Um panorama parcial da questão
Perdem:
O Governo do Estado - Que se desgasta e perde a confiança da categoria. E ainda sai dessa greve com o governador marcado pelas declarações impensadas que revoltaram a sociedade, e mostraram instabilidade diante das contradições sociais do ato de governar. E “de quebra”, ainda gastou boa parte de seu capital político no interior do estado. Por fim, Cid Gomes corre o risco de passar para a história como o governador que aplicou o mais duro golpe na carreira e no movimento sindical dos professores do Ceará.
O PT – Historicamente identificado e alinhado com a luta dos funcionários públicos e em especial dos professores, sai dessa mobilização extremamente desgastado por não conseguir defender a categoria diante da truculência de um governo, do qual compõe a base. Ainda viu sindicalistas históricos e parlamentares petistas de grande respaldo, inclusive prefeituráveis, saírem desta greve “queimados” e ou com prestígio abalado.
A Categoria – Que se viu em meio a uma série de interesses, na maioria das vezes bem distintos dos seus. E acabou perdendo todas as oportunidades de uma boa negociação. “Dando a linha” nas assembleias e ultra-radicalizando o movimento, esteve o tempo todo, um conjunto de oposicionistas (PSTU, PSOL, anarquistas, Conlutas, entre outros) ao Governo, ao PT e ao sindicato Apeoc, tendo como principal interesse desgastar o PT e o Governo, diminuir sua influência nas eleições de 2012 e claro, avançar na educação das massas e na demonstração dos limites do estado burguês. Só que nesse enredo, as questões pragmáticas da categoria como a conquista do Piso Salarial e o PCC, foram postas em segundo plano. A ideologia e o movimento social saíram fortalecidos, a categoria saiu perdendo.
O Sindicato APEOC – Fragilizado historicamente devido às inúmeras gestões conservadoras e afastadas do gosto pela democracia interna e o trabalho de base. O Sindicato que agora tem sua diretoria em parte ocupada por sindicalistas dispostos a reaproximar a APEOC das lutas e da base, não foi capaz de administrar as contradições geradas pelos esquerdistas (não pejorativo), e pela insensibilidade do Governo. A APEOC sai endividada pelas multas decorrentes da declaração de ilegalidade da greve, e no mínimo, com o seu prestígio de interlocutora da categoria, reduzido diante do Governo. Se tiver algum ganho para a Apeoc, este residirá no fato de terem conseguido viver a democracia, submeter-se à base e não abandonar a luta (coisa inimaginável em gestões anteriores). Este ganho é facilmente creditado a ala mais progressista e à esquerda do sindicato que enfrentou externamente os “esquerdistas” e a truculência do Governo e internamente enfrentou e venceu uma ala conservadora que pressionava o tempo todo para que o sindicato adotasse as velhas práticas antidemocráticas que o fragilizou historicamente.
Os Estudantes: Que no meio do fogo cruzado, perdem aulas, ficam em desvantagem em relação ao ENEM e se veem diante das incertezas de um calendário letivo dessarrumado, com uma reposição de aulas incômoda. E o pior, fora das escolas e ainda mais expostos ás ruas. Para os que se engajaram nas mobilizações e lutas dos professores, fica o aprendizado da cidadania e a velha e boa educação do movimento social que certamente forma mais o cidadão do que a escola. Porém, se perde tempo e conteúdo didádico na jornada mais cotidiana rumo à conclusão dos cursos e a preparação para a universidade e para o mundo do trabalho. Elementos que também são importantes na vida dos jovens e que à longo prazo pode assegurar uma mudança qualitativa na vida desses estudantes (baseado nas contribuições de Luiz Carlos Velloso e Leonardo Sampaio Furtado).
Ganham:
Os Esquerdistas – Conlutas/PSTU: Que ganhou mais visibilidade em meio á categoria e ampliou a chance de novas adesões, além de avançar no desgaste da direção da Apeoc, da CUT e do PT; Critica Radical: Beneficiado pela visibilidade em meio à categoria, pela possibilidade da ampliação de seus quadros, e pelos holofotes conquistados por seus militantes feridos e em greve de fome durante a ocupação da Assembleia.
PSOL - Talvez o maior beneficiado, pelo menos eleitoralmente. Com o clima de insatisfação gerado em meio à categoria dos professores e estendido para amplos setores da sociedade de Fortaleza, o “antipetismo” pregado pelos “esquerdistas”, e o profundo desgaste do Governo do Estado. O PSOL poderá colher muitos frutos nas eleições de 2012, já que dos partidos oposicionistas, é o de maior viabilidade e densidade eleitoral, em especial em Fortaleza.
No mais, estamos vivendo um importante momento histórico em que as contradições de governar, apoiar governos e militar nas causas e interesses dos trabalhadores, estão sacudindo o cenário político e cobrando de todos nós inteligência, estratégia e tática e principalmente coerência com nossa história e com nossa ideologia.
E o mais interessante é que tudo isso, ainda não terminou. A luta dos professores e as contradições do momento político continuam, outras categorias como Correios e Bancários também estão em greve e devem ocupar espaço nesse cenário em ebulição. E todos nós, continuamos sob a influência de nossas contradições e pressionados a optar por caminhos ideológicos e políticos. Sabendo que “A cada opção, corresponde uma renuncia”.
Johnson Sales.
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