Diante da seca, o silêncio que estoura os tímpanos. Diante da
violência, os surdos e mudos que fazem de conta que o escândalo não
lhes diz respeito. É assim na Assembleia Legislativa. Não há oposição
com o tamanho que a democracia pede.
Está assim no Ceará, em
Fortaleza, em todas as capitais e em todos os estados. A mesmíssima
situação se reproduz no âmbito do Governo Federal. Muito poucos não
apoiam o presidente. Quase todos apoiam o governador. Quase todos
apoiam o prefeito. Sejam eles quem forem.
Para que oposição?
Sim, a maioria parlamentar é necessária a um Governo. Mas, hoje, as
oposições costumam se resumir a 20% das bancadas. No nosso caso, uns
10% na Assembleia e uns 15% na Câmara de Fortaleza.
Um massacre
que põe em risco a própria ideia de democracia. O ato de se opor é
fundamental para a política. O ato de opor não deixa que o gestor
público se deleite na zona de conforto e se embrenhe na teia palaciana
sempre tão disponível para elogiar e criar bolhas em torno do chefe.
Uma
boa oposição serve de antídoto contra a mania de cometer bobagens. Uma
mania tão comuns aos gestores. Um gestor ensimesmado tem na oposição
um obstáculo contra seu orgulho. A oposição é a melhor aliada do gestor
honesto que é enganado pelo auxiliar corrupto.
Desconfiemos de
quem não tolera oposição. Desconfiemos de quem usa o poder da caneta
para cooptar opositores e eliminar o pensamento crítico. A falta da
oposição causa mais estragos que uma seca.
Sem opositores,
prevalece a pasmaceira e o silêncio medroso. No fim das contas, a
inoperância e a falta de respostas se estabelecem. E quem mais perde?
Ora, quem mais perde são os de sempre, os mais pobres, os sem ongs, os
sem voz, os sem partido. A imensa maioria.
LUCRO CRESCENTE
O
secretário Francisco Bezerra (Segurança) gerou perplexidade quando
responsabilizou a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) pelos escandalosos
índices de criminalidade de Fortaleza. Porém, na mesma entrevista,
Bezerra causou constrangimentos políticos entre aliados do governador
Cid Gomes ao apontar que muitos ganham com o clima de insegurança
reinante na Capital, numa referência às empresas que prestam serviços
nesse setor. Uma das maiores e mais conhecidas empresas que atuam nesse
delicado ramo pertence ao senador Eunício Oliveira e ao vice-prefeito
Gaudêncio Lucena. Calados estavam, calados ficaram.
BANCADA DA BALA
Quem também lucra com a insegurança
são as emissoras de rádio e televisão com seus programas que exploram a
violência e a tragédia dos familiares de vítimas. Todos os dias, em
horário nobre, as telas das TVs são invadidas por corpos perfurados de
bala, estendidos no chão, com sangue escorrendo no asfalto. A audiência
principal vem das camadas populares, justamente as mais potenciais
vítimas da violência que assola Fortaleza. Parte dos apresentadores
desses programas entra na política e se elege para o parlamento. Todos
são governistas de carteirinha e, claro, não fazem críticas à política
de segurança.
POLÊMICAS
Ao responsabilizar a
gestão de Luizianne Lins pela insegurança pública de Fortaleza, o
secretário Francisco Bezerra acabou jogando uma batata em brasa no colo
do prefeito Roberto Cláudio. O raciocínio é simples: se a
responsabilidade foi de Luizianne por, segundo ele, não ter feito
políticas públicas para os adolescentes pobres, agora é do atual gestor
da Capital.
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/colunas/fabiocampos/2013/03/30/noticiasfabiocampos,3030795/a-falta-de-oposicao-causa-mais-estragos-que-a-seca.shtml
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