Pesquisar este blog

terça-feira, 24 de abril de 2012

Capitalismo Cognitivo "A Sombra do Vulcão"



Capitalismo Cognitivo é o conceito que tenta dar conta das práticas e características econômicas da produção do conhecimento cada vez mais mercantilizado no âmbito do capitalismo global do final do século XX e início do século XXI. Este tipo de capitalismo tem como base a produção e circulação de bens imateriais. 

 A Fundação Casa de Rui Babosa ao anunciar um colóquio de pós-doutorado sobre o tema apresenta  o Capitalismo Cognitivo nos seguintes termos: No Capitalismo Cognitivo, é a força de invenção, muito mais do que a força de trabalho, que se encontra mobilizada, fazendo com que a produção da população ativa resulte na produção de conhecimento e da própria vida, além de bens e serviços. E, na medida em que o trabalho tende a se disseminar como trabalho cognitivo, a cooperação social encontra na rede digital seu âmbito mais apropriado. Por outro lado, a cidade se torna o lócus de mobilização das redes sociais, técnicas e institucionais que vinculam as novas atividades produtivas às tecnologias de informação e comunicação, à virtualização e transmissão de informações por meios digitais, à cultura, à produção de conteúdos e conhecimento através de redes telemáticas.

A centralidade das dimensões cognitivas e imateriais da acumulação representa o deslocamento da produção “material” em direção à de serviços e bens intangíveis. Sem, no entanto excluir o “material”. Caminhando cada vez mais para uma hibridização das formas tradicionais de produção e circulação de mercadorias.


 Alguns autores como Michael Hardt & Antonio Negri (2005) creditam esse processo ao Trabalho Imateiral que segundo eles tende a assumir a forma social de redes baseada na comunicação, na colaboração e nas relações afetivas. Para os autores, O trabalho imaterial só pode ser realizado em comum, e está cada vez mais inventando novas redes independentes de cooperação através das quais produzir. Michael Hardt & Antonio Negri (2005) apontam ainda que a capacidade do Trabalho Imaterial de investir e transformar todos os aspectos da sociedade e sua forma em redes colaborativas são duas características extraordinariamente poderosas que este vem disseminando para outras formas de trabalho.

Conceitos como Economia Criativa e Trabalho Imaterial dialogam com o conceito de Capitalismo Cognitivo guardando muitas interseções e sinergias. E a origem do capitalismo cognitivo está intrinsecamente ligada ao surgimento e consolidação de outro conceito: A Propriedade Intelectual.



O Analista de sistemas e consultor em gestão do conhecimento About Roney em texto para o site memedecarbono.com.br explica que A Propriedade Intelectual que foi originalmente criada para garantir que as pessoas capazes de criar conhecimento fossem recompensadas por isso e assim pudessem gerar mais conhecimento já não funciona a favor da geração de conhecimento, mas sim de renda. E que o copyright foi criado em 1720, um século onde pouquíssimos eram capazes de ler e produzir conhecimento. Agora no século XXI até mesmo um país como o Brasil tem mais de 50% da sua população acessando a Internet com alguma regularidade e portanto apta a produzir conhecimento, ou estaria se não fosse impedida pelas leis de propriedade intelectual.
Faz-se necessário reconhecer essas relações conceituais e práticas que entrelaçam Capitalismo Cognitivo, Economia Criativa e Trabalho Imaterial, para que não se perca a noção de que “beber dessa fonte” é “dormir à sombra de um vulcão”.

No universo do Capitalismo Cognitivo, as relações de trabalho, a propriedade privada dos meios de produção, a privatização do resultado social do trabalho e a exploração da “mais-valia” ganham outros contornos e dimensões, mas não perdem a importância como categorias históricas de análises das relações sociais derivadas do capitalismo e seu sistema produtor de mercadorias.

Olhar para o futuro considerando o Trabalho Imaterial e a Economia Criativa como possibilidades de promover a inclusão social e produtiva e o desenvolvimento endógeno de muitos territórios e comunidades requer o compromisso de internalizar e defender um conjunto de valores sociais, éticos e econômicos que devem acompanhar toda a trajetória de um empreendedor criativo. Esta é nossa melhor garantia de que o que estamos construindo efetivamente possa vir a ser uma ressignificação do papel social da economia no terceiro milênio.

Portanto é imprescindível a consciência de que tudo isso se dá no âmbito do capitalismo e sob suas regras e riscos. Afinal, alguns conceitos novos trazem muito de concepções antigas e históricas. Às vezes esses resquícios e em alguns casos até essências, encontram-se ocultos ou são omitidos sob o “verniz” da novidade. A análise critica tem grande importância para evitar surpresas desagradáveis e equívocos teóricos e ideológicos ao se manusear certas novidades conceituais. Principalmente para quem zela por uma coerência nesse campo.


Johnson Sales
Fellow da Rede Mundial Ashoka Empreendedores Sociais
Consultor em Tecnologias Sociais e Advocacy da Embaixada Social
Conselheiro Administrativo dos Centros Urbanos de Cultura, Esporte e Lazer (CUCAS) da Prefeitura de Fortaleza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário