Mulheres e homens têm acesso praticamente igual à educação no Brasil,
mas quando se fala em política e economia, os homens têm vantagem
considerável. Eles estão em cerca de 54,4 milhões de posições no mercado
de trabalho, enquanto elas ocupam 43 milhões. O peso também está no
orçamento do final do mês: na média, os homens ganham R$ 4,9 por hora a
mais que as mulheres em cargos semelhantes. Na política, são 2.013
homens e 292 mulheres no poder.
Os dados estão no trabalho A Mensuração da Desigualdade de Gênero: um
Índice para os Estados Brasileiros, da estudante de economia Luísa
Cardoso, premiado pelo Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
(Corecon-DF). Luísa propõe a criação do Índice Nacional de Desigualdade
de Gênero (INDG) capaz de medir, por estado, o acesso das mulheres à
educação, saúde, economia e política.
A estudante se baseia no Índice Global de Desigualdade de Gênero (do
inglês Global Gender Gap Index - GGGI) medido pelo Fórum Econômico
Mundial em 135 países, no qual, em 2012, o Brasil aparece em 62º lugar.
“O Brasil não tem um índice próprio. O GGGI considera variáveis que não
fazem parte da nossa realidade. O INDG seria uma forma de monitoramento
das desigualdades brasileiras e pode ser atualizado constantemente”,
justifica a autora.
Com base em dados de 2009, 2010 e 2011 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), do Congresso Nacional e outros bancos de
dados oficiais, ela aplicou a escala internacional de 0 a 1, na qual
quanto mais próximo a 1, maior o nível de igualdade para cada estado
brasileiro. No total, o Brasil obteve 0,71 ponto. Se utilizado o INDG, o
país estaria na 45ª posição no ranking mundial.
Na escala, Santa Catarina, com 0,676, aparece como o estado mais
desigual, enquanto Rio Grande do Norte (0,779), como o estado com maior
igualdade de acesso, seguido por Roraima (0,776) e Maranhão (0,768). O
resultado mostra que a desigualdade não está ligada a uma menor renda,
já que o Rio Grande do Norte tem quase metade (R$ 456,94) da renda per
capita de Santa Catarina (R$ 864,51) de acordo com dados da Pesquisa
Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) 2009.
“O Brasil tem uma desigualdade regional imensa. Mensurar isso com
dados nacionais é mais interessante e confiável. Embora a discriminação
por gênero, uma das principais causas da desigualdade, não possa ser
medida por dados quantitativos, ela continua existindo na sociedade como
um todo”, afirma a integrante do colegiado de gestão do Centro
Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), a socióloga Nina Madsen.
A socióloga explica que a discriminação começa na educação e se
estende ao mercado de trabalho, prejudicando os salários e as promoções
de mulheres a altos cargos. Segundo Nina, um dos fatores da
diferenciação é que as mulheres ainda são responsáveis ao mesmo tempo
pela produção e reprodução, o que faz com que acumulem funções.
O acesso à economia teve pontuação 0,730, quase igual ao índice
nacional. Já a política foi a área com os menores índices: o Brasil
obteve 0,102. O estado de Santa Catarina aparece mais uma vez em última
posição (0,035), seguido por Paraná (0,044) e Ceará (0,055). Os
primeiros lugares também se repetem: são Rio Grande do Norte (0,404),
Maranhão (0,321) e Roraima (0,273).
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil aparece
como penúltimo país do ranking da América Latina em representatividade
política: somente 9% dos candidatos eleitos são mulheres. “É preciso uma
reforma de âmbito partidário para inclusão de mulheres. Tem que haver
um trabalho de base, de trabalho junto à sociedade, para que as mulheres
tenham mais destaque em propagandas políticas”, afirma a oficial de
Monitoramento e Avaliação do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, Juliana Wenceslau.
A secretária nacional de Articulação Institucional e Ações Temáticas
da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Vera Soares, afirma
que o governo tem se esforçado para diminuir as desigualdades. “Os
países mais produtivos são os que têm menor desigualdade de gênero. É
onde se aproveita melhor a capacidade produtiva e onde se utiliza o
capital humano de maneira mais completa. Ganha o mercado, ganha o
governo e ganham as pessoas.” Ela informou que a secretaria discute a
elaboração de indicadores complexos, como o INDG.
Fonte: Agência Patrícia Galvão
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