidade.

*Foto: (Painéis da mostra "Nordestinando" 2006 - realizada pelos grafiteiros do Fórum Cearense de Hip Hop com curadoria de Zé Tarcísio para o Centro Cultural Dragão do Mar). Acervo: Território Criativo.


Sousa, M.J.S. - 2016.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Resumo da Obra: Raizes do Brasil



A anticonvencional composição extremamente livre e franca de Casa Grande e Senzala, como no tratamento dado à vida sexual do patriarcalismo, e a importância decisiva atribuída ao escravo na formação do modo de ser do brasileiro causou forte impacto na época. Informações e dados que ensejavam noções e pontos de vistas inovadores no Brasil de então. Entretanto, a preocupação do autor com problemas de fundo biológico (raça, aspectos sexuais da vida familiar, equilíbrio ecológico alimentação) dialogava com o naturalismo dos velhos intérpretes da nossa sociedade, como Sílvio Romero, Euclides da Cunha e Oliveira Vianna.
Três anos depois aparecia Raízes do Brasil. Livro curto, de poucas citações, mas que, entre outras influências, fornecia indicações importantes para compreenderem o sentido de certas posições políticas daquele momento, em que se se buscava soluções novas, fosse à direita, no integralismo, fosse à esquerda, no socialismo e no comunismo.
Seis anos depois do livro de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. lançava Formação do Brasil Contemporâneo. Interpretação do passado em função das realidades básicas da produção, da distribuição e do consumo. Nele, o autor afasta-se do ensaísmo (marcante nos outros dois livros), prioriza dados e argumentos em detrimento de categorias qualitativas como “feudalismo” ou “família patriarcal”. O materialismo histórico aparecia como forma de captação e ordenação do real, desligado do compromisso partidário ou desígnio prático imediatista...