O espaço que o poder
público ameaça desocupar com truculência e se nega a considerar as necessidades
dos seus agentes criativos, culturais e sociais é na verdade um enclave
cultural e criativo que possibilita a produção, fruição e acesso à cultura à
toda uma ampla região da periferia de Fortaleza com mais de meio milhão de
habitantes (população da Regional V). O Polo de Lazer do Conjunto Ceará é
referência de cultura e lazer para a Regional V de Fortaleza. A
intervenção do poder público nesse local afeta toda a população da região que
tem nesse espaço uma alternativa gratuita de acesso ao esporte, eventos
culturais, lazer e sociabilidade.
Acontece naquele lugar “uma
experiência comunitária em que um agente protagonista (o Território Criativo)
articula e anima uma estratégia de desenvolvimento local baseada na economia
criativa (o Polo Criativo) por meio de uma tecnologia social (o Pró-Polos
Criativos) que envolve e mobiliza nesta estratégia os agentes locais (pessoas,
grupos, instituições, políticas públicas, ações comunitárias e de governo,
empreendimentos e empreendedores) que são coordenados para gerar ações
sinérgicas com o objetivo de superar estigmas e alcançar distinção e
desenvolvimento para o polo de lazer do Conjunto Ceará”. (SOUZA, 2016).
Não é um deserto, uma
terra degradada e arrasada, um terreno baldio ou uma mera praça, o Polo de
Lazer do Conjunto Ceará é um ambiente vivo, um verdadeiro Território como
define o geógrafo Milton Santos:
“O território não é
apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas naturais e um
conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais
a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo
que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas
materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi. Quando se fala em
território deve-se, pois, de logo, entender que se está falando em território
usado, utilizado por uma dada população. Um faz o outro, à maneira da célebre
frase de Churchill: primeiro fazemos nossas casas, depois elas nos fazem... A
ideia de tribo, povo, nação e, depois, de Estado nacional decorre dessa relação
tornada profunda”. (SANTOS, 2001).
O Polo de Lazer do
Conjunto Ceará é um território construído ao longo de mais de 40 anos pelos
moradores, empreendedores e pelo movimento cultural. Muito antes do atual
prefeito sonhar em se candidatar a mandatário da Capital cearense, do
secretário da regional imaginar que poderia assumir essa função e dos fiscais
arrogantes e autoritários da AGEFIS (Agência de Fiscalização de Fortaleza) pensarem
que poderiam atormentar aquela população, alguns daqueles empreendedores e
agentes criativos que resistem no local já estavam construindo o Polo de Lazer
e lutando pelo desenvolvimento do Conjunto Ceará.
Portanto, o mais sensato e
responsável que pode acontecer é o poder público reabrir imediatamente o
diálogo e buscar resolver as demandas da população do Polo de Lazer do Conjunto
Ceará de forma respeitosa, pois eles (os agentes públicos) passarão, serão substituídos
nesses cargos que hoje ocupam, e a comunidade continuará a existir e a lutar.
Fica a dica!
*Os trechos entre aspas são
parte da obra TERRITÓRIO CRIATIVO: UM
ESTUDO SOBRE UMA POLITICA PÚBLICA DE ECONOMIA CRIATIVA NO POLO DE LAZER DO CONJUNTO
CEARÁ EM FORTALEZA – CE, disponível em http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/34407
Veja também: https://blogmundospossiveis.blogspot.com/2019/07/poder-publico-ameaca-desocupar-na-marra.html
Mundos Possíveis.
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