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segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Importância e a Urgência da Moda para a Economia Criativa





“Levar o conhecimento da Economia Criativa para o sistema de moda do País pode ajudar a solucionar vários problemas da indústria do vestuário nacional e não apenas para a indústria em si, mas para a própria sociedade”.

Tal afirmação consta do estudo Desenvolvimento do Sistema de Moda a partir dos Estudos sobre Economia Criativa” realizado por Fernanda Cereser Fracaro, Juliana Teixeira de Paiva, Lucas da Rosa e Talyta Duarte Bastos. Tal afirmação é tão assertiva que chega a parecer lugar comum. Mas, o mais interessante é que muita gente não consegue enxergar nem o potencial econômico da moda, nem sua imediata relação com a Economia Criativa, e muito menos, a economia criativa e a moda como instrumentos para resolver problemas da sociedade.

Muita gente enxerga erroneamente a moda apenas como algo elitista e supérfluo. Da mesma forma que não conseguem ver as possibilidades sociais de inclusão, e mesmo o potencial emancipatório da Economia Criativa, em um País altamente criativo e desigual como o nosso.

O Trabalho Imaterial, segundo Michael Hardt e Antonio Negri, começa a hegemonizar o mundo do trabalho como um todo. Como Trabalho Imaterial, Hardt e Negri entendem o tipo de trabalho que gera produtos imateriais, como a informação, o conhecimento, ideias, imagens, relacionamentos e afetos”. Longe de oferecer um consenso em torno de si, o termo “Trabalho Imaterial” é ainda bastante polêmico e discutido. Mas nos serve por enquanto para dar conta mesmo que parcialmente das atividades imaginativas e criadoras do mundo da moda, que geram produtos derivados de simbolismo e carregados de significados e significantes,  muitas vezes, intrinsecamente ligados à comunicação, comportamento, imagem e status.

Quanto à Economia Criativa, ficaremos com a compreensão da Secretaria Nacional de Economia Criativa do Ministério da Cultura do Governo Federal brasileiro que a entende como, pactuada nos seguintes princípios: inclusão social, sustentabilidade, na inovação, e na diversidade cultural brasileira. Denominando setores criativos aqueles cujas atividades produtivas têm um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social. A definição, como admite a própria secretaria, parece vaga demais. Mas, para um conceito ainda em formação, não poderia, e nem deveria, ser diferente. E no mais, essa compreensão acolhe perfeitamente a moda, setor do qual, nos ocupamos nesse instante.

A importância social da moda

O antropólogo americano Marshall Sahlins escreve em seu livro “Cultura e Razão Prática” sobre o Sistema de Vestuário Americano:

Observaremos, pois, o que é produzido no sistema do vestuário. Por várias características objetivas, um item do vestuário torna-se apropriado para o homem ou para a mulher, para a noite ou para o dia, para “usar em casa” ou “na rua”, para adultos ou adolescentes. O que é produzido é, portanto, em primeiro lugar, tipos de status aos quais todas as pessoas pertencem. Essas poderiam ser chamadas de “coordenadas nocionais” do vestuário, na medida em que demarcam noções básicas de tempo, lugar e pessoa como constituídos na ordem cultural. Daí ser esse esquema classificatório, o que é reproduzido no vestuário. No entanto, não é só isso. Não são simplesmente os limites, as divisões e subdivisões entre grupos etários ou classes sociais, por exemplo: por um simbolismo específico das diferenças no vestuário, o que é produzido são as diferenças significativas entre essas categorias. Ao manufaturar peças de vestuário de cortes, modelos ou cores diferentes para mulheres e para homens, reproduzimos a distinção entre feminilidade e masculinidade tal como é conhecida nessa sociedade. Isso é o que ocorre no processo pragmático-material da produção”.

Assim, se partirmos do pensamento de Marshall Sahlins, entenderemos que o trabalho imaterial na moda, produz símbolos, e reproduz cultura. E mais ainda, perceberemos que essa produção, baseada na criatividade e essa reprodução sociocultural de símbolos de status e, de padrões de comportamento, representam ferramentas poderosas de cristalização de diferenças de gênero, diferenças de classe e diferenças culturais. E certamente, não será difícil inferir, que o inverso também é viável. A moda pode cumprir também o papel de subverter essas relações, por meio da geração de símbolos e significados que apontem para a redução, e mesmo o esgotamento dessas estratificações que possam vir a ser consideradas socialmente prejudiciais ou opressivas. Não pretendo aprofundar neste texto, essa questão. Apenas ressalto que não podemos desdenhar desse grande poder potencial da moda. E que devemos levar em consideração essas possibilidades ao tratar do tema.

A moda é uma excelente alternativa para se trabalhar com a Economia Criativa. E essa junção deve ser fomentada e apoiada urgentemente, sobretudo, numa perspectiva social, popular e solidária.

A moda já influencia comportamentos em todas as classes sociais. Deve agora passar a ser instrumentalizada pelos trabalhadores e pelas classes menos favorecidas e mais exploradas, como alternativa de inclusão socioeconômica, superação da pobreza e desenvolvimento local de comunidades. Os ganhos serão muitos sem dúvida. E se for trabalhada do ponto de vista social, a moda também poderá cumprir um importante papel cultural e de formação, inclusive política e cidadã para o povo cearense e brasileiro.

Deixo aqui todo o meu incentivo e apoio ao Fórum Permanente da Moda e a Rede Colaborativa de Economia Criativa do Estado do Ceará (E-Criativa) e o apelo para que ambos possam iniciar diálogos e colaboração entre si, o mais rápido possível, para juntos pautarem a Secretaria da Cultura do Estado (SECULT), o Criativa Birô do Ceará e a Secretaria Nacional de Economia Criativa do Ministério da Cultura do Governo Federal.

Saudações a quem tem coragem, talento e criatividade.


Por Johnson Sales
Consultor em Economia Criativa e Advocacy.