Chegamos ao último dia de um ano incomum! Foram dias "enferrujados", entremeiados por perfume de pétalas de rosas. Um ano fúnebre e também pirotécnico. Alegre e fatal. Um ano de derrotas impensadas e vitórias com pouco mérito. Dias de luta, momentos de prazer. Um ano marcante na nossa história. Um ano que se recusa a terminar e que certamente lançará suas consequências ao futuro imediato. Um ano que começou "rojo" e terminou "yellow" na cidade à beira-mar. Dois mil e doze deixará saudades em muitos corações e um desejo de amnésia em outros tantos. Mas nada é absoluto para o bem, e tampouco para o seu oposto. Um ano de injustiças e de justiças falsas, politizadas, satirizadas, parodiadas, encomendadas. Um ano em que a elite "foi à forra" com direito a um ridículo escárnio e a um cruel flagelo público de seus desafetos. Um ano de panacéias mil. Um ano em que pagamos muito caro por nossos erros e usufruimos magnificamente das nossas acertadas decisões. Um ano "lleno" de decepções; reivenções; superações e esperanças. Um ano visitado e revisitado por "Aglaia"; "Tália" e "Eufrosina". Sim! Um ano de Cárites. Também um ano vivo, intenso, "de verdade"! Dois mil e doze foi ano impreciso, inexplicável a não ser por si mesmo. Como aliás, é uma característica própria de sua mãe: A modernidade. Este ano tão duro e ao mesmo tempo flexível, tão amargo e em certos casos, doce. Um ano "par" que se mostrou "ímpar" em tantos aspectos. Um ano como outro qualquer? Não! Um ano único, como todos os outros. E eu, que aprecio as contradições, as antíteses e as dialéticas à la Marx, não poderia jamais maldizê-lo. Antes, devo saudá-lo! Dois mil e doze é um daqueles anos sobre o qual se pode afirmar que não se encerra na vulgar divisão do tempo em fatias, que os humanos ousaram empregar. Esse ano, não se exaure nem em si mesmo. 2013 vem ai! E devido a 2012, e muito mais por isso, do que por qualquer indício do que será, dois mil e treze se parecerá mais do que qualquer outro com "o primeiro ano do resto de nossas vidas"! Mas certamente, quando raiar o sol de primeiro de Janeiro do novo ano, ainda assim, continuaremos com a impressão de que dois mil e doze ainda não terminou. Muito embora, de fato, a vida já o tenha arquivado nas gavetas do passado. Que venha então o mais belo, promissor, redentor, compensador e agradável ano do milênio. 2013 é nosso! E será bálsamo para aliviar as dores causadas pelo inesquecível ano que passou. Pois é no final das caminhadas mais duras e exaustivas que nos aguardam os mais lindos e acolhedores oásis e os prazeres mais perenes. Mais do que nunca "somos feitos de acreditar"!
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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
sábado, 29 de dezembro de 2012
Especial para o Terceiro Setor (Um panorama situacional e do envolvimento das empresas)
Simbiose pelo bem social
Publicado em 19 de junho de 2012 em "Ideia Sustentável" por Cristina Tavelin
Valores, pensamento no longo prazo e
cuidado na relação com a comunidade são características intrínsecas aos
institutos e fundações empresariais.
Estrutura de planejamento, estabelecimento de metas e mensuração de resultados integram a rotina das empresas.
A união, portanto, dessas qualidades complementares certamente poderia ser chamada de evolução.
Apesar de não estar totalmente
consolidada, essa noção vem tomando corpo ao longo dos últimos 20 anos,
desde a ascensão do terceiro setor até o entendimento mais amplo da
noção de sustentabilidade.
De acordo com Fernando Rossetti, secretário-geral do Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE),
esse processo gerou uma confusão conceitual. “Há uma mudança completa
no papel do investimento social privado. Algumas empresas já fizeram
essa mudança, outras estão tateando o campo e outras ainda nem
começaram. Quando surgiu o termo sustentabilidade, tinha-se a sensação
de que o investimento social seria apenas mais um ‘penduricalho’, à
parte da gestão do negócio”, recorda.
Hoje, o questionamento inevitável é: se a
empresa deve ser, de fato, um ator social, manter institutos ou
fundações como um ‘braço social’ torna-se contraditório?
Divulgado durante o último congresso do GIFE, em março deste ano, o estudo O Papel dos Institutos e Fundações na Atuação Socialmente Responsável da Empresa vem lançar luz sobre a questão. “Se
pensarmos que o investimento social privado corresponde a uma parte da
consciência da empresa, esse recorte não pode ser feito, não se divide a
consciência de um ser. Muitas empresas estão intuindo que em seus
institutos e fundações há conhecimentos, habilidades e estratégias
significativas a serem incorporadas. Essa é uma possibilidade. Porém,
continua o desafio de reconhecê-los e, além disso, se apropriarem e
reintegrarem essas identidades à sua própria identidade”, diz o
documento.
As maneiras como as organizações estão
realizando esse processo e as mudanças no que diz respeito à integração
do investimento social privado no core business são algumas das discussões desta reportagem especial.
Evolução conceitual
No
início dos anos 90, o terceiro setor era visto como destinação certa
para o investimento social das empresas, muito ligado à questão da
filantropia. Em 1994, o livro de Lester Salamon, The Emergent Nonprofit Sector,
representou um marco na pesquisa metódica e seu resultado chamou a
atenção de estudiosos da Economia, Sociologia e do setor público por
mostrar como grandes economias movimentavam recursos e geravam empregos a
partir de suas organizações da sociedade civil.
“Esses estudos foram objeto estratégico para influenciar a mudança no Departamento de Estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU) que, desde 1948, utilizava uma metodologia para contas nacionais excluindo o terceiro setor. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
publicou, em 2004, o primeiro trabalho abrangente sobre o tema, com
colaboração do GIFE”, conta Luiz Carlos Merege, presidente do Instituto de Administração para o Terceiro Setor (IATS).
No início da década de
2000, houve uma valorização das ações sociais pelas empresas. Esse
cenário influenciou movimentos de pensadores que vinham falando sobre a
necessidade de o segundo setor ir alem do objetivo principal da geração
de lucro e produção de bens. “As empresas passaram a investir de forma
crescente em seus projetos sociais por meio de fundações ou da criação
de uma área específica dentro da organização, seguindo a linha de
pensamento do Instituto Ethos”, lembra Merege.
Havia, entretanto, uma discussão sobre a
necessidade de independência desse investimento, e muitas adotaram o
modelo americano de criação de institutos, constituindo um corpo de
trabalho totalmente separado – um modelo hoje em fase de transição.
“Há uma mudança significativa na atuação
das fundações e no próprio olhar da empresa sobre elas, que representam
um elemento de capilaridade e muitas vezes estão trabalhando
diretamente com o público-alvo. O conhecimento revertido para a gestão
de negócios tem aumentado cada vez mais e se tornado mais
significativo”, destaca Marina Grossi, presidente-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
À medida que o conceito de
sustentabilidade ganha força, a dissociação entre investimento social e o
cerne dos negócios começa a se mostrar incoerente.
“O distanciamento entre empresas e
institutos é cada vez menor. Não faz mais sentido a percepção de que
estar próximo poderia caracterizar interesse da empresa com vistas ao
negócio e não com foco no interesse público. Tornou-se evidente que a
parceria fortalece a atuação do instituto e vice-versa, isto é, pode
contribuir para a sustentabilidade do negócio”, avalia Wilson Mello,
vice-presidente de Assuntos Corporativos da BR Foods.
As empresas mais evoluídas já consideram
o pilar social de maneira integrada ao seu negócio, em seus produtos,
no dia a dia. “Começo a concordar que as organizações sem institutos
talvez não venham a criá-los devido à crença da questão social já estar
contemplada pela sustentabilidade. Ainda vivemos um momento onde tudo
está meio esquizofrênico. Mas, se reconhecermos que estamos trocando o
pneu com o carro em movimento, há uma perspectiva otimista“, pondera
Graziella Comini, professora-doutora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP) e coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Administração em Terceiro Setor da Fundação Instituto de Administração (Ceats/FIA).
Troca de ideias e ideais
Até
pouco tempo atrás, quando uma empresa pensava em uma nova instalação em
uma comunidade, por exemplo, pouco conhecia do seu dia a dia e de como
suas obras poderiam influenciar o espaço.
Aos poucos, desenvolveu-se a percepção de que as fundações e institutos próximos a esses stakeholders poderiam oferecer uma visão de planejamento mais adequado às ações, reduzindo riscos para o negócio.
Com uma cobrança maior por parte da
sociedade, agregar valores comunitários também passou a trazer ganhos de
imagem para a empresa. O setor privado viu-se diante da crescente
necessidade de avaliar ativos intangíveis.
O GIFE usa o termo “unidade de
inteligência social” da empresa para denominar uma fundação – justamente
a ideia de que repertório, competências e rede de relacionamentos
resultantes da natureza da atividade comunitária podem ser úteis para o
negócio. “Um banco que está pensando em produtos financeiros para a nova
classe média brasileira pode chamar a fundação para ajudá-lo a conceber
isso da forma mais adequada ao público-alvo. Na área de infraestrutura,
a fundação pode contribuir para uma mineradora de impacto
socioambiental grande estruturar um plano para lidar melhor com a
comunidade e o meio ambiente. Então, por meio dessas competências, o
negócio pode tornar-se mais sustentável e manejar melhor os seus
impactos”, exemplifica Rossetti.
No sentido de absorver esse conhecimento inerente às fundações, o Instituto Camargo Corrêa tem atuado, desde 2007, no nível da holding
– alinhando o investimento social de 20 companhias do grupo. Cada
empresa se capacita e customiza um projeto do portfólio de acordo com a
própria realidade. Quando um processo tem início em determinada
comunidade, o instituto constitui um comitê para pensar formas de
envolvimento empresa/comunidade e identifica lideranças locais para
convidá-las a integrar o projeto. Após essa etapa, escolhe-se uma boa
prática já adotada no Brasil e o instituto promove a interação entre os
comitês, visitas e debates para replicagem do modelo. Há também oficinas
especificas para elaboração de projetos e a busca de parceiros locais.
“O grande desafio é fazer as empresas entenderem que a responsabilidade
social deve fazer parte dos negócios e não ser apenas um ‘braço’. E o
papel do instituto é mostrar os caminhos para envolvê-las e ajudá-las a
pensar no assunto”, destaca Francisco Azevedo, diretor executivo do
Instituto Camargo Corrêa.
Como
algumas empresas permanecem por muitos anos nas localidades onde atuam,
o desenvolvimento dessas regiões pode gerar diversos benefícios mútuos,
como a descoberta de talentos locais para trabalhar na própria
companhia.
“Preocupar-se com a elevação da
qualidade de ensino dos municípios é um investimento social descolado da
empresa diretamente, pois está se investindo na comunidade, em
princípio. Mas há interesse do negócio porque, na medida em que se eleva
a escolaridade de uma região, pode-se contratar mais facilmente,
evitando deslocamento e desistência de colaboradores.
Além disso, outras organizações –
inclusive concorrentes -, são beneficiadas com o aumento da qualidade da
mão de obra local”, reflete Ricardo Piquet, diretor-presidente da Fundação Vale. A empresa patrocina o Movimento HotSpot Brasil de incentivo a novos talentos em diversas área profissionais, com foco em inovação.
Por ter um olhar para o planejamento
mais efetivo no longo prazo, os institutos e fundações podem ampliar
essa consciência aos colaboradores da empresa, auxiliando na melhoria de
sua gestão. Quando uma nova indústria da Votorantim
vai ser aberta, por exemplo, o instituto trabalha junto ao negócio
diagnosticando impactos e oportunidades para alavancar o desenvolvimento
do território; questiona, entre outros aspectos, quais ações são
necessárias para fazer com que os empregos gerados sejam ocupados por
residentes da região e, a partir disso, monta programas para sanar as
fragilidades identificadas.
Como o instituto entra em ação antes do
início da obra e pode permanecer após a sua saída, também investe em
ações para evitar a dependência da comunidade da empresa. “A presença da
companhia gera crescimento econômico por natureza. Percebemos isso
observando os indicadores dos municípios. Nosso desafio é transformar
esse processo em desenvolvimento sustentável”, destaca Rafael Gioielli,
gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Votorantim.
Com o programa Futuro em Nossas Mãos,
o instituto qualifica colaboradores da comunidade – principalmente para
a construção civil -, e acaba absorvendo esses profissionais por meio
da articulação com os parceiros de construção de suas fábricas. Já o
programa Evoluir forma jovens para postos de trabalho dentro da
empresa: eles estagiam em outras unidades e voltam para a comunidade no
início da operação. “Para a empresa isso é muito importante porque não
precisamos levar funcionários de outras regiões”, destaca Gioielli.
O Instituto Votorantim foi criado em
2002 com o objetivo de qualificar e definir o foco do investimento
social do grupo. “A Gerência Geral de Sustentabilidade da empresa
estipula os projetos socioambientais dentro do ciclo de planejamento
estratégico para todos os negócios, enquanto o instituto participa da
elaboração dos temas e fornece as metodologias e tecnologias adequadas
para desenvolvê-los no âmbito social”, destaca David Canassa, gerente
geral de Sustentabilidade da Votorantim Industrial.
Para viabilizar seus projetos, o
instituto prepara funcionários da empresa para a gestão em cada unidade
de atuação. Nesse processo, os colaboradores também começam a ter noção
da importância de considerar os aspectos socioambientais para o sucesso
do negócio. “No desenvolvimento de uma planta nova, por exemplo, um
engenheiro pensará na logística para a produção sair da fábrica e chegar
à estrada da forma mais rápida, podendo desconsiderar os impactos na
comunidade. É o papel dele. O instituto consegue enxergar que, muitas
vezes, é preciso fazer um desvio, pois a empresa pode ter prejuízos
posteriores, como ações de indenização das famílias afetadas”,
exemplifica Gioielli.
Esse cuidado no planejamento,
considerando os impactos no longo prazo, é crucial para a perenidade dos
negócios. “Se uma empresa não entende sua realidade como um todo,
sofrerá as consequências dessa falta de conhecimento. Qualquer companhia
cuidadosa está construindo relações de respeito para não correr esse
risco”, enfatiza Christopher Pinney, senior fellow do The Aspen Institute, voltado ao fomento de valores com base em liderança e na discussão de questões sociais críticas.
Com base no trabalho que vem realizando
nos Estados Unidos, Pinney identificou que o grande potencial das
fundações está justamente em educar a companhia para a realidade social
na qual ela opera e ajudá-la a entender onde precisa mudar seu
comportamento para tornar-se mais efetiva. “Há um grande espaço para os
institutos desempenharem um papel mais catalisador. No modelo
tradicional, eles operam completamente separados da empresa. Agora,
precisamos de um alinhamento muito maior”, avalia.
Porém, tanto institutos e fundações como
as áreas de sustentabilidade das empresas começaram apenas recentemente
a exercer alguma influência sobre a gestão dos negócios. E, na medida
em que se profissionalizam, desempenham um papel fundamental para a
concepção de projetos integrados.
A partir da evolução dos conceitos, o Instituto Algar
readaptou sua estrutura de atuação. “Evoluímos nosso trabalho quando
nossa responsabilidade passou do investimento social privado para a
sustentabilidade. Há cinco anos o instituto é responsável, em todo o
grupo, pelo programa de sustentabilidade na gestão dos negócios”,
destaca Camila Fioranelli, coordenadora interina do Instituto Algar. O
programa Algar Sustentável, sob sua coordenação, estabelece um comitê focado no tema em cada empresa, composto por um colaborador de cada área.
Segundo Pinney, nos EUA esse tipo de
alinhamento entre a corporação e o instituto tem crescido
significativamente. Companhias como IBM desenvolvem
ações conjuntas nos níveis de filantropia, instituto e empresa,
construindo uma rede dinâmica e eficiente. “A grande vantagem de se ter
uma mediação fora da companhia é a criação de um canal de comunicação
mais aberto, transparente e com maior credibilidade”, avalia.
Desafios e soluções em rede
Cada
vez mais a atuação dos institutos e fundações estará em consonância com
as estratégias de suas empresas mantenedoras. Entretanto, fazer com
operem dentro dos padrões tradicionais do mundo corporativo poderia
significar um erro, até porque o modelo de gestão tradicional das
empresas ainda encontra-se atrasado em relação às questões
socioambientais. Por outro lado, alguns aspectos práticos dos negócios
podem contribuir para uma atuação mais efetiva de seus institutos. O
desafio é construir linguagem e dinâmica conjuntas.
“A mentalidade dos dois grupos é de
independência e segmentação. Pouco a pouco novas brechas estão sendo
abertas – de forma ainda muito tímida, se pensarmos no potencial de
sinergia e na geração de novos negócios”, reflete Luiz Ros, gerente da
área de Oportunidades para a Maioria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Profissionais que hoje
atuam nas fundações e vieram do terceiro setor podem não ter tanta
abertura na hora de tratar da integração com o setor privado. “Eles
muitas vezes tendem a desprezar ou não colocar a relação com a empresa
como prioridade, preferem a postura de ‘deixa que eu faço e quanto menos
intromissão, melhor’. Nessa ânsia por autonomia, muitas vezes
descolam-se do negócio. Mas o entendimento é muito importante para
disseminar o que a fundação está fazendo, envolver e conscientizar
colaboradores em outro nível, não apenas por meio do voluntariado”,
destaca Graziella, do Ceats/FIA.
O movimento de conscientização na
maneira de fazer negócios ainda não chegou à dimensão formal das
empresas, mas já está latente nos profissionais que as compõem. Segundo
Rossetti, do GIFE, as trocas existentes e a riqueza do relacionamento
evidenciam que essa separação é apenas um jeito antigo de pensar e agir
e, na medida em que evoluírem, trarão benefícios a todos. “Ainda há
necessidade de aprender muito mais com a escuta da comunidade sobre a
humildade necessária para lidar com processos complexos como educação,
saúde pública e meio ambiente. As soluções para esses problemas não são
simples”, avalia.
A mudança da cultura organizacional, que
abrange desde a percepção de tempo à razão de existir, pode ser lenta.
Porém, não há mais tantas resistências. Nesse sentido, o Instituto
Votorantim desenvolveu, em 2008, a metodologia de Engajamento das Partes Interessadas,
com a aplicação de cases-piloto, em 2009 e 2010. “Durante esse
processo, integrantes da atual Gerência Geral de Sustentabilidade
estiveram junto com o instituto nas operações para a aplicação in loco.
Ajustes foram feitos e hoje temos uma metodologia padrão para todos os
nossos negócios”, revela Canassa, da Votorantim Industrial.
Nessa integração entre empresa e instituto, alguns cuidados devem ser observados. Para Graziella, do Ceats, a energia de business
de “tudo para ontem” pode atropelar o ritmo das fundações, fazendo com
que se perca a sua contribuição mais preciosa: as parcerias arranjadas
com cautela e no tempo certo. Outras características como negociação,
trabalho colaborativo e o olhar cuidadoso para as necessidades do outro
fazem parte do planejamento estratégico de uma fundação.
“O foco da empresa em resultado é muito
positivo. O lado negativo é usar a mesma noção para o tempo: ou seja, o
resultado no curto prazo. No social não se obtém isso: precisam-se
considerar as diferentes métricas, tempos e movimentos. O receio também é
trazer pessoas do negócio que desconhecem a dinâmica social, muito mais
colaborativa, participativa e lenta no processo decisório.”
Mostrar o resultado dessa integração
para estimular o trabalho das empresas também representa um desafio. É o
que o Instituto Camargo Corrêa visa fazer estruturando um estudo de
caso – no município de Pedro Leopoldo (MG) – que evidencie os benefícios
do investimento social para o poder público, sociedade e,
principalmente, para o negócio.
A unidade de cimentos da empresa
instalada na região teve a maior produtividade no ano de 2011 –
exatamente quando mais investiu no social e mais funcionários foram
envolvidos nos projetos. “A própria pesquisa de clima corporativo já
apontou uma melhoria significativa depois do investimento social. Hoje,
ainda são raros os exemplos evidentes, mas esperamos com isso estimular
cada vez mais as empresas a investirem nessa interação”, destaca
Azevedo, do Instituto Camargo Corrêa.
Colocar na ponta do lápis essas
melhorias é o caminho para estimular os trabalhos em parceria e mudar o
olhar das empresas sobre suas fundações. “O fato de se estar precisando
melhorar esses dados permite também que a empresa consiga enxergar
aquilo como parte de seu negócio”, avalia Marina Grossi, do CEBDS.
Para engajar de fato os colaboradores,
os temas socioambientais não podem estar distantes do seu dia a dia. “A
empresa e as pessoas sentem-se envolvidas quando o tema tem a ver com o
que fazem. Estamos em um momento na sociedade no qual temos de aprender
muito com a experiência de cada um, precisamos nos considerar parte do
problema e da solução. Por isso é muito importante criar estratégias
para que se consiga fazer esse debate dentro da empresa”, destaca
Graziella.
Sair do discurso e ir para a prática
representa outra fronteira a ser ultrapassada – particularmente pelos
institutos. “O desafio é ir além de um discurso poético, apesar de a
crença ser muito importante. Mas o instituto, hoje, é tratado como parte
do negócio e precisa dar resultado. A diferença é que o resultado dele
não está no lucro, e sim na evolução dos projetos”, avalia Eliane Garcia
Melgaço, vice-presidente de Marketing e Sustentabilidade da Algar.
Repensando o terceiro setor
Com
a ascensão da sustentabilidade, muitas rupturas aconteceram dentro e
fora do âmbito de atuação das empresas. Agora, fundações e institutos,
juntamente com o terceiro setor, precisam rever seus papéis. “Se no
caminho de tornarem-se cada vez mais atores sociais as empresas
incorporarem muito do que os institutos e fundações fazem hoje, de certa
forma essas instituições não precisariam mais existir; no entanto
poderiam rever sua vocação”, pontua o estudo do GIFE.
E, na medida em que os negócios
redirecionam seus recursos para institutos e fundações, o terceiro setor
perde voz; perde seus profissionais qualificados para as empresas, onde
passam a receber salários mais altos. Surge aí um ponto que exige
reflexão, justamente para que esse processo não se torne mais um aspecto
negativo do mundo globalizado. Há uma crise na captação de recursos
pelo terceiro setor gerada exatamente pelo novo posicionamento das
empresas.
“Atualmente, há uma tendência cada vez
maior de as companhias investirem em seus projetos empresariais.
Precisaríamos de um estudo estatístico para saber se elas investem na
esfera social por meio de fundações e institutos, mas o investimento
privado no terceiro setor diminuiu depois do movimento da
sustentabilidade. Hoje, as organizações da sociedade civil estão se
debatendo em busca de recursos”, alerta Merege, do Iats.
Uma saída está na profissionalização das
ONGs para que busquem outras formas da captação financeira e
diversifiquem suas fontes de forma eficiente. “Do ponto de vista
estratégico seria importante que as empresas se unissem às ONGs nas
comunidades para obterem resultados mais velozes por meio dessas
parcerias. O governo também não despertou para a importância das
organizações da sociedade civil como forma de investir”, avalia Merege.
Nessa
fase de transição do papel das ONGs, as empresas podem ajudar muito na
melhoria de gestão, de acordo com Pinney, do Aspen Institute.
“Ambos os lados devem ser claros sobre
seus objetivos e encontrar metas comuns nos projetos, além de
estabelecer como vão medir o progresso nesse sentido. Então, há alguns
passos básicos para negociar uma boa parceria – e nisso as empresas têm
experiência.”
A Ford Foundation é um
exemplo de fundação que conseguiu caminhar com as próprias pernas e
contribuir para a sociedade. Criada por Edson Ford, em 1936, tornou-se
completamente independente a partir de 1972. Ao longo dos anos, tem
documentado as formas como as comunidades colaboram para a gestão de
recursos naturais, principalmente nas florestas.
Pablo Farias, vice-presidente do programa Ativos e Oportunidades Econômicas
da Ford Foundation, conta como as comunidades da Amazônia têm ajudado
na redução do desmatamento, tanto pelo reconhecimento de sua importância
e dos direitos dos indivíduos quanto pelo entendimento de que o manejo
das florestas é central para criar novas políticas e mecanismos para o
gerenciamento desses recursos. “Esse tipo de capacidade é única da
filantropia – ter flexibilidade para atuar sem as restrições do espaço
governamental e identificar onde a inovação está acontecendo. Nenhum
outro ator tem capacidade de fazer isso. Nesse processo, as empresas
desempenham um papel chave para estreitar diferentes vozes da sociedade
civil”, avalia.
Futuro compartilhado
Diante
de um quadro que começa a exibir contornos mais evidentes, algumas
possibilidades se explicitam para o futuro. Empresas inteiramente
sustentáveis ainda são utopia, mas podem deixar de ser. Mesmo assim,
parte delas deve manter seus institutos.
E, outra parte, também deve manter o
investimento social de forma dissociada da empresa. Para Graziella, do
Ceats, gerir uma empresa e, ao mesmo tempo, manter certa autonomia para
lidar com a dinâmica social podem ser atividades complementares.
“A sustentabilidade acabou unindo dois
lados, incorporando às empresas ações de institutos – às vezes de
maneira abrupta. Agora, com o movimento mais maduro e as estratégias de
sustentabilidade no core business, essas instituições terão mais asas para voar no sentido de resolver objetivos sociais”, pondera.
De qualquer forma, um olhar integrado
será essencial para a perenidade dos negócios e da sociedade como um
todo. “A questão fundamental é que, atualmente, as tarefas para os
nossos países são muito grandes. Quando se pensa em educação, saúde e
capacitação profissional, o setor privado também precisa refletir de
forma inovadora em como contribuir para lidar e resolver esses problemas
graves. O conhecimento deve ser compartilhado no sentido da criação de
novas modelagens de negócios – algo muito pouco explorado, ainda em
estágio inicial”, avalia Ros, do BID.
Nesse sentido, o Banco Interamericano de Desenvolvimento auxiliou um caso de sucesso junto à Pepsi,
no México. A empresa queria reduzir a quantidade de gordura saturada de
seus produtos e, para isso, necessitava de novos provedores de óleo
vegetal. Por meio de uma ação conjunta com sua fundação, alcançou o
objetivo. Além disso, muitos seguimentos negligenciados podem
proporcionar negócios inovadores. “Desse modo, a empresa atua de forma
complementar – unindo filantropia e área de negócios, construindo novas
relações e ofertando novos serviços. Assim, consegue-se um impacto
social muito maior do que temos visto até hoje”, destaca Ros.
Aqui no Brasil, o Instituto Votorantim conta com parcerias como a do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
para projetos visando alavancar a geração de trabalho e renda nos
municípios em que atua, por meio de sua capilaridade. “Não vamos
substituir o papel do Estado, e sim ajudar a prefeitura a viabilizar o
que necessita. Existem recursos disponíveis para obras de saneamento,
por exemplo, mas não há um plano e um projeto executivo para acessá-lo.
Então, a empresa auxilia na compreensão das linhas de financiamento, em
como buscar recursos para fazer as obras necessárias ao município e a
prefeitura vai atrás”, destaca Gioielli, do Instituto Votorantim.
Também seguindo essa linha de trabalho conjunto, o Instituto BR Foods
coordena a gestão do investimento social da empresa atuando em três
frentes estratégicas: redes intersetoriais, terceiro setor e políticas
públicas. Em 2013, pretende dar início a mais um ramo de atuação:
empregabilidade e empreendedorismo. “Acreditamos que essas quatro
frentes sejam promotoras de desenvolvimento em um município. Não há uma
receita pronta, mas algumas ‘avenidas’ que, se fortalecidas, ajudarão o
local a encontrar sua própria concepção de desenvolvimento”, destaca
Luciana Lanzoni, diretora executiva do Instituto.
O incentivo fiscal para projetos
público-privados pode ser uma boa solução nesse sentido – desde que não
pensado de forma utilitarista, principalmente em períodos eleitorais.
“Se existem políticas públicas consistentes para engajar a sociedade, o
resultado é positivo. O incentivo fiscal é uma ferramenta muito
importante, mas o Estado precisa estar estruturado para usá-la bem,
senão acaba acontecendo simplesmente uma apropriação privada de dinheiro
público”, pontua Rossetti, do GIFE.
Para Merege, do Iats, a ideia dos três
setores trabalhando em conjunto precisa amadurecer, a exemplo do que
aconteceu na cidade de Jacksonville, na Flórida (EUA), onde há mais de
30 anos se tem essa visão para melhorar a qualidade de vida da
comunidade com base em uma metodologia de indicadores em nove dimensões –
entre elas, sociabilidade, saúde e segurança. A cada ano a cidade
mensura dados, avalia o cenário e discute onde governos, empresas e ONGs
podem atuar. “Em alguns países como Itália, Espanha e EUA existem
exemplos impressionantes de como a união entre os três setores pode
modificar a realidade numa velocidade muito grande”, ressalta. A ideia
de que a união faz a força, afinal, apesar de chavão, faz muito sentido.
Sobre radicalismo demais
É no mínimo surreal ver o "classe média" ou
"playboy" como prefere a periferia, querendo ser mais radical do que os
trabalhadores e mais indignado do que os excluidos, sem no entanto,
nunca ter passado fome ou apanhado da polícia. É por essas e outras que
acabo vendo no PT, com todas as suas imperfeições e vacilos, muito mais
verdade e sinceridade do que em seus derivados pretensiosos. desculpa,
mas é que não me acostumo!
Sobre Amizade e Política
Não sou amigo do poder e nem dos poderosos. Tenho carinho por pessoas que costumam ocupar certos espaços, quando passo a apreciar seu caráter e suas posições políticas. Não renego esse afeto diante dos revés da conjuntura e nem das guerras de posição. Também não espero favores e nem vantagens por essas relações. Para mim, amizade e política coexistem. Mas são coisas distintas!
O mito de Aquiles e Heitor e o vilipêndio ao Projeto Popular derrotado em Fortaleza
Se não pode haver pactos entre leões e homens tal qual no mito de Aquiles e Heitor. Tampouco haverá entre elite e povo. E isso fornece explicação sustentável para o insistente vilipêndio ao projeto popular vencido nas últimas eleições em Fortaleza-CE.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Fortaleza: O Reveillon 2013 e o protagonismo do prefeito eleito
Na verdade, nunca considerei papel da Prefeitura e muito menos do Estado realizar reveillon para beneficiar principalmente aos grandes empreendimentos ligados à hotelaria e ao Trade Turístico do Ceará. Independente de quem esteja à frente da Prefeitura. E ver o governador tomando a frente e realizando o evento que tradicionalmete é feito pela prefeitura de Fortaleza, me passa uma impressão ruim do protagonísmo do novo prefeito. Na minha humilde compreenção esperava ver o novo gestor buscando um diálogo com a gestora em fim de gestão e acertando política e diplomaticamente a realização do evento. Ver o Governador chamar arbitrariamente para si essa responsabilidade, me pareceu um tipo de desautorização ao prefeito eleito. Mas pode ter sido só impressão.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O segundo escalão de Roberto Cláudio e o perfil inicial da gestão
A expectativa agora é para o anúncio do
segundo escalão do prefeito eleito de Fortaleza. Geralmente é nesse espaço
que se evidencia o caráter de barganha dos cargos administrativos com os
vereadores e políticos. E nessas trocas, geralmente a qualidade técnica e a eficiência administrativa constumam sair avariadas. Mas como ele passou bem pelo primeiro teste que
foi a escolha do primeiro escalão, está com um certo saldo positivo.
Essas nomeações vão delineando um perfil inicial para a nova
gestão. E no mais, na base aliada do seu governo tem muita gente qualificada e competente que pode perfeitamente ser aproveitada sem prejuizo da eficácia e ainda atender aos interesses de seus apoiadores.Vamos esperar para conferir!
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
"Os loucos são os outros"?
Afinal, o que é mesmo a loucura? Quantas características de algum tipo de distúrbio psicológico você consegue identificar em amigos, pessoas próximas, conhecidos, personalidades, ou em você mesm@?
Responda se "os loucos são os outros", ou somos todos nós, em alguma proporção. Analise-se com sinceridade a partir dos seguintes "indicadores":
A saber: Sintomas Psicopatas :
Principais Sintomas
1. - Encanto superficial e manipulação
Nem todos psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utilizam o encanto pessoal e, conseqüentemente capacidade de manipulação de pessoas, como meio de sobrevivência social.Através do encanto superficial o psicopata acaba coisificando as pessoas, ele as usa e quando não o servem mais, descarta-as, tal como uma coisa ou uma ferramenta usada. Talvez seja esse processo de coisificação a chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos do psicopata para com seus semelhantes ou para com os sentimentos de seu semelhante. Transformando seu semelhante numa coisa, ela deixa de ser seu semelhante.O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se sucedem no psicopata. Partindo do princípio de que não se pode manipular alguém que não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse alguém foi antes seduzido.
2. - Mentiras sistemáticas e Comportamento fantasioso.
Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada.O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não se importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente desprazer quando mente. E mente, muitas vezes, sem nenhuma justificativa ou motivo.Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo, quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de suicídio, etc.É comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre circunstâncias reais. Isso porque sua personalidade é narcisística, quer ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, à seu personagem do momento, de acordo com a circunstância e com sua personalidade é narcisística. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um personagem verdadeiro.
3. - Ausência de Sentimentos Afetuosos
Desde criança se observa, no psicopata, um acentuado desapego aos sentimentos e um caráter dissimulado. Essa pessoa não manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por nada e mantém-se normalmente indiferente aos sentimentos alheios.Os laços sentimentais habituais entre familiares não existem nos psicopatas. Além disso, eles têm grande dificuldade para entender os sentimentos dos outros mas, havendo interesse próprio, podem dissimular esses sentimentos socialmente desejáveis. Na realidade são pessoas extremamente frias, do ponto de vista emocional.
4. - Amoralidade
Os psicopatas são portadores de grande insensibilidade moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência morais, bem como noção de ética.
5. - Impulsividade
Também por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, o psicopata não tem freios eficientes à sua impulsividade. A ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à falta de sentimentos morais, impulsiona o psicopata a cometer brutalidades, crueldades e crimes.Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às frustrações, refletindo-se na desproporção entre os estímulos e as respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos mínimos e triviais. Por outro lado, os defeitos de caráter costumam fazer com que o psicopata demonstre uma absoluta falta de reação frente a estímulos importantes.
6. - Incorregibilidade
Dificilmente ou nunca o psicopata aceita os benefícios da reeducação, da advertência e da correção. Podem dissimular, como dissemos, durante algum tempo seu caráter torpe e anti-social, entretanto, na primeira oportunidade voltam à tona com as falcatruas de praxe.
7. - Falta de Adaptação Social
Já nos primeiros contatos sociais o psicopata, desde criança, manifesta uma certa crueldade e tendência a atividades delituosas. A adaptação social também fica comprometida, tendo em vista a tendência acentuada do psicopata ao egocentrismo e egoísmo, características estas percebidas pelos demais e responsável pelas dificuldades de sociabilidade.Mesmo no meio familiar o psicopata tem dificuldades de adaptação. Durante o período escolar tornam-se detestáveis tanto pelos professores quanto pelos colegas, embora possam dissimular seu caráter sociopático durante algum tempo. Nos empregos a inconstância é a característica principal.
Fonte: http://psicopatasss.blogspot.com.br/2009/08/sintomas-psicopatas.html
Responda se "os loucos são os outros", ou somos todos nós, em alguma proporção. Analise-se com sinceridade a partir dos seguintes "indicadores":
A saber: Sintomas Psicopatas :
Principais Sintomas
1. - Encanto superficial e manipulação
Nem todos psicopatas são encantadores, mas é expressivo o grupo deles que utilizam o encanto pessoal e, conseqüentemente capacidade de manipulação de pessoas, como meio de sobrevivência social.Através do encanto superficial o psicopata acaba coisificando as pessoas, ele as usa e quando não o servem mais, descarta-as, tal como uma coisa ou uma ferramenta usada. Talvez seja esse processo de coisificação a chave para compreendermos a absoluta falta de sentimentos do psicopata para com seus semelhantes ou para com os sentimentos de seu semelhante. Transformando seu semelhante numa coisa, ela deixa de ser seu semelhante.O encanto, a sedução e a manipulação são fenômenos que se sucedem no psicopata. Partindo do princípio de que não se pode manipular alguém que não se deixe manipular, só será possível manipular alguém se esse alguém foi antes seduzido.
2. - Mentiras sistemáticas e Comportamento fantasioso.
Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a mentir que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e com atitude completamente neutra e relaxada.O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não se importa, não tem vergonha ou arrependimento, nem sequer sente desprazer quando mente. E mente, muitas vezes, sem nenhuma justificativa ou motivo.Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo, quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo fazer-se arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de suicídio, etc.É comum que o psicopata priorize algumas fantasias sobre circunstâncias reais. Isso porque sua personalidade é narcisística, quer ser admirado, quer ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a realidade à sua imaginação, à seu personagem do momento, de acordo com a circunstância e com sua personalidade é narcisística. Esse indivíduo pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequada para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que estão, de fato, em frente a um personagem verdadeiro.
3. - Ausência de Sentimentos Afetuosos
Desde criança se observa, no psicopata, um acentuado desapego aos sentimentos e um caráter dissimulado. Essa pessoa não manifesta nenhuma inclinação ou sensibilidade por nada e mantém-se normalmente indiferente aos sentimentos alheios.Os laços sentimentais habituais entre familiares não existem nos psicopatas. Além disso, eles têm grande dificuldade para entender os sentimentos dos outros mas, havendo interesse próprio, podem dissimular esses sentimentos socialmente desejáveis. Na realidade são pessoas extremamente frias, do ponto de vista emocional.
4. - Amoralidade
Os psicopatas são portadores de grande insensibilidade moral, faltando-lhes totalmente juízo e consciência morais, bem como noção de ética.
5. - Impulsividade
Também por debilidade do Superego e por insensibilidade moral, o psicopata não tem freios eficientes à sua impulsividade. A ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à falta de sentimentos morais, impulsiona o psicopata a cometer brutalidades, crueldades e crimes.Essa impulsividade reflete também um baixo limiar de tolerância às frustrações, refletindo-se na desproporção entre os estímulos e as respostas, ou seja, respondendo de forma exagerada diante de estímulos mínimos e triviais. Por outro lado, os defeitos de caráter costumam fazer com que o psicopata demonstre uma absoluta falta de reação frente a estímulos importantes.
6. - Incorregibilidade
Dificilmente ou nunca o psicopata aceita os benefícios da reeducação, da advertência e da correção. Podem dissimular, como dissemos, durante algum tempo seu caráter torpe e anti-social, entretanto, na primeira oportunidade voltam à tona com as falcatruas de praxe.
7. - Falta de Adaptação Social
Já nos primeiros contatos sociais o psicopata, desde criança, manifesta uma certa crueldade e tendência a atividades delituosas. A adaptação social também fica comprometida, tendo em vista a tendência acentuada do psicopata ao egocentrismo e egoísmo, características estas percebidas pelos demais e responsável pelas dificuldades de sociabilidade.Mesmo no meio familiar o psicopata tem dificuldades de adaptação. Durante o período escolar tornam-se detestáveis tanto pelos professores quanto pelos colegas, embora possam dissimular seu caráter sociopático durante algum tempo. Nos empregos a inconstância é a característica principal.
Fonte: http://psicopatasss.blogspot.com.br/2009/08/sintomas-psicopatas.html
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Manoel Andrade Neto nas paginas Azuis do OPOVO - Reconhecimento justo e merecido demais!
Manoel Andrade Neto
O que ele fez foi muito pouco. Tão mínimo, acredita que nem mereça menção. Na visão do professor Manoel Andrade Neto, 53 anos, os feitos e conquistas nada mais são que um reflexo do amor por uma terra chamada Cipó. De tão pequeno, o lugar nem distrito de Pentecostes (a 103 km de Fortaleza) chega a ser. Ainda assim, desse lugarejo de morada de apenas 10 famílias, partiu a ideia de modificar a vida de um povo. Manoel ousou: ao invés de seguir as carreiras dos pais, os filhos dos agricultores poderiam ser o que desejassem.
E foi desse jeito que resolveu reunir um grupo de alunos para que jovens e outros nem tanto assim ensinassem uns aos outros. Manoel seria somente o motivador. Arrumaria transporte, alimentação, livros. E na educação mútua, de troca de saberes, ensinamentos e, principalmente, de vontade de estudar, surgiu o Programa de Educação em Células Cooperativas, antes Projeto Educacional Coração de Estudante (Prece). Foram sete os primeiros alunos, em 1994, que devem se converter em mais de 25 mil participantes em 2013.
De tanto que cresceu, o Prece original deixou de ter controle sobre outras sedes abertas Brasil afora. E, apesar de ter ajudado a formular o programa, o sonho do professor é justamente não precisar mais dele. “O que eu sonho não é que o Prece cresça. O meu sonho é que a gente possa ser forte o suficiente para influenciar o desenvolvimento das escolas públicas. Minha vontade era que, daqui a dez anos, dissesse que o Prece foi feito por um grupo de pessoas que sonhou, mas que hoje a gente não precise mais dele, porque a escola é muito boa”, ensina.
O POVO – Vamos começar pelo início. O Prece surgiu em 1994, na comunidade rural de Cipó, em Pentecoste, com apenas sete estudantes. O que incentivou o senhor a ter essa ideia?
Manoel Andrade Neto – Bem, o Prece nasceu de uma mistura de coisas. De uma experiência que eu tive quando eu tinha uns 16 anos. Eu saí do interior com noves anos para morar na casa dos meus avós, em Fortaleza. Eles tinham fugido da seca na década de 1940 e acabaram no bairro Panamericano. Ela (avó) era uma mulher muito obstinada, queria muito que os filhos estudassem, mas eles não puderam estudar muito. Meu pai mal assina o nome. E quando eu tinha uns 16 anos, eu estudava numa escola de bairro, no Panamericano, e conheci um jovem que me convidou para participar de um grupo. “O que o grupo faz?”, eu perguntei. “A gente estuda no (bairro) Jóquei Clube”, ele disse. Ele me perguntou o que eu mais gostava de estudar e eu falei que era Biologia. A minha ligação com o Interior? Ele disse: “Ah, você gosta de Biologia, então você vai ensinar a gente Biologia”. Cada um tinha uma função no grupo. Ele era de Matemática, tinha uma pessoa da História... Então, depois eu criei outro grupo, com outros amigos da escola, e começamos a estudar. Quando eu já terminava o ensino médio, nós estudávamos ali próximo ao Liceu (do Ceará, no bairro Jacarecanga), na casa de um pai de um amigo nosso. E eu queria era estudar. Tinha tentado várias coisas de trabalho. Vendi maçã na rua, na praça José de Alencar; vendi livros; fui do exército, mas nada dava certo. Essa experiência de grupo de estudo foi muito forte. Nós fizemos vestibular e do nosso grupo, apenas um não foi aprovado. Eu fui aprovado para Química. Entrei na universidade e nosso grupo se desfez.
OP – E qual era a situação financeira da sua família?
Manoel – Meus pais eram pobres, são agricultores, bem simples, e meus avós também.
OP – E foi a experiência do grupo de estudo da casa próxima ao Liceu que estimulou o senhor?
Manoel – A experiência foi muito forte mesmo. Aquilo ficou na minha cabeça. Terminei a Química, fui trabalhar fora, voltei, fiz mestrado e quando comecei o doutorado e ganhei um pouco mais de dinheiro, comecei a retornar para Pentecoste nos fins de semana. Quando era menino, passava quatro meses de férias lá. Cipó não chega nem a ser um distrito, é uma localidadezinha que nem tinha escola quando eu tinha nove anos de idade. Eu fui alfabetizado na casa de uma vizinha. Comprei uma moto, então todo o fim de semana, eu voltava para lá. Eu queria muito ajudar a comunidade.
OP – Foi quando começou com o grupo de estudo?
Manoel – Eu comecei a organizar campeonatos de futebol. Ia para os jogos aos domingos, comecei a organizar campeonatos de todos os times da área rural de Pentecoste. Mas, com o passar do tempo, eu já estava cansado de organizar. Ficava revoltado ao ver a dependência muito grande da política, principalmente na época de eleição. As pessoas ficavam vendendo voto.
OP – Para conseguir jogar?
Manoel – Não, por outros motivos. Mas eu pensei que tinha que fazer alguma coisa que fosse diferente do futebol. Eu tive a ideia de convidar algumas pessoas para montar um grupo de estudos, inspirado na ideia do meu amigo que me convidou para o grupo do Jóquei Clube. O nome dele era Flávio Barbosa Barroso, ele faleceu há dois anos. No Cipó, chamamos vários jovens para estudar debaixo do pé de juazeiro, mas somente seis homens e uma mulher aceitaram.
OP – Como eram os estudos?
Manoel – Eu não posso dizer que eu ensinava, eu era o estimulador. O que eu fiz? Eu botei os meninos para estudar juntos. Eu sabia que não era a minha aula que ia resolver, eles tinham que ter estímulo, motivação. E como eu ajudava? Eu os colocava no meu carro, trazia para a universidade, para mostrar o museu, visitar os cursos. E eles me viram como alguém da região, que não era da mesma idade porque eles eram mais novos, mas como alguém que tinha tido sucesso. Não era um cara rico, mas tinha um emprego, eu já era professor da universidade (UFC) desde essa época. Eu disse a eles que eles também podiam entrar na universidade, que eles podiam ter sucesso na vida. E eles tinham muita vontade de mudar de vida.
OP – Eles tinham terminado o ensino médio ou estavam cursando?
Manoel – Não, não. Um tinha 20 anos e tinha abandonado a escola na 4ª série. Outro estava com 18 anos e fazendo a 6ª série. Tinha outro com 18 anos também, fazendo a 6ª série, mas ainda estava na escola. Só um tinha terminado o ensino médio, mas pelo sistema supletivo. Eram jovens completamente excluídos educacionalmente. Numa casa de farinha que a gente tinha lá (no Cipó), que estava abandonada, eles começaram a ensinar uns aos outros. O sucesso deles foi atraindo outros jovens também. E alguns desses jovens passaram a morar na casa de farinha.
OP – Numa cidade pequena, isso não gerou comentários maldosos?
Manoel – Gerou sim. Porque alguns pais não gostavam muito da ideia de eles estudarem. Queriam que eles trabalhassem no campo e os jovens queriam mudar de vida. Eles também se sentiam rejeitados na própria comunidade, então ir para lá (casa de farinha) era uma forma de refúgio. Porque alguns desses jovens ficavam sem fazer nada. Aí o pessoal do Interior dizia que era perda de tempo, porque não valorizavam muito isso. E começaram a criticar, porque os meninos estavam morando junto, acharam que eram homossexuais. Os jovens começaram, então, a se agregar. Foi nesse período que eles se fortaleceram. Depois de dois anos, um desses estudantes, o Francisco Antônio, o Toinho, fez vestibular para Pedagogia e foi aprovado. Foi uma festa.
OP – Foi daí que a comunidade passou a valorizar a ideia?
Manoel – Quando ele entrou na universidade, conseguimos residência para ele, se alimentava no restaurante universitário e retornava todo fim de semana comigo. Era um jovem da comunidade, da idade deles, e isso trouxe uma grande motivação para a comunidade. Seis meses depois, o Francisco José também fez vestibular e foi aprovado na UFC, no último vestibular semestral. Estávamos com dois estudantes aprovados no vestibular. Depois, mais dois outros estudantes foram aprovados na UFC. Em 1998, tínhamos quatro estudantes na UFC, retornando todo fim de semana para ajudar outros estudantes. A gente criou o Projeto Educacional Coração de Estudante (Prece), por causa da música (Coração de Estudante) do Milton Nascimento. Esse nome pegou, e nós criamos uma instituição registrada. Mas com o tempo, o nome da instituição ficou sem sentido. A coisa cresceu tanto, criou tantos projetos, que fomos obrigados a mudar de nome em 2004. O projeto foi registrado na Pró-reitoria de Extensão (da UFC). Em 2004, mudado de projeto para programa de extensão, porque tinham vários (projetos) já. O Prece ficou Programa de Educação em Células Cooperativas. Só que o nome Prece significa muito mais que um programa. Ele virou uma marca. Foram criadas mais de 10 instituições a partir do Prece. Tem uma agência de desenvolvimento local, foi criado um programa de rádio, que hoje não existe mais. Esse ingresso dos meninos na universidade e o retorno deles, nos fins de semana comigo fez com que o programa crescesse muito.
OP – E foi daí que se criaram os Preces em Fortaleza.
Manoel – Isso. Criou-se um no Benfica, no Pirambu e depois tiveram vários núcleos que foram se multiplicando.
OP – O Prece nasce do debaixo de um pé de juazeiro, sem apoio de ninguém deu muito certo. O que isso significa para o senhor?
Manoel – É uma pergunta complexa (pausa). O Prece para mim é uma prova contundente que a interação, a cooperação e a solidariedade entre as pessoas são forças e instrumentos fortes para a aprendizagem. É uma compreensão que eu tenho com muita clareza. A gente aprende muito interagindo com as pessoas. Muito mais que você simplesmente recebendo aula. Não tenho dúvidas em relação a isso.
OP – Quem financiava o Prece? Ele precisou de dinheiro no início?
Manoel – No início, as despesas do Prece eram de coisas que não eram contabilizadas. Os meninos precisavam vir fazer prova em Fortaleza. Aí eu trazia no meu carro e passavam dois dias na minha casa. Livros, eu pedia aos meus amigos, como doações, e levava. Depois, os meninos entraram na universidade e precisaram de uma bolsa para viver. E a universidade foi ajudando com bolsa. Começou a aumentar o número de alunos que passou no vestibular e meu carro já não dava para levá-los. A UFC, então, deu o transporte num primeiro momento, depois já não podia dar mais. A gente então tinha que alugar carro, ônibus.
OP – Hoje, o Prece tem quantos estudantes?
Manoel – É difícil dar essa resposta. Nós temos ações mais organizadas em Pentecostes, Apuiarés, Paramoti, Umiri. O Prece é uma entidade descentralizada.
OP – Que papel o senhor pensa em ainda alcançar com o Prece?
Manoel – A educação é um dever do estado. Então, nós hoje estamos cada vez mais envolvidos com o estado, sendo a palavra “estado” no sentido geral. Estamos hoje ajudando o estado com a nossa experiência, a multiplicar uma ideia. Não é alguém de fora. Se ele não tivesse deficiência, não precisaria da nossa ajuda. Estamos trabalhando em cima disso. O primeiro desafio foi a UFC, que olhou o Prece e pensou: “será que podemos levar o gene do Prece para a graduação?”. Assim nasceu o Programa de Aprendizagem Cooperativa, da graduação da UFC. Hoje temos o programa com 250 bolsistas de vários cursos, em todos os cantos da UFC. Foi criado também na Coordenadoria de Protagonismo Estudantil da Seduc (Secretaria da Educação do Ceará) um movimento para estimular estudantes de escola pública a também montarem grupos de estudos.
OP – O senhor achava que o Prece ganharia uma dimensão tão importante?
Manoel – Não, desse jeito não. Eu tinha uma visão de que os meninos poderiam entrar na universidade, podiam mudar de vida, ser agentes de transformação das suas comunidades.
OP – Quais foram os louros colhidos pelo Prece para além da aprovação do vestibular?
Manoel – Através desses ‘matutos do interior’, nós temos um grande processo de multiplicação da rede. Já saímos do Estado do Ceará e tem um programa criado em Mato Grosso inspirado no daqui. Os professores estão sendo contaminados com a metodologia da aprendizagem cooperativa. Temos uma escola de educação profissional lá em Pentencoste. Este ano, pretendemos atingir 25 mil alunos. Tudo isso aconteceu por conta daqueles primeiros sete estudantes que acreditaram e conseguiram compartilhar o que sabiam. Dos sete estudantes, um abandonou e os outros seis se graduaram. Um deles, terminou agora o doutorado em química. Esse menino tinha abandonado os estudos na quarta série e estava com 20 anos e hoje é pesquisador na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Outro menino que estava na sexta série, com 18 anos, hoje está terminando o doutorado em Fitopatologia, na Universidade Rural de Pernambuco. O outro é agrônomo, a outra é professora de História, um outro é mestre em Educação e outro é graduado em Teologia. Só um que desistiu. O mais importante não é isso, não. Se só eles tivessem tido sucesso, era legal. Mas nós contabilizando cerca de 500 estudantes, todos lá de Pentecoste, que passaram pelos grupos do Cipó, que estão na universidade a partir desse movimento.
OP – O Prece dá a oportunidade a uma pessoa que mora no interior de estudar para ser o que ela quiser, não é isso?
Manoel – O que ela quiser. Agora, o meu sonho é que a gente possa ser forte o suficiente para influenciar o desenvolvimento das escolas públicas, entendeu? A gente sonha que a gente possa influenciar o desenvolvimento das escolas públicas, para que toda criança tenha uma escola pública de qualidade desde o momento que ela começa a estudar. Entenda: se nós tivermos uma população mais educada, ela vai saber exigir mais dos governos. Ao invés de querer tomar o papel de educador, a gente tem é de dizer assim: eu vou votar num prefeito, num governador que vai ter um olhar na educação, porque eu sei que desenvolvendo a educação, tudo vai se desenvolver. A gente vai montar o Prece enquanto ele for preciso. A visão é de que é preciso melhorar a educação brasileira e não assumir o papel que é de lugar da escola.
OP – O senhor considera sua formação um exemplo e conquista?
Manoel – Acho que essa titulação acadêmica que eu conquistei foi uma coisa que aconteceu paralelo. O Prece foi um trabalho de extensão, que foi feito movido pelo coração. O que eu aprendi na academia não tem influência direta aqui. Agora, o mundo vive disso, os títulos valem alguma coisa. Talvez as relações que eu construí na pós-graduação tenham influenciado... Nada que foi feito aqui nasceu do banco da academia. Nasceu de uma paixão pela educação, de uma relação com o lugar, entendeu?
OP – O senhor acha que mudaram as prioridades das pessoas das comunidades onde o programa atuou?
Manoel – Na área da educação, sem dúvida, o impacto do Prece é grande. Hoje, os jovens têm o desejo de ir para a universidade. Em qualquer comunidade rural, tem muito menino sonhando com isso. Porque eles têm vários colegas na universidade e que mudaram de vida. O que a gente gostaria muito de impactar era na renda, na politização. Mas se o cara não tem como se sustentar, ele fica sempre dependente. A gente gostaria de afetar, mas isso pode levar 20, 30 ou 50 anos. Na educação, já afetou.
OP – Aonde o Prece quer chegar?
Manoel – Eu posso responder onde eu gostaria que ele chegasse. Quando eu penso num futuro para o Prece, não penso em criar um programa em qualquer lugar. A ideia não é chegar ao mundo. Se nós conseguíssemos que esse caso de Pentecoste desse certo – e esse dar certo significa não só o menino ir para a universidade, mas criar uma situação com que o aluno vá e volte, com apoio de governo e ver as escolas funcionando a contento - acho que isso já é um sonho que vale à pena. A toda criança que entra na escola é dada a oportunidade de aprender e de usar a aprendizagem para a própria vida. Se a gente puder contribuir com isso, eu me sentiria satisfeito. Porque, a partir dessas escolas, todas as outras coisas acontecerão.
Fonte: Jornal O Povo (Páginas azuis).
Encantador de alunos
De filho de agricultores ao pós-doutorado em Química, o caminho de transformação da comunidade de PentecosteO que ele fez foi muito pouco. Tão mínimo, acredita que nem mereça menção. Na visão do professor Manoel Andrade Neto, 53 anos, os feitos e conquistas nada mais são que um reflexo do amor por uma terra chamada Cipó. De tão pequeno, o lugar nem distrito de Pentecostes (a 103 km de Fortaleza) chega a ser. Ainda assim, desse lugarejo de morada de apenas 10 famílias, partiu a ideia de modificar a vida de um povo. Manoel ousou: ao invés de seguir as carreiras dos pais, os filhos dos agricultores poderiam ser o que desejassem.
E foi desse jeito que resolveu reunir um grupo de alunos para que jovens e outros nem tanto assim ensinassem uns aos outros. Manoel seria somente o motivador. Arrumaria transporte, alimentação, livros. E na educação mútua, de troca de saberes, ensinamentos e, principalmente, de vontade de estudar, surgiu o Programa de Educação em Células Cooperativas, antes Projeto Educacional Coração de Estudante (Prece). Foram sete os primeiros alunos, em 1994, que devem se converter em mais de 25 mil participantes em 2013.
De tanto que cresceu, o Prece original deixou de ter controle sobre outras sedes abertas Brasil afora. E, apesar de ter ajudado a formular o programa, o sonho do professor é justamente não precisar mais dele. “O que eu sonho não é que o Prece cresça. O meu sonho é que a gente possa ser forte o suficiente para influenciar o desenvolvimento das escolas públicas. Minha vontade era que, daqui a dez anos, dissesse que o Prece foi feito por um grupo de pessoas que sonhou, mas que hoje a gente não precise mais dele, porque a escola é muito boa”, ensina.
O POVO – Vamos começar pelo início. O Prece surgiu em 1994, na comunidade rural de Cipó, em Pentecoste, com apenas sete estudantes. O que incentivou o senhor a ter essa ideia?
Manoel Andrade Neto – Bem, o Prece nasceu de uma mistura de coisas. De uma experiência que eu tive quando eu tinha uns 16 anos. Eu saí do interior com noves anos para morar na casa dos meus avós, em Fortaleza. Eles tinham fugido da seca na década de 1940 e acabaram no bairro Panamericano. Ela (avó) era uma mulher muito obstinada, queria muito que os filhos estudassem, mas eles não puderam estudar muito. Meu pai mal assina o nome. E quando eu tinha uns 16 anos, eu estudava numa escola de bairro, no Panamericano, e conheci um jovem que me convidou para participar de um grupo. “O que o grupo faz?”, eu perguntei. “A gente estuda no (bairro) Jóquei Clube”, ele disse. Ele me perguntou o que eu mais gostava de estudar e eu falei que era Biologia. A minha ligação com o Interior? Ele disse: “Ah, você gosta de Biologia, então você vai ensinar a gente Biologia”. Cada um tinha uma função no grupo. Ele era de Matemática, tinha uma pessoa da História... Então, depois eu criei outro grupo, com outros amigos da escola, e começamos a estudar. Quando eu já terminava o ensino médio, nós estudávamos ali próximo ao Liceu (do Ceará, no bairro Jacarecanga), na casa de um pai de um amigo nosso. E eu queria era estudar. Tinha tentado várias coisas de trabalho. Vendi maçã na rua, na praça José de Alencar; vendi livros; fui do exército, mas nada dava certo. Essa experiência de grupo de estudo foi muito forte. Nós fizemos vestibular e do nosso grupo, apenas um não foi aprovado. Eu fui aprovado para Química. Entrei na universidade e nosso grupo se desfez.
OP – E qual era a situação financeira da sua família?
Manoel – Meus pais eram pobres, são agricultores, bem simples, e meus avós também.
OP – E foi a experiência do grupo de estudo da casa próxima ao Liceu que estimulou o senhor?
Manoel – A experiência foi muito forte mesmo. Aquilo ficou na minha cabeça. Terminei a Química, fui trabalhar fora, voltei, fiz mestrado e quando comecei o doutorado e ganhei um pouco mais de dinheiro, comecei a retornar para Pentecoste nos fins de semana. Quando era menino, passava quatro meses de férias lá. Cipó não chega nem a ser um distrito, é uma localidadezinha que nem tinha escola quando eu tinha nove anos de idade. Eu fui alfabetizado na casa de uma vizinha. Comprei uma moto, então todo o fim de semana, eu voltava para lá. Eu queria muito ajudar a comunidade.
OP – Foi quando começou com o grupo de estudo?
Manoel – Eu comecei a organizar campeonatos de futebol. Ia para os jogos aos domingos, comecei a organizar campeonatos de todos os times da área rural de Pentecoste. Mas, com o passar do tempo, eu já estava cansado de organizar. Ficava revoltado ao ver a dependência muito grande da política, principalmente na época de eleição. As pessoas ficavam vendendo voto.
OP – Para conseguir jogar?
Manoel – Não, por outros motivos. Mas eu pensei que tinha que fazer alguma coisa que fosse diferente do futebol. Eu tive a ideia de convidar algumas pessoas para montar um grupo de estudos, inspirado na ideia do meu amigo que me convidou para o grupo do Jóquei Clube. O nome dele era Flávio Barbosa Barroso, ele faleceu há dois anos. No Cipó, chamamos vários jovens para estudar debaixo do pé de juazeiro, mas somente seis homens e uma mulher aceitaram.
OP – Como eram os estudos?
Manoel – Eu não posso dizer que eu ensinava, eu era o estimulador. O que eu fiz? Eu botei os meninos para estudar juntos. Eu sabia que não era a minha aula que ia resolver, eles tinham que ter estímulo, motivação. E como eu ajudava? Eu os colocava no meu carro, trazia para a universidade, para mostrar o museu, visitar os cursos. E eles me viram como alguém da região, que não era da mesma idade porque eles eram mais novos, mas como alguém que tinha tido sucesso. Não era um cara rico, mas tinha um emprego, eu já era professor da universidade (UFC) desde essa época. Eu disse a eles que eles também podiam entrar na universidade, que eles podiam ter sucesso na vida. E eles tinham muita vontade de mudar de vida.
OP – Eles tinham terminado o ensino médio ou estavam cursando?
Manoel – Não, não. Um tinha 20 anos e tinha abandonado a escola na 4ª série. Outro estava com 18 anos e fazendo a 6ª série. Tinha outro com 18 anos também, fazendo a 6ª série, mas ainda estava na escola. Só um tinha terminado o ensino médio, mas pelo sistema supletivo. Eram jovens completamente excluídos educacionalmente. Numa casa de farinha que a gente tinha lá (no Cipó), que estava abandonada, eles começaram a ensinar uns aos outros. O sucesso deles foi atraindo outros jovens também. E alguns desses jovens passaram a morar na casa de farinha.
OP – Numa cidade pequena, isso não gerou comentários maldosos?
Manoel – Gerou sim. Porque alguns pais não gostavam muito da ideia de eles estudarem. Queriam que eles trabalhassem no campo e os jovens queriam mudar de vida. Eles também se sentiam rejeitados na própria comunidade, então ir para lá (casa de farinha) era uma forma de refúgio. Porque alguns desses jovens ficavam sem fazer nada. Aí o pessoal do Interior dizia que era perda de tempo, porque não valorizavam muito isso. E começaram a criticar, porque os meninos estavam morando junto, acharam que eram homossexuais. Os jovens começaram, então, a se agregar. Foi nesse período que eles se fortaleceram. Depois de dois anos, um desses estudantes, o Francisco Antônio, o Toinho, fez vestibular para Pedagogia e foi aprovado. Foi uma festa.
OP – Foi daí que a comunidade passou a valorizar a ideia?
Manoel – Quando ele entrou na universidade, conseguimos residência para ele, se alimentava no restaurante universitário e retornava todo fim de semana comigo. Era um jovem da comunidade, da idade deles, e isso trouxe uma grande motivação para a comunidade. Seis meses depois, o Francisco José também fez vestibular e foi aprovado na UFC, no último vestibular semestral. Estávamos com dois estudantes aprovados no vestibular. Depois, mais dois outros estudantes foram aprovados na UFC. Em 1998, tínhamos quatro estudantes na UFC, retornando todo fim de semana para ajudar outros estudantes. A gente criou o Projeto Educacional Coração de Estudante (Prece), por causa da música (Coração de Estudante) do Milton Nascimento. Esse nome pegou, e nós criamos uma instituição registrada. Mas com o tempo, o nome da instituição ficou sem sentido. A coisa cresceu tanto, criou tantos projetos, que fomos obrigados a mudar de nome em 2004. O projeto foi registrado na Pró-reitoria de Extensão (da UFC). Em 2004, mudado de projeto para programa de extensão, porque tinham vários (projetos) já. O Prece ficou Programa de Educação em Células Cooperativas. Só que o nome Prece significa muito mais que um programa. Ele virou uma marca. Foram criadas mais de 10 instituições a partir do Prece. Tem uma agência de desenvolvimento local, foi criado um programa de rádio, que hoje não existe mais. Esse ingresso dos meninos na universidade e o retorno deles, nos fins de semana comigo fez com que o programa crescesse muito.
OP – E foi daí que se criaram os Preces em Fortaleza.
Manoel – Isso. Criou-se um no Benfica, no Pirambu e depois tiveram vários núcleos que foram se multiplicando.
OP – O Prece nasce do debaixo de um pé de juazeiro, sem apoio de ninguém deu muito certo. O que isso significa para o senhor?
Manoel – É uma pergunta complexa (pausa). O Prece para mim é uma prova contundente que a interação, a cooperação e a solidariedade entre as pessoas são forças e instrumentos fortes para a aprendizagem. É uma compreensão que eu tenho com muita clareza. A gente aprende muito interagindo com as pessoas. Muito mais que você simplesmente recebendo aula. Não tenho dúvidas em relação a isso.
OP – Quem financiava o Prece? Ele precisou de dinheiro no início?
Manoel – No início, as despesas do Prece eram de coisas que não eram contabilizadas. Os meninos precisavam vir fazer prova em Fortaleza. Aí eu trazia no meu carro e passavam dois dias na minha casa. Livros, eu pedia aos meus amigos, como doações, e levava. Depois, os meninos entraram na universidade e precisaram de uma bolsa para viver. E a universidade foi ajudando com bolsa. Começou a aumentar o número de alunos que passou no vestibular e meu carro já não dava para levá-los. A UFC, então, deu o transporte num primeiro momento, depois já não podia dar mais. A gente então tinha que alugar carro, ônibus.
OP – Hoje, o Prece tem quantos estudantes?
Manoel – É difícil dar essa resposta. Nós temos ações mais organizadas em Pentecostes, Apuiarés, Paramoti, Umiri. O Prece é uma entidade descentralizada.
OP – Que papel o senhor pensa em ainda alcançar com o Prece?
Manoel – A educação é um dever do estado. Então, nós hoje estamos cada vez mais envolvidos com o estado, sendo a palavra “estado” no sentido geral. Estamos hoje ajudando o estado com a nossa experiência, a multiplicar uma ideia. Não é alguém de fora. Se ele não tivesse deficiência, não precisaria da nossa ajuda. Estamos trabalhando em cima disso. O primeiro desafio foi a UFC, que olhou o Prece e pensou: “será que podemos levar o gene do Prece para a graduação?”. Assim nasceu o Programa de Aprendizagem Cooperativa, da graduação da UFC. Hoje temos o programa com 250 bolsistas de vários cursos, em todos os cantos da UFC. Foi criado também na Coordenadoria de Protagonismo Estudantil da Seduc (Secretaria da Educação do Ceará) um movimento para estimular estudantes de escola pública a também montarem grupos de estudos.
OP – O senhor achava que o Prece ganharia uma dimensão tão importante?
Manoel – Não, desse jeito não. Eu tinha uma visão de que os meninos poderiam entrar na universidade, podiam mudar de vida, ser agentes de transformação das suas comunidades.
OP – Quais foram os louros colhidos pelo Prece para além da aprovação do vestibular?
Manoel – Através desses ‘matutos do interior’, nós temos um grande processo de multiplicação da rede. Já saímos do Estado do Ceará e tem um programa criado em Mato Grosso inspirado no daqui. Os professores estão sendo contaminados com a metodologia da aprendizagem cooperativa. Temos uma escola de educação profissional lá em Pentencoste. Este ano, pretendemos atingir 25 mil alunos. Tudo isso aconteceu por conta daqueles primeiros sete estudantes que acreditaram e conseguiram compartilhar o que sabiam. Dos sete estudantes, um abandonou e os outros seis se graduaram. Um deles, terminou agora o doutorado em química. Esse menino tinha abandonado os estudos na quarta série e estava com 20 anos e hoje é pesquisador na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Outro menino que estava na sexta série, com 18 anos, hoje está terminando o doutorado em Fitopatologia, na Universidade Rural de Pernambuco. O outro é agrônomo, a outra é professora de História, um outro é mestre em Educação e outro é graduado em Teologia. Só um que desistiu. O mais importante não é isso, não. Se só eles tivessem tido sucesso, era legal. Mas nós contabilizando cerca de 500 estudantes, todos lá de Pentecoste, que passaram pelos grupos do Cipó, que estão na universidade a partir desse movimento.
OP – O Prece dá a oportunidade a uma pessoa que mora no interior de estudar para ser o que ela quiser, não é isso?
Manoel – O que ela quiser. Agora, o meu sonho é que a gente possa ser forte o suficiente para influenciar o desenvolvimento das escolas públicas, entendeu? A gente sonha que a gente possa influenciar o desenvolvimento das escolas públicas, para que toda criança tenha uma escola pública de qualidade desde o momento que ela começa a estudar. Entenda: se nós tivermos uma população mais educada, ela vai saber exigir mais dos governos. Ao invés de querer tomar o papel de educador, a gente tem é de dizer assim: eu vou votar num prefeito, num governador que vai ter um olhar na educação, porque eu sei que desenvolvendo a educação, tudo vai se desenvolver. A gente vai montar o Prece enquanto ele for preciso. A visão é de que é preciso melhorar a educação brasileira e não assumir o papel que é de lugar da escola.
OP – O senhor considera sua formação um exemplo e conquista?
Manoel – Acho que essa titulação acadêmica que eu conquistei foi uma coisa que aconteceu paralelo. O Prece foi um trabalho de extensão, que foi feito movido pelo coração. O que eu aprendi na academia não tem influência direta aqui. Agora, o mundo vive disso, os títulos valem alguma coisa. Talvez as relações que eu construí na pós-graduação tenham influenciado... Nada que foi feito aqui nasceu do banco da academia. Nasceu de uma paixão pela educação, de uma relação com o lugar, entendeu?
OP – O senhor acha que mudaram as prioridades das pessoas das comunidades onde o programa atuou?
Manoel – Na área da educação, sem dúvida, o impacto do Prece é grande. Hoje, os jovens têm o desejo de ir para a universidade. Em qualquer comunidade rural, tem muito menino sonhando com isso. Porque eles têm vários colegas na universidade e que mudaram de vida. O que a gente gostaria muito de impactar era na renda, na politização. Mas se o cara não tem como se sustentar, ele fica sempre dependente. A gente gostaria de afetar, mas isso pode levar 20, 30 ou 50 anos. Na educação, já afetou.
OP – Aonde o Prece quer chegar?
Manoel – Eu posso responder onde eu gostaria que ele chegasse. Quando eu penso num futuro para o Prece, não penso em criar um programa em qualquer lugar. A ideia não é chegar ao mundo. Se nós conseguíssemos que esse caso de Pentecoste desse certo – e esse dar certo significa não só o menino ir para a universidade, mas criar uma situação com que o aluno vá e volte, com apoio de governo e ver as escolas funcionando a contento - acho que isso já é um sonho que vale à pena. A toda criança que entra na escola é dada a oportunidade de aprender e de usar a aprendizagem para a própria vida. Se a gente puder contribuir com isso, eu me sentiria satisfeito. Porque, a partir dessas escolas, todas as outras coisas acontecerão.
Fonte: Jornal O Povo (Páginas azuis).
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
PC do B, PDT e PSB na Gestão de Roberto Cláudio
Gostei dos espaços entregues ao PDT, PSB e PC do B no primeiro escalão da nova gestão municipal de Fortaleza. Os nomes indicados foram de grande nível e possibilitarão um debate oxigenado acerca dos caminhos administrativos e das políticas públicas na nossa capital. Destaque especial para Ivo Gomes (PSB) na Secretaria de Educação do Município. Afinal, depois de criticar ferrenhamente o desempenho desse setor na gestão de Luzianne Lins, Ivo teve a coragem de assumir a pasta e agora terá a oportunidade de implementar o que afirmava faltar na gestão passada. O futuro promete!
Perder com decência é importante. Ganhar com ela, também!
A conturbada eleição para a prefeitura de Fortaleza nos mostrou que nosso modelo democrático ainda é muito imperfeito e deixa margens à várias ações questionáveis. Seja na justiça eleitoral, na mídia, nas ruas e ou nas redes sociais é importante que "ganhadores" e "perdedores" manifestem suas análises sobre os acontecimentos que "dividiram Fortaleza ao meio" nas últimas eleições. E que "ganhem" e "percam" com decência! Quem não pode perder é o povo! E isso sim, será indecente se acontecer!
Quanto ao jornalísmo do O Povo, creio ser desnecessário registrar o " leve riso de canto de boca, do prefeito eleito de Fortaleza, Roberto Cláudio" ao comentar a ação do PT contra sua eleição. A não ser que a intenção de seu jornalísmo esteja voltada para o fomento à animosidade crescente entre os grupos políticos locais e para a divulgação de um certo "cinísmo" do Prefeito eleito. Se nenhuma dessas intenções estão presentes na sua matéria, penso que foi infeliz tal registro.
Mais no Link: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/12/20/noticiasjornalpolitica,2975161/sobre-acao-prefeito-eleito-cobra-que-pt-perca-com-decencia.shtml
Quanto ao jornalísmo do O Povo, creio ser desnecessário registrar o " leve riso de canto de boca, do prefeito eleito de Fortaleza, Roberto Cláudio" ao comentar a ação do PT contra sua eleição. A não ser que a intenção de seu jornalísmo esteja voltada para o fomento à animosidade crescente entre os grupos políticos locais e para a divulgação de um certo "cinísmo" do Prefeito eleito. Se nenhuma dessas intenções estão presentes na sua matéria, penso que foi infeliz tal registro.
Mais no Link: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/12/20/noticiasjornalpolitica,2975161/sobre-acao-prefeito-eleito-cobra-que-pt-perca-com-decencia.shtml
Élcio Batista - Uma opção animadora para a Coordenadoria de Juventude da Prefeitura de Fortaleza
Gostei do anúncio de Élcio Batista para a Coordenadoria das Juventudes. É um ótimo nome! Agora, é acreditar na qualidade de Élcio, na sua capilaridade e na sua condição de inovar. Capacidade e conteúdo para tanto, ele tem. Outra aparente vantagem é que o mesmo conhece muito bem o Projeto CUCA com o qual já colaborou. E é também conhecedor das diversas variáveis que envolvem e determinam os problemas e as buscas de soluções para a temática das juventudes.
Sem dúvida, o estilo de condução da pasta mudou completamente e pouco ou nada restará da forma que a Coordenadoria vinha sendo conduzida nos últimos oito anos. Mas certamente não perderá sensibilidade social e nível político. A escolha me agradou bastante!
Parabéns ao Élcio e vamos de imediato retomar os debates e os trabalhos. O Crack avança! O desemprego juvenil também, a violência dizima a juventude que carece de qualificação profissional e ainda mais acesso ás políticas públicas.
A Coordenadoria precisa avançar no tocante à intersetorialidade das ações governamentais voltadas para os jovens. E programas como o CRED Jovem e áreas como a Economia Criativa voltada para o aproveitamento e potencialização dos talentos juvenis necessitam de atenção imediata.
Vamos aguardar os primeiros movimentos do sociólogo!
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Sobre certas crises envolvendo Casa Grande e Feitor
Sempre tive muita dificuldade de apoiar ou
mesmo solidarizar-me com repressores. Sempre considerei que os mesmos
jamais serão confiáveis. E tenho muitas dúvidas se seus interesses
chegam a convergir em algum instante com os interesses dos oprimidos e
por estes reprimidos. Quando os vejo em choque com o poder que os
instrumentaliza contra o povo, tenho grande tendência a ver isso como
uma pequena divergência no quintal da
casa grande entre o feitor e o senhor, divergindo sobre métodos de
tortura, o melhor chicote a ser empregado nas costas dos escravos,
melhor remuneração para o feitor e outras coisas do gênero. Deve ser
preconceito meu. Mas é assim que tenho percebido essas coisas. Vou
refletir e estudar mais! Principalmente vou rever "Guerra de posição" em
Gramsci pra tentar perceber importância tática ou estratégica no apoio à
feitores aparentemente rebelados contra a Casa Grande.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
O despejo na comunidade Nova Estiva no Serviluz e o silêncio ensurdecedor na Cidade
Gostaria de ver mais intelectuais, ativistas, militantes, autoridades e políticos comentando a ação de despejo sofrida pela comunidade da Nova Estiva no Serviluz. Os acontecimentos cotidianos que envolvem o choque entre as duas Fortalezas divididas pela força do dinheiro deveriam despertar o interesse e atenção dos pensadores e formadores de opinião de nossa cidade. Pessoas arrancadas de suas casas e de seu local de convivência social e comunitária para atender a interesses insensíveis, são mais importantes do que as festejadas peripécias políticas dos bastidores do poder que tanto pautam os jonalísmos, redes sociais e rodas de conversa regadas à cerveja e muito pedantísmo. Se vai ter Réveillon, ou não? Não! Não haverá Réveillon, e nem Natal, para essas pessoas despejadas em pleno reinado do Papai Noel.
Roberto Cláudio acena com uma uma Agência de Desenvolvimento para Fortaleza.
Uma agência de Desenvolvimento para uma cidade como Fortaleza com nítida vocação para serviços, carecendo de um modelo pautado pela valorização da energia limpa, da sustentabilidade e das tecnologias sociais inovadoras representa uma das ferramentas mais estratégicas para nosso futuro. Não deve ser implantada e conduzida pela visão da economia de mercado tradicional sob pena de tornar-se pouco útil e disperdiçar uma grande oportunidade.
Nesse momento em que surgem especulações sobre sua criação e também sobre seus prováveis postulantes, devemos opinar e torcer para que nesse instrumento encontre espaços os conceitos e práticas fomentadoras da Economia Criativa, do Desenvolvimento Endógeno, do Empreendedorismo e da Economia Social.
É importante que sejam ouvidos setores já engajados na discussão, elaboração e atuação com esses temas como as Universidades, o Banco do Nordeste, Sudene, Secretaria Nacional de Economia Criativa do Ministério da Cultura e a Rede Estadual de Economia Criativa (E-Criativa) fomentada pelas secretarias da Educação e da Cultura do Governo estadual.
É muito importante o envolvimento dos intelectuais, técnicos, ativistas e estudiosos do tema. Não devemos relegar essa questão à uma mera acomodação política dos aliados da nova gestão municipal. É a qualidade do desenvolvimento de Fortaleza que está em jogo.
No mais, saúdo a intenção de se criar essa importante ferramenta.
Mais sobre o assunto: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/12/17/noticiasjornalpolitica,2972965/quandoentenda-a-noticia.shtml
Johnson Sales - Consultor em Economia Criativa e Advocacy e Empreendedor Social da Rede Global Ashoka Empreendedores Sociais.
Sobre a equipe de governo do novo prefeito de Fortaleza
Sobre a montagem do secretariado e equipe de governo do novo prefeito de Fortaleza, aguardo com espectativa e cito um grande e polêmico pensador florentino para ilustrar meu interesse nessa questão:
"A primeira imprensão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam."
(Maquiavel).
Expectativa de espaços na gestão de RC movimenta aliados
Pelo menos sete partidos, apoiadores de primeira hora ou não, admitem ao O POVO interesse em participar da administração Roberto Cláudio (PSB). Três deles - PSD, PSC e PPS -, citam áreas para onde gostariam de ir“Tivemos uma primeira reunião há uns 15 dias, e temos a sinalização de que a partir dessa semana deveremos, em cima de uma pauta que o Roberto preparou, ter outras conversas”, diz Almircy Pinto, presidente do PSD no Ceará. Ele admite que o partido – que apoiou RC desde o primeiro turno – indicou três nomes e tem expectativas de integrar a gestão, sobretudo na área de reabilitação de usuários de drogas.
Outros partidos na mesma situação são o PPS e o PSC. O primeiro admite, segundo o presidente Alexandre Pereira, buscar a Agência de Desenvolvimento Econômico, conforme informou ontem O POVO.
Já o PSC, apesar de ter apoiado Elmano de Freitas (PT) na eleição deste ano, afirma ter bons quadros para as áreas de combate às drogas e trânsito, inclusive para a instalação do Bilhete Único.
“Nós apoiamos o Elmano, mas a eleição passou e o Roberto não pode ser prefeito de um só segmento. Ficamos de marcar uma conversa sobre o partido, para ver como o prefeito vê o PSC dentro do governo dele”, diz o vereador eleito Wellington Saboia (PSC), presidente municipal da legenda.
Há ainda outro grupo de partidos, que sinaliza interesse por espaços no Executivo, mas não chega a definir áreas específicas de interesse. “Para qualquer área que ele puder oferecer, nós temos pessoas para exercer um trabalho de qualidade. Temos muitos engenheiros e professores no partido”, afirma o vereador José do Carmo, presidente do PSL no Ceará.
Apoiadores do 2º turno
Na mesma situação estão o PDT, PRTB e o PPL, partidos que tiveram candidaturas próprias na eleição, mas que apoiaram o PSB no segundo turno. Já o DEM, que apoiou RC no segundo turno com Moroni Torgan, afirma que não deverá buscar espaços no Executivo.
Quando
ENTENDA A NOTÍCIA
Nas últimas semanas, o prefeito eleito Roberto Cláudio tem se dedicado a realizar diagnóstico da gestão municipal de Fortaleza. O anúncio oficial da composição do secretariado deverá sair até o sábado, 23.
Saiba mais
Partidos que admitem buscar posições e delimitam áreas
PSD - reabilitação de dependentes químicos
PSC - combate às drogas e ordenamento de trânsito
PPS - Agência de Desenvolvimento Econômico de Fortaleza
Partidos que admitem querer espaços, mas não delimitam áreas
PDT
PSL
PRTB
PPL
Serviço
Coletiva de imprensa para balanço da transição Luizianne/RC
Quando: hoje à tarde
Onde: Superintendência Caixa Econômica, no Centro
Fonte: Jornal O Povo.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Organização sem hierarquia é possível?
No livro Emergência (A Dinâmica de Rede em Formigas, Cérebros, Cidades) Steven Johnson descreve como sistemas complexos se organizam sem hierarquia. Para quem gosta de imaginar outras formas de organização social menos autoritárias, o livro é uma grande pedida. Eu recomendo a leitura!
Um dos exemplos mais interessantes citados no livro é o discoideum:
"O *discoideum tem uma vida dupla e paradoxal. Ora ele é um, ora ele
é muitos. Tudo dependendo das condições ambientais favoráveis ou
desfavoráveis que se lhe apresentem. “Quando o ambiente é mais hostil, o
discoideum age como um organismo único; quando o clima refresca e
existe uma oferta maior de alimento, ‘ele’ se transforma em ‘eles’. O
discoideum oscila entre ser uma criatura única e uma multidão”. (p. 10)
*Discoideum: É um eucariota primitivo que transita, durante o seu ciclo de vida, de uma colecção de amibas unicelulaes para um conjunto multicelular e depois para um corpo frutificante.
"Ele descreve o fenômeno que batiza o
livro, que observa pequenos indivíduos em atividades simples guiarem,
inconscientemente, o comportamento macro de coletivos formados por esses
seres, sejam formigas ou softwares de reconhecimento de padrão. Assim,
descobre que a natureza não trabalha com líderes e descreve o conflito
entre a lógica vigente e a emergência como sendo o contraponto entre
sistemas "top-down" (de cima para baixo, em que todos obedecem a
hierarquias) e "bottom-up" (de baixo para cima).
Traçando paralelos e buscando novos padrões, Johnson passa por campos científicos novíssimos e completamente alienígenas para o leitor médio, como biomatemática, morfogênese e ciência da complexidade. Mas seu grande trunfo é mastigar esses bichos-de-sete-cabeças em uma linguagem agradável e texto fluido, citando pelo caminho referências pop, como o game "The Sims" ou a história da computação." (ALEXANDRE MATIAS da Folha de S.Paulo).
Traçando paralelos e buscando novos padrões, Johnson passa por campos científicos novíssimos e completamente alienígenas para o leitor médio, como biomatemática, morfogênese e ciência da complexidade. Mas seu grande trunfo é mastigar esses bichos-de-sete-cabeças em uma linguagem agradável e texto fluido, citando pelo caminho referências pop, como o game "The Sims" ou a história da computação." (ALEXANDRE MATIAS da Folha de S.Paulo).
Um dos exemplos mais interessantes citados no livro é o discoideum:
"O *discoideum tem uma vida dupla e paradoxal. Ora ele é um, ora ele
é muitos. Tudo dependendo das condições ambientais favoráveis ou
desfavoráveis que se lhe apresentem. “Quando o ambiente é mais hostil, o
discoideum age como um organismo único; quando o clima refresca e
existe uma oferta maior de alimento, ‘ele’ se transforma em ‘eles’. O
discoideum oscila entre ser uma criatura única e uma multidão”. (p. 10)
*Discoideum: É um eucariota primitivo que transita, durante o seu ciclo de vida, de uma colecção de amibas unicelulaes para um conjunto multicelular e depois para um corpo frutificante.
"O Principe" na Prefeitura de Fortaleza.
No tocante à gestão de Roberto Cláudio na Prefeitura de Fortaleza é razoável acreditar que as medidas mais duras, mais impopulares e que desagradarão até mesmo aos vereadores e aos partidos políticos aliados, ou não, ocorram logo de início e em sua maioria, de uma só vez. É que entre os mentores e detentores de grande infuência sobre o prefeito eleito, pelo menos um, é apreciador dos ensinamentos de Maquiavel em "O Príncipe" e vez por outra costuma recomendar medidas inspiradas no pensador florentino.
Justiça, mídia e política no Ceará. Uma mistura que vai ganhando consistência!
E a política cearense vai aparentemente
ganhando contornos mais marcantes de uma ingerência crescente sobre a
justiça e uma cumplicidade subserviente explícita da mídia. Resta saber
que tipos de reações isso tudo vai provocar. A sociedade moderna não
costuma comportar-se de forma catatônica diante do avanço de práticas
como essas. Não por muito tempo!
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
O que significa esse aumento da passagem de ônibus em Fortaleza?
E esse aumento repentino da passagem de ônibus
em Fortaleza, sendo produto de uma decisão judicial favorável aos
empresários do setor, e se dando ao "apagar das luzes" de uma gestão que
conseguiu manter durante o seu governo a passagem mais barata do
Brasil, trará que tipo de consequências? Reascenderá o movimento
estudantil e popular? Precipitará as prometidas mobilizações sociais? E o
que significa essa atitude dos empresários e da justiça, nesse momento
em que se encerra a gestão de Luizianne Lins que tem como um dos seus marcos o
baixo (ou menor) custo da passagem? A teoria da conspiração às vezes
guarda um certo teor de credibilidade. Será o caso?
Fortaleza: Teremos dieta para o Leviatãn?
Em relação à nova gestão de Fortaleza: O Leviatãn cresce e se fortalece ainda mais, ou recua e enfraquece? Teremos dieta para o Leviatãn? Os primeiros indícios (Criação de secretarias) apontam para um Leviatãn "se bombando". Mas ainda é muito cedo para se tirar conclusões.
Roberto Claudio anuncia duas novas secretarias
http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2012/12/11/noticiasjornalpolitica,2969372/por-queentenda-a-noticia.shtmlsábado, 8 de dezembro de 2012
CRACK: Não vamos aceitar a violência das internações compulsórias!
Divulgo artigo do Professor Luís Fernando Tófoli. O texto me foi apresentado por Leonardo de Sá. Vale a pena conferir!
A epidemia involuntária e suas consequências
Data de publicação:
30/11/2012
Luís Fernando Tófoli *
Atualmente,
no Brasil, vivemos sob o grave e intenso impacto de uma epidemia que
altera a percepção da realidade e ameaça a nossa sociedade. Convido o
leitor a fazer um pequeno experimento pessoal: repita a frase acima a
diversas pessoas, de variados níveis socioeconômicos e educacionais,
perguntando que epidemia é essa. Não é difícil prever a resposta: crack.
Consideremos, no entanto, a possível existência de outra epidemia: a de
um conjunto de conceitos – memes – associados ao uso crack. Diferente
das garatujas das mídias sociais às quais este nome se encontra agora
ligado, um meme é, academicamente falando, uma ideia que tende a se
replicar e se espalhar como que por contaminação. Concepções políticas e
religiosas, por exemplo, seriam típicos memes. A esta epidemia memética
corresponderia o seguinte conjunto de ideias, todas questionáveis
diante da evidência disponível na literatura sanitária: 1) “vivemos uma
epidemia do uso do crack"; 2) "o usuário de crack não tem condições de
decidir por si mesmo"; 3) "a única solução possível para o usuário de
crack é a internação compulsória".
O termo epidemia do crack
tem sido repetido metodicamente nos meios de comunicação, e é muito
fácil aceitá-lo como verdadeiro. Entretanto, não dispomos de dados que
apontem que tenha havido crescimento inequívoco do uso de crack nas
grandes cidades brasileiras nos últimos anos. Parece claro, no entanto,
ainda que mais dados sejam necessários, que o uso do crack cresceu no
interior do Brasil. Mesmo assim, resta o desafio de esclarecer se o
impacto nestes novos e antigos territórios se deu pelo surgimento de
usuários ou porque houve a migração de consumidores do mercado irregular
(ainda que lícito) de cola de sapateiro e solventes para o mercado
ilegal do crack. A questão, portanto, não está fechada.
A
experiência clínica das iniciativas de redução de danos e sua tradição
de olhar o indivíduo com uso problemático de drogas ilícitas numa
perspectiva mais ampla de cuidados, têm demonstrado que o meme “todo
consumidor de crack perde sua autonomia" é inverídico. Há relatos e
evidências que indicam claramente que quando o dependente de uma droga
cujo uso está associado a grave comprometimento social – como o álcool,
os opiáceos e o crack – é tratado como um sujeito e sua vontade é levada
em consideração, resultados positivos podem ser atingidos.
É,
no entanto, no terceiro meme – o que indica a solução do encarceramento
compulsório ou involuntário como único possível – que residiria o maior
e mais perigoso erro dessa epidemia memética. Além da redução de danos,
existe um vasto conjunto de estratégias que deveriam ser utilizadas. As
respostas às intervenções variam muito de indivíduo para indivíduo, e
nenhuma medida tem como ser mais eficiente do que um conjunto delas, sem
falar na discussão sobre a reforma da legislação de drogas no país.
Isso não quer dizer que não existam casos que necessitem do tratamento
involuntário – quando a equipe de saúde assim decide, diante do risco do
paciente. Mas a melhor evidência disponível nos permite assumir que os
casos que exigem internação involuntária são a exceção e não a regra do
universo de usuários de crack. Por fim, quando analisamos a literatura
sobre tratamento compulsório "aquele determinado pelo poder público e
que no Brasil, até o momento, só pode ser aplicado caso a caso e não em
massa" descobrimos que ele é ineficiente como cuidado à saúde e vem
sendo criticado por sérias distorções éticas.
A epidemia
memética do crack estaria, portanto, assentada sobre distorções da
realidade que têm uma grande aceitabilidade pública. Mas, por que ela
seria um risco à nossa sociedade? Haveria outros problemas além do
relevante – e real – sofrimento pessoal e social causado pelo uso do
crack? Sim. A questão reside nos riscos de se interpretar o uso de crack
como uma doença transmissível e que, portanto, exigiria medidas
radicais de isolamento epidêmico. Diante disso, aceitar-se-ia o uso da
força como medida emergencial e assim se solapariam os direitos
constitucionais, como no caso da ceguidão branca e epidêmica apresentada
no romance Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago.
É,
portanto, extremamente importante que os trabalhadores dos sistemas
únicos de saúde e assistência social não se deixem levar pelo
ofuscamento que contamina a visão sobre o crack no Brasil e seduz os
políticos a soluções fáceis e autoritárias transvestidas de políticas
públicas, como no caso da internação compulsória de usuários do crack
proposta por Eduardo Paes [prefeito], na cidade do Rio de Janeiro. Da
mesma forma, devemos cobrar do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que
tem toda competência para separar o que é epidemia de ideias e o que é
agravo real, superar as pressões políticas e assumir um posicionamento
mais claro de seu discurso, de forma a não sugerir que haja apoio
federal a medidas higienistas e de caráter protofascista.
* Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Especial para a 'Radis'.
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