Certa vez olhara, do alto, a cidade e dissera para si que haveria de conquistá-la. Não sabia do espírito indômito das metrópoles e nem da força das peculiaridades. Anos depois, voltou a encarar as luzes urbanas e pensou estar destinado às glórias que o mundo reserva aos que lutam com sinceridade. Entre uma data e outra, se passaram batalhas, jorraram vinhos e lágrimas, aconteceram partidas e chegadas. E nesse ínterim, descobriu-se parceiro, e não conquistador, das cidades.
D. J. de S.
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domingo, 29 de outubro de 2017
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
Frestas
Lembro das minhas mãos entrecoxas, do perfume e das luzas de LED. Algumas noites são rápidas. O tempo cede ao espaço a primazia. Se vão deleites e vem o dia. Breakfest de ti quando o sol irradia. Provoco frestas pra te despertar, pra te iluminar, pra te degustar, pra consumir em ondas ou partículas o que há de mais doce, e denso, nesta manhã ornamentada de você.
D.J. de S.
D.J. de S.
segunda-feira, 3 de julho de 2017
E a irracionalidade, redime?
A cordialidade exposta por Sergio Buarque de Holanda, nos representa como "aventureiros", desviantes da "ética do trabalho", resistentes ao "espírito do capitalismo" desnudado por Max Weber, outsiders numa perspectiva de Becker, em relação ao positivismo europeu.
E se a moral, também puder ser vista, em certo sentido, como contenção, como limitante das potencialidades e das possibilidades humanas, e a ética puder ser entendida como ferramenta de tensionamento desta, e como originária das profundidades, nascida de pulsões nunca pacificadas que fundam valores e homens?
Se for assim, há esperanças brotando da nossa cordial irracionalidade. E o atual momento poderá ser entendido na beleza da sua destruição criadora.
São escolhas sociológicas de ângulos de olhares, de alternativas de análises. São caminhos antropológicos que intencionam a inscrição na opção pela "Antropologia das teorias nativas", para corroborar o pensamento de Antonádia Borges.
São reflexões que se pretendem fora, ou tentando sair, da "caixa". Afinal, nesses tempos difíceis que nos pedem - como revelou Pierre Bourdieu - "Sociologia como esporte de combate", refrigerar o pensamento e experimentar novas dimensões de criatividade sociológica, nos parece conveniente.
* Fonte da foto: Internet.
Sousa. M.J.S.
quarta-feira, 14 de junho de 2017
O quanto de "pop" tem na "escrita punitiva" do tatuador - Ou, sobre nossos gostos irrefletidos
O quanto de “cultura pop” tem no
caso da agressão ao jovem, pelo torturador da tatuagem? O quanto tem de Batman, o alter ego do bilionário Bruce Wayne que, indiferente à
exploração e às desigualdades sociais de Gotham City - parte delas patrocinadas
pelas suas próprias empresas – sai fantasiado pelas noites apavorando,
espancando e supliciando bandidos pobres e delinquentes com transtornos mentais
(lembremos que a principal prisão de Gotham é na verdade, um manicômio)?
O quanto têm de contribuição
nesse ato, Oliver Queen (O Arqueiro verde), igualmente
bilionário, focado em castigar com socos e flechadas aqueles que falham com Starling City?
E quanto a "Matt" Murdock (o Demolidor), Luke Cage (jovem negro, periférico e vigilante) ou o mais
emblemático de todos: Frank Castle, o
Punisher (ex-militar, assassino
vingador com transtornos mentais)?
Bem, talvez se juntarmos esses
elementos simbólicos da cultura pop, com
a contribuição de uma conjuntura em que a institucionalidade se desmancha ante
os olhos da população, a noção de justiça se perde numa politização e
parcialidade exacerbadas das altas cortes do País, e as
garantias constitucionais e sociais se transmutam em uma desesperadora distopia
que faz perder de vista o pacto social como o conhecemos até então, talvez
tenhamos mais uma ferramenta útil para ajudar na tentativa de apreensão das
nuances desse labirinto histórico, no qual nos encontramos enclausurados
durante esses dias de ferro e ferrugem que teimam em não passar.
É só mais uma lente, só mais um
exercício de imaginação sociológica, só mais uma provocação aos nossos gostos
mais apaixonados do que reflexivos.
Afinal, somos fãs (nós, e muitos
dos mais sinceros conservadores do País) de tantos bandidos das séries da HBO e da Netflix, como Teresa Mendoza “La
reina del sur”, “el patrón del mal” ou o charmoso e psicótico
Wilson Fisk (o Rei do Crime), ou muitos outros de outras emissoras e
séries.
E de certo que o anti-heroi de
caráter duvidoso, Wade Wilson nos
agrada bastante na pele do sarcástico Deadpool. E até a Nazaré Tedesco (a perversa vilã da
novela global “Senhora do Destino”) tem seu lugar garantido entre os mais
apreciados memes que gostamos de ver
passar pela nossa timeline.
Mas, tudo isso pode não ter a
ver, não guardar vínculo algum. Talvez essa relação ambígua, que mantemos com
os vilões e com os justiceiros no nosso fantástico mundo real, nem sequer dialogue
com o universo fantástico dos vingadores, guardiões, protetores e defensores.
Apesar de seguirmos – a exemplo dos heróis e anti-heróis vigilantes e
justiceiros das séries, filmes e HQs -
amarrando, tatuando, linchando os bandidos que estiverem ao alcance das
nossas justiceiras mãos, e aplaudindo aqueles que a cultura pop eleva à condição de mitos.
Quiçá, seja na literatura que
possamos buscar alguma analogia e ou “chave de leitura” para melhor compreender
a “genealogia” dessa prática de “grafia punitiva”. Vejamos o caso de um certo Capitão Rodrigo
tatuando com a ponta da adaga a inicial incompleta do seu nome, na face de
Bento Amaral em “O tempo e o vento”,
obra de Érico Veríssimo. Qual de nós se indignou com tal ato do vingador dos
pampas?
De qualquer forma, Batman,
Demolidor, Justiceiro, Pablo Escobar, Deadpool,
Capitão Rodrigo, Nazaré ou o tatuador,
seguirão mobilizando a nossa simpatia e a nossa admiração. Ou a nossa
condenação e repulsa.
E quem não pensou em tatuar o tatuador para que ele experimentasse um pouco da própria maldade? Ou ainda, sugeriu que ele fosse fazer isso com algum político e ou figura antipatizada, pela qual não sentiríamos pena e indignação como sentimos pelo jovem agredido?
E quem não pensou em tatuar o tatuador para que ele experimentasse um pouco da própria maldade? Ou ainda, sugeriu que ele fosse fazer isso com algum político e ou figura antipatizada, pela qual não sentiríamos pena e indignação como sentimos pelo jovem agredido?
Seja como for, a nossa relação
como o bem e o mal parece seguir mal resolvida. E como nos ensina Sergio
Buarque de Holanda, graças à nossa “cordialidade” e à nossa “ética
aventureira”, nós somos um povo que tem facilidade de sustentar as convicções
mais díspares, sem que as contradições nos choquem. Será?
SOUSA. M.J.S.
REFERÊNCIAS
ALESSI,
Gil. “Tortura de jovem tatuado na testa foi feita para ser consumida nas
redes”. El País. São Paulo: 2017. Disponível em
http://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/13/politica/1497374163_459335.html,
acessado em 14 de junho de 2017.
HOLANDA,
Sérgio. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia da Letras, 1995.
220 p.
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