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domingo, 27 de janeiro de 2013
Sobre crime, castigo e vingança na sociedade moderna
Os crimes devem ser evitados com a oferta de
condições dignas de vida e desenvolvimento para as pessoas; com educação
e várias outras medidas sociais que levem o ser humano a ter boas
perspectivas de futuro; com tratamento preventivo para doenças
psicológicas que possam levar a atentados contra a própria vida ou de
outrem; e com o combate às desigualdades sociais. Depois que o crime
ocorre, qualquer que seja a punição, não deixa de ser uma vingança ou um
atestado de incompetência da sociedade. E a "pena de morte" é o maior
desses atestados e a pior de todas as vinganças!
E eles matam mais uma flor na infrutífera tentativa de deter a primavera
Uma reflexão sobre a morte de Aaron Swartz
O (suposto) suicídio do gênio da programação e ativista Aaron Swartz não é somente uma tragédia, mas um sinal da enorme dimensão do conflito político e ideológico envolvendo defensores de uma Internet livre e emancipatória, de um lado, e grupos organizados dentro do sistema que pretendem privatizar e limitar o acesso à produção intelectual humana, de
outro. Neste sábado (12/01), colunistas de cultura digital de diversos
jornais escreveram sobre a morte do jovem Swartz, aos 26 anos,
encontrado morto em um apartamento de Nova Iorque (cf. os textos de John Schwartz, para o New York Times; Glenn Greenwald, para o The Guardian; Virginia Heffernan, para o Yahoo News; e Tatiana Mello Dias,
para o Estadão). Diante da turbulenta vida do jovem Swartz e seu
projeto político de luta pela socialização do conhecimento, difícil crer
que o suicídio tenha motivações estritamente pessoais, como uma crise
depressiva. A morte de Swartz pode significar um alarme para uma ameaça
inédita ao projeto emancipatório da revolução informacional. O sistema
jurídico está sendo moldado por grupos de interesse para limitação da
liberdade de cidadãos engajados com a luta de uma Internet livre. Tais
cidadãos são projetados midiaticamente como inimigos desestabilizadores
da ordem (hackers). Os usuários da Internet, sedados e dominados
pela nova indústria cultural, pouco sabem sobre o que, de fato, está
acontecendo mundo afora.
A visão pública da Internet do wiz-kid Swartz: os anos de formação
Nascido em novembro de 1986 em Chicago, Aaron Swartz passou a infância e
juventude estudando computação e programação por influência de seu pai,
proprietário de uma companhia de software. Aos 13 anos de idade, foi
vencedor do prêmio ArsDigita, uma competição para websites não-comerciais "úteis, educacionais e colaborativos". Com a vitória no prêmio, Swartz visitou o Massachusetts Institute of Technology
(MIT), onde conheceu pesquisadores da área de Internet. Aos 14 anos,
ingressou no grupo de trabalho de elaboração do versão 1.0 do Rich Site Summary (RSS), formato de publicação que permite que o usuário subscreva a conteúdos de blogs e páginas (feed), lendo-o através de computadores e celulares.
Aos 16 anos frequentou e abandonou a Universidade de Stanford, dedicando-se a fundação de novas companhias, como a Infogami.
Aos 17 anos, Aaron ingressou na equipe do Creative Commons,
participando de importantes debates sobre propriedade intelectual e
licenças open-sources (cf. a participação de Swartz em um debate de 2003). Em 2006, ingressou na equipe de programadores da Reddit,
plataforma aberta que permite que membros votem em histórias e
discussões importantes. No mesmo ano, tornou-se colaborador da Wikipedia
e realizou pesquisas importantes sobre o modo de funcionamento da
plataforma colaborativa (cf. 'Who Writes Wikipedia?'). Em 2007, fundou a Jottit, ferramenta que permite a criação colaborativa de websites de forma extremamente simplificada (veja aqui). Em pouco tempo, Swartz tornou-se uma figura conhecida entre os programadores e grupos de financiamento dedicados a start-ups
de tecnologia. Entretanto, a inteligência e o brilhantismo de Swartz
pareciam não servir para empreendimentos capitalistas. Tornar-se rico
não era seu objetivo, mas sim desenvolver ferramentas e instrumentos,
através da linguagem de programação virtual, para aprofundar a
experiência colaborativa e de cooperação da sociedade.
Aos 21 anos, Aaron ingressou em círculos acadêmicos (como o Harvard University's Center for Ethics)
e não-acadêmicos de discussão sobre as transformações sociais e
econômicas provocadas pela Internet, tornando-se, aos poucos, uma figura
pública e um expert no debate sobre a "sociedade em rede". O
vídeo abaixo, gravado em São Francisco em 2007, mostra o raciocínio
rápido e preciso de Swartz sobre a arquitetura do poder na rede e as
mudanças fundamentais da transição da mídia antes e depois da Internet.
Ativismo cívico e projetos políticos na rede: para além de empresas e lucros
A partir de 2008, Aaron Swartz - um "sociólogo aplicado", como ele se autodenominava - engajou-se em uma série de projetos de cunho político, voltados ao ativismo cívico de base (grassroots) e ao compartilhamento de conteúdo on-line. Dentre eles, destacam-se três projetos específicos: (i) Watchdog, (ii) Open Library e (iii) Demand Progress.
O Watchdog é um website que permite a criação de petições públicas que possam circular on-line. Trata-se de um projeto não lucrativo, cujo mote é Win your campaign for change.
O objetivo é fomentar a prática cidadã de monitoramento de condutas
ilícitas, como se todos fossem "cães de guarda" da democracia. O segundo
projeto, Open Library, pretende
criar uma página da web para cada livro já publicado no mundo. O
objetivo é criar uma espécie de "biblioteca universal" com
bibliotecários voluntários, sendo possível o empréstimo on-line de e-books.
Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, nos quais programadores são
responsáveis pelo registro e criação das páginas (em códigos abertos)
para todos os livros (como diz o site: "Open Library is an open
project: the software is open, the data are open, the documentation is
open, and we welcome your contribution. Whether you fix a typo, add a
book, or write a widget--it's all welcome. We have a small team of
fantastic programmers who have accomplished a lot, but we can't do it
alone!"). O terceiro e mais interessante projeto é o Demand Progress,
plataforma criada por Swartz para conquistar mudanças progressistas em
políticas públicas (envolvendo liberdades civis, direitos civis e
reformas governamentais) para pessoas comuns através do lobbying organizado de base. A atuação do DP se dá de duas formas: através de campanhas on-line
para chamar atenção das pessoas e contatar líderes do Congresso, e
através do trabalho de advocacia pública em Washington "nas decisões por
trás das salas que afetam nossas vidas".
Em 2008, indignado com a passividade dos cientistas com relação ao controle das informações por grandes corporações, Swartz publicou um manifesto intitulado Guerilla Open Access Manifesto. Trata-se de um texto altamente revolucionário, que encerra-se com um chamado: "Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública. Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open Access. Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado" (cf. 'Aaron Swartz e o manifesto da Guerrila Open Acess').
Em 2008, indignado com a passividade dos cientistas com relação ao controle das informações por grandes corporações, Swartz publicou um manifesto intitulado Guerilla Open Access Manifesto. Trata-se de um texto altamente revolucionário, que encerra-se com um chamado: "Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública. Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open Access. Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado" (cf. 'Aaron Swartz e o manifesto da Guerrila Open Acess').
A força criadora do jovem Aaron Swartz residia em um profundo espírito crítico e questionador. Nesta entrevista abaixo (sobre o Progressive Change Campaign), Swartz explica como seu ativismo começou: "Eu
sinto fortemente que não é suficiente simplesmente viver no mundo como
ele é e fazer o que os adultos disseram o que você deve fazer, ou o que a
sociedade diz o que você deve fazer. Eu acredito que você deve sempre
estar questionando. Eu levo muito a sério essa atitude científica de que
tudo que você aprende é provisional, tudo é aberto ao questionamento e à
refutação. O mesmo se aplica à sociedade. Eu cresci e através de um
lento processo percebi que o discurso de que nada pode ser mudado e que
as coisas são naturalmente como são é falso. Elas não são naturais. As
coisas podem ser mudadas. E mais importante: há coisas que são erradas e
devem ser mudadas. Depois que eu percebi isso, não havia como voltar
atrás. Eu não poderia me enganar e dizer 'Ok, agora vou trabalhar para
uma empresa'. Depois que percebi que havia problemas fundamentais os
quais eu poderia enfrentar, eu não podia mais esquecer isso". Nesta entrevista, Aaron (aos 22 anos), esclarece que livros como Understanding Power (de
Noam Chomsky) foram fundamentais para compreender os problemas
sistêmicos da sociedade contemporânea. Todavia, a situação não é
imodificável. O primeiro passo é acreditar que é possível fazer algo.
A luta e a resposta do sistema: do movimento Anti-SOPA à batalha judicial do JSTOR
No final de 2010, Aaron Swartz
identificou uma anomalia procedimental com relação a uma nova lei de
copyright, proposta por Republicanos e Democratas em setembro daquele
ano. A lei havia sido introduzida com apoio majoritário, com um lapso de
poucas semanas para votação. Obviamente, segundo o olhar crítico de
Swartz, havia algo por trás desta lei. O objetivo camuflado era a
censura da Internet.
A partir da união de três amigos, Swartz formulou uma petição on-line
para chamar a atenção dos usuários da Internet e de grupos políticos
dos Estados Unidos. Em dias, a petição ganhou 10.000 assinaturas. Em
semanas, mais de 500.000 assinaturas. Com a circulação da petição,
Democratas adiaram a votação do projeto de lei para uma analise mais
profunda do documento. Ao mesmo tempo, empresas da Internet como Reddit, Google e Tumblr iniciaram uma campanha massiva para conscientização sobre os efeitos da legislação (a lei autorizaria o "Departamento
de Justiça dos Estados Unidos e os detentores de direitos autorais a
obter ordens judiciais contra sites que estejam facilitando ou
infringindo os direitos de autor ou cometendo outros delitos e estejam
fora da jurisdição estadunidense. O procurador-geral dos Estados Unidos
poderia também requerer que empresas estadunidenses parem de negociar
com estes sites, incluindo pedidos para que mecanismos de busca retirem
referências a eles e os domínios destes sites sejam filtrados para que
sejam dados como não existentes", como consta do Wikipedia).
Em outubro de 2011, o projeto foi reapresentado por Lamar Smith com o nome de Stop Online Piracy Act. Em
janeiro de 2012, após um intenso debate promovido na rede, a
mobilização de base entre ativistas chamou a atenção de diversas
organizações, como Facebook, Twitter, Google, Zynga, 9GAG,
entre outros. Em 18 de janeiro, a Wikipedia realizou um blecaute na
versão anglófona, simulando como seria se o website fosse retirado do ar
(cf. 'Quem apagou as luzes em protesto à SOPA?' e 'O apagão da Wikipedia').
A reação no Congresso foi imediata e culminou na suspensão do projeto de lei. Vitória do novo ativismo cívico? Para Swartz, sim. Uma vitória inédita que mostrou a força da população e da mobilização possível na Internet. Mas não por muito tempo. Em um discurso feito em maio de 2012 - que merece ser visto com muita atenção -, Aaron foi claro: o projeto de lei para controlar a Internet irá voltar, com outro nome e outro formato, mas irá voltar...
A reação no Congresso foi imediata e culminou na suspensão do projeto de lei. Vitória do novo ativismo cívico? Para Swartz, sim. Uma vitória inédita que mostrou a força da população e da mobilização possível na Internet. Mas não por muito tempo. Em um discurso feito em maio de 2012 - que merece ser visto com muita atenção -, Aaron foi claro: o projeto de lei para controlar a Internet irá voltar, com outro nome e outro formato, mas irá voltar...
Mas não foi somente através da liderança no movimento de peticionamento
on-line que culminou nos protestos contra o SOPA que Swartz chamou a
atenção das autoridades estadunidenses. Em 2008, Aaron foi investigado
pelo FBI por ter baixado milhões de documentos públicos do Judiciário
mantidos pela empresa Pacer (que cobra pelo acesso a documentos
públicos!). A investigação, entretanto, não resultou em processo
criminal ou civil.
O processo kafkiano que pode estar relacionado com a morte de Swartz
teve início em Julho de 2011, quando o ativista foi processado por
"fraude eletrônica, fraude de computador, de obtenção ilegal de
informações a partir de um computador protegido", a partir de uma
acusação da companhia JSTOR - uma das maiores organizações de
compilação e acesso pago a artigos científicos. O ocorrido foi o
seguinte: Aaron programou um dos computadores públicos da Massachussets Institute of Technology
(MIT) para acessar o banco de dados da JSTOR e fazer download de
artigos científicos de diversas áreas do conhecimento. Em poucos dias,
Swartz baixou mais de 4 milhões de artigos científicos (e não se sabe
qual era o plano inicial de Swartz, ou seja, de que modo ele pretendia
publicar esses documentos de acordo com a tese do open acess movement).
Pelo fato de Swartz ter feito o download de muitos documentos ao mesmo
tempo (mas o acesso pelo computador da instituição não permite isso?),
foi processado por fraude eletrônica e obtenção ilegal de informações.
O sentido de um processo kafkiano (referente ao Processo
da obra literária de Franz Kafka) deve ser melhor explicado. A questão é
que Aaron Swartz não cometeu, a princípio, nenhum ato ilícito (ele
poderia fazer o download de artigos científicos como qualquer acadêmico
logado a uma máquina com acesso ao JSTOR pode). E mesmo depois de
acusado, entregou-se à Justiça e afirmou que não tinha intenção de
lucrar com o ato. Diante do aviso de que a distribuição dos arquivos
infringiria leis nacionais, Aaron devolveu os arquivos digitalizados
para a JSTOR, que retirou a ação judicial de caráter civil. Ou seja:
caso encerrado, correto?
Errado. Após o acordo entre Aaron e a JSTOR, a Promotoria de Justiça de Boston, através da US Attorney
Carmen Ortiz, indiciou Aaron Swartz por diversas ofensas criminais,
pedindo a condenação do ativista em 35 anos de prisão (sic!) e o
pagamento de 1 bilhão de dólares de multa. O processo penal teve início,
sendo oferecido a Swartz a oportunidade de fazer um acordo penal que
reconhecesse sua culpa (plead guilty). Irredutivelmente - mesmo
sendo aconselhado por alguns advogados -, Swartz recusou-se a
declarar-se culpado, por não considerar seus atos como ilícitos. Mesmo
com a intervenção da JSTOR, que reconheceu não se sentir prejudicada
pelos atos de Swartz, a Promotoria continuou a amedrontar Aaron Swartz. O
processo penal - extremamente custoso nos Estados Unidos - esvaziou
suas poucas reservas financeiras e gerou um enorme trauma psicológico. O
julgamento da ação penal estava marcado para Abril de 2013 e Aaron
Swartz recusava-se a comentar o assunto em entrevistas, palestras e
eventos. Alguns especulam que o suicídio está ligado com o processo
penal, considerado por muitos como uma resposta do governo dos Estados
Unidos contra o ativismo libertário de Aaron (na opinião de Greenwald, "Swartz
was destroyed by a "justice" system that fully protects the most
egregious criminals as long as they are members of or useful to the
nation's most powerful factions, but punishes with incomparable
mercilessness and harshness those who lack power and, most of all, those
who challenge power").
Até o momento, não há cartas ou posts de Swartz sobre o assunto. Não há, aliás, confirmação concreta de que houve suicídio (ou se foi uma morte herzogiana,
comum na história brasileira). Trata-se de um grande mistério. Para a
família de Swartz, uma coisa é clara: se houve suicídio, o bullying judicial realizado
pelo Judiciário estadunidense foi um fator que levou o jovem ativista a
encerrar a própria vida, em um sinal de protesto contra todo o injusto
sistema.
As lições de um jovem revolucionário
Há muito o que extrair das falas, dos textos e das ações do gênio da
informática Aaron Swartz. Ativista político, sociólogo aplicado,
defensor da Internet livre, criador de mecanismos de compartilhamento de
dados e crítico da forma como a sociedade global está se estruturando
contra as liberdades básicas, Swartz deixa aos jovens da era da Internet
um forte recado revolucionário: a mudança começa em cada um.
Todo indivíduo possui autonomia para pensar e contestar o que está
posto. Além de contestar, a ação colaborativa pode modificar as
instituições existentes em uma perspectiva pós-capitalista. O
conhecimento pode ser compartilhado, softwares podem ser desenvolvidos
em conjunto e projetos podem ser executados com o financiamento
coletivo.
Informação é poder. Swartz enxergou muito além do que seus
contemporâneos e tentou mobilizar os usuários de Internet para
construção de um outro mundo. Infelizmente, não foi apoiado da forma
como precisava. A reverberação de suas ideias e suas ações ainda é muito
fraca. Mas isso não é motivo para desistência. A brevíssima vida deste
jovem estadunidense pode inspirar corações e mentes. Em tempos de
discussão no Brasil sobre o Marco Civil da Internet, corrupção da
política e agigantamento do Judicário, o resgate a seu pensamento é
necessário. Ainda mais em um país que conta com mais de 80 milhões de
usuários de Internet. A questão é saber se as pessoas terão curiosidade e
interesse em compreender o projeto de vida de Swartz ou se irão
continuar lendo matérias produzidas por corporações interessadas na
limitação da liberdade na Internet.
Eu fico com o projeto de Swartz. Aliás, fique livre para copiar esse texto.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Especial – Negócios do bem (Conteúdo Idéia Sustentável)
Publicado Originariamente em Ideia Sustentável
Por Cristiane Assis
Num antigo armazém de grãos,
de 1871, hoje um charmoso centro cultural na zona portuária carioca,
representantes de 38 países, 180 palestrantes e cerca de 55 acadêmicos
reuniram-se por três dias para o Fórum Mundial de Negócios Sociais (SEWF 2012, na sigla em inglês), realizado em outubro, no Rio de Janeiro. Seu tema, Negócios Sociais: Investindo por Impacto,
colocou em foco as estratégias para estimular a cooperação
multissetorial e os investimentos nos negócios sociais – empreendimentos
lucrativos criados para solucionar problemas da sociedade.
Em meio a uma energia jovem, com
empreendedores de todo o planeta debatendo e transitando pelos
corredores animadamente, trocando cartões e sonhos capazes de salvar o
mundo, os novos ventos não vinham do modelo de negócios em si. Afinal,
fazer o bem via projetos com ações rentáveis não é algo novo; muita
gente de diferentes partes do mundo faz isso há décadas. A novidade é
que mais gente em todo o mundo tem se reunido buscando entender como
fazer mais disso e de forma mais eficiente.
O interesse crescente de investidores é
um bom indicador de que o momento é auspicioso para se falar em negócios
sociais, com olhos bem voltados ao Brasil, que possui muitas carências a
serem supridas, mas, por outro lado, vive certa prosperidade nas
classes C e D, o público-alvo desses projetos. Estima-se que, em 2011,
investimentos de impacto social tenham direcionado nada menos que US$
4,4 bilhões em 2.200 projetos no mundo, sendo mais da metade nos Estados
Unidos e Canadá e o restante especialmente em negócios na Índia,
Rússia, China e países da América Latina e África. Os setores preferidos
foram educação, saúde, crédito e serviços básicos, como água potável e
habitação, não supridos pelos governos.
“Investir
em empresas que tenham não apenas o propósito de lucrar, mas também
contribuir para solucionar problemas sociais, pode parecer uma boa ideia
óbvia. Mas os investidores tradicionalmente têm acreditado que seu
único propósito é fazer dinheiro, e se você quiser resolver um problema
social deve abrir espaço para o governo ou doar para caridade”, diz
Antony Bugg-Levine, autor do livro Investimento de Impacto, ex-diretor da Fundação Rockefeller
e um dos destaques do Fórum. A verdade é que a maioria das pessoas não
gosta de fazer experiências com seu dinheiro e oferecer um caminho “do
meio” as deixa confusas.
Esclarecer essa confusão abre um
potencial enorme para o setor. “Hoje, no mundo, há mais de US$ 100
trilhões disponíveis para investimentos com vistas ao retorno
financeiro. Não estou dizendo que todos os investidores do mundo têm o
perfil de serem sociais, mas se 1% ou 2% disso for direcionado para
esses negócios, certamente eles terão muito mais recursos do que a
filantropia tem hoje”, garante Levine.
Para Carina Pimenta, coordenadora de Relações Institucionais do Fundo Vale,
o que se vê atualmente é um setor investidor com recursos
consideráveis, aprendendo o que são negócios sociais e que há várias
formas de fazê-los, de acordo com as diferentes realidades. O Fundo
investiu cerca de R$ 20 milhões, entre 2009 e 2012, nesse tipo de
negócio, fortalecendo cadeias de valor sustentáveis na Amazônia. No
Fórum, três instituições apoiadas pelo fundo da empresa – Imaflora,
Idesam e Projeto Peabiru – apresentaram seus projetos e resultados.
A diversidade dos negócios sociais
No Brasil, negócios sociais é um tema ainda em discussão, com entendimentos e terminologias diferentes e complexas (veja box). Graziella Maria Comini, coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor
(CEATS), da Universidade de São Paulo, afirma que a expressão “negócios
inclusivos” é preponderante na realidade brasileira. Em outros países,
especialmente onde há legislação específica para o setor, social enterprise
(empresa social) prevalece. Também conhecido por “setor dois e meio”
(2.5), trabalha nas fronteiras do segundo e terceiro setores. Inclui o
terceiro porque pode ser iniciado por organizações não governamentais
(ONGs) sem fins lucrativos, que financiam seus projetos por meio da
venda de produtos ou serviços. Nesse caso, o lucro é obrigatoriamente
reinvestido na organização.
No segundo setor, os negócios sociais
representam empreendimentos, pequenos e médios, focados em melhorar as
condições de vida das classes menos favorecidas por meio da venda de
serviços ou produtos.
Os lucros são reinvestidos e também
podem ser divididos entre os sócios, dependendo do modelo. Ainda no
setor privado, inclui empresas robustas com foco nos segmentos da base
da pirâmide, com a proposta de incluí-los na cadeia de consumo e
produção.
Além das melhores intenções sociais, o
que une todos esses modelos é o mercado capitalista. Os negócios devem
funcionar sob as mesmas regras comerciais de qualquer outro
empreendimento, isto é, operar pela lei da oferta e demanda e utilizar
mecanismos de mercado para atingir seus propósitos sociais de forma
independente dos financiados filantrópicos. Podem até receber doações no
início de suas atividades – o que se mostra quase obrigatório na
maioria dos casos -, mas não depender delas, já que um negócio social
não deve nunca sacrificar sua vocação de ser lucrativo. Se for tão bom a
ponto de crescer e lucrar, beneficiar um número crescente de pessoas e
tornar-se replicável, pode-se dizer que se trata de um “negócio de
impacto”.
“A beleza disso é que o teste de mercado
é importante para validar o impacto social. Vemos muitos empreendedores
criando projetos que julgam ser maravilhosos para uma certa população
carente. Mas nem sempre são. Uma ótima métrica para saber se algo é
necessário é descobrir se a comunidade pagaria um pouco para ter acesso,
ou se o governo pagaria para prover aquele serviço”, diz Daniel Izzo,
do Vox Capital, um dos poucos fundos de investimento estruturados para negócios sociais no Brasil.
“É um campo novo. Uma das razões para
escolhermos o Brasil como sede do Fórum Mundial é que muita gente anda
fazendo coisas interessantes e inovando por aqui, mas as iniciativas
ficam isoladas porque o movimento não está organizado. Não há
associações, entidades, o governo não reconhece o setor, não há
incentivos tributários”, explica Lee Davis, co-fundador da NESsT,
organizadora do evento, que acaba de completar 15 anos de apoio ao
desenvolvimento de empreendimentos sociais em 48 países, incluindo o
Brasil.
Na opinião de Davis, os melhores
exemplos de um sistema realmente organizado para as empresas sociais
estão no Reino Unido. “Eles têm representações e uma agenda nacional
para elaborar estratégias em parceria com o governo, que, por sua vez,
identifica empresas sociais e cria com elas oportunidades para o
desenvolvimento econômico e das populações excluídas.”
Compartilhar as perspectivas de empresas
sociais e investidores, mostrando suas melhores práticas e casos de
sucesso, revela-se fundamental para o desenvolvimento do setor, bem mais
do que a busca por terminologias. Nas necessidades do contexto
amazônico, por exemplo, onde há ausência de capital humano e pressão de
representantes da economia tradicional alterando o cenário de
desenvolvimento, os negócios sociais são uma alternativa importante para
a economia local e uso dos ativos das florestas com manejo sustentável e
geração de renda e recursos. “Para um setor como esse, com imenso
potencial transformador, é fundamental que as iniciativas não se prendam
muito aos conceitos de negócios sociais e como devem se comportar; mais
importante é ter a sustentabilidade enraizada e apostar na diversidade.
Quando o social, ambiental e econômico estão verdadeiramente presentes,
as respostas e os modelos – como por exemplo se deve ou não haver
distribuição de lucro – partem dessas conexões, respondem às realidades
locais”, acredita Camila Pimenta, do Fundo Vale.
Casos de sucesso
A tendência de
desenvolvimento dos negócios sociais nos centros urbanos pode ser
exemplificada por dois empreendimentos com grande potencial de impacto e
crescimento: o Banco Pérola e o Saútil, ambos apoiados pela Artemísia –
desenvolvedora pioneira no Brasil que adota a terminologia “negócios de
alto impacto social” -, por tratar-se de modelos escaláveis com
capacidade de atingir maior número de pessoas.
Desde 2004, a Artemísia já beneficiou
cerca de 45 empresas, tendo acelerado 15 negócios nos últimos dois anos,
com previsão de outros 15 a 20 até 2013. “Depois de passar por uma
aceleradora de negócios, o empreendedor chega mais pronto para o
mercado, ele se prepara para o que vai ser avaliado e para o que o
investidor espera”, explica Mariana Paál Fernandes, líder de parcerias
da organização. “Os investidores estão buscando se aproximar de
aceleradoras como a nossa para entender melhor essa realidade de
negócios” – caso do fundo Vox Capital, hoje parceiro da desenvolvedora.
E foi exatamente assim que o Banco Pérola se
tornou um exemplo emblemático de negócio social. Inspirada pelo Grameen
Bank, de Muhammad Yunus, em 2009 a jovem Alessandra França, à época com
apenas 25 anos, fundou uma instituição de microcrédito voltada a jovens
da periferia de Sorocaba, no interior de São Paulo. Apoiada pela
Artemísia e pela ONG Projeto Pérola, a organização financiou 25
empreendimentos em seu primeiro ano de existência. A história mereceu
reportagem de capa na edição de dezembro de 2010 na revista Ideia Sustentável. De lá pra cá, o negócio prosperou – e muito.
Apresentado-se em inglês no Fórum
Mundial de Negócios Sociais, Alessandra mostrou desenvoltura e segurança
impressionantes para alguém com tão pouca idade. “Os resultados, no
final de 2010, foram muito positivos: a maioria dos jovens teve sucesso
em seus negócios, como cibercafés, hortifrutis, consultorias de
casamentos e tantos outros empreendimentos”, contou. Em 2011, o Banco
Pérola passou a apoiar 130 negócios – cinco vezes mais que no primeiro
ano: o resultado continuou positivo, com uma taxa de inadimplência de
apenas 2% e agregando, então, muitos parceiros.
Em
2012 veio o grande desafio: transformar a ONG em um modelo de
instituição financeira apoiada pelo Banco Central. “Conseguimos há três
meses”, comemora Alessandra.
Agora o Banco Pérola se adapta ao novo
formato, estuda novos produtos financeiros complementares ao
microcrédito, como desconto de recebíveis, alternativas que evitem que
os clientes recorram a agiotas para obter dinheiro rápido e capital de
giro.
Nessa nova fase do negócio, o braço de OSCIP do banco oferecerá aos clientes programas de formação e educação.
“Apoiamos empreendedores com sonhos, mas
sabemos que eles representam apenas 1% dos jovens de comunidades
carentes. Quem usa nosso crédito já tem uma autoestima diferenciada, e
gostaríamos de inspirar outros a empreender, nem que seja em sua própria
vida, numa carreira”, diz Alessandra.
“Meu combustível foi tentar fazer uma
coisa diferente, comecei a trabalhar numa ONG aos 16 anos e vi que os
projetos sempre esbarravam na sustentabilidade econômica. Eu não queria
depender do poder público, de editais e me tornar refém dos parceiros”,
conta. Hoje Alessandra comemora muitos investidores no Banco Pérola,
que, em geral, solicitam taxas de retorno abaixo do mercado. A maior
parte dos recursos, no entanto, vem dos próprios clientes: “Eles
crescem. E pagam!”
Outro negócio social de sucesso é o portal de internet Saútil. “No
Brasil, 75% da população não têm plano de saúde e depende do SUS; isso
representa 140 milhões de pessoas. A maior parte delas não sabe onde
fazer consultas, como tomar uma vacina, onde conseguir remédios
gratuitos”, conta Edgar Morato, designer e especialista em comunicação
que fundou o negócio em sociedade com o médico Fernando Fernandes, em
2011. “A gente apenas sabia que queria fazer uma empresa lucrativa que
ajudasse as pessoas”, diz Morato. Decidiu-se, então, que essa forma de
ajudar seria entendendo e traduzindo para a população como funcionam os
serviços da rede pública de saúde no Brasil. Assim, o Saútil passou a
oferecer orientação em questões relacionadas a consultas, exames,
equipamentos, atendimentos de emergência, fornecimento de medicamentos e
vacinas e localização de instituições de saúde pública.
Morato
conta que, em 2011, o projeto mapeou a cidade de São Paulo.
Identificados pela Artemísia, os empreendedores descobriram, então, o
universo dos negócios sociais. “O conceito caiu como uma luva para o
nosso projeto”, diz. Depois de integrar o programa da aceleradora de
impacto e receber mentorias, a cobertura do conteúdo foi ampliada para
todo o Brasil e entendeu-se que o negócio não deveria poluir a página de
seu portal com anúncios, mas sim, gerar receita vendendo serviços para
grandes corporações do setor.
“Além do buscador, fornecemos conteúdos
de saúde segmentados: para o homem, a criança, a mulher, problemas
respiratórios e do coração, por exemplo. E buscamos empresas que tenham a
ver com alguma dessas áreas para nos patrocinar”, conta Morato.
Outro serviço é o chamado concierge,
voltado para empresas que tenham funcionários sem plano de saúde.
“Oferecemos orientação para apoiar o RH na solução de dúvidas de
funcionários ligadas à saúde, por meio de um canal de telefone e também online”.
No início, além do apoio da Artemísia, o fundo de investimento Vox
Capital investiu R$ 55 mil para um capital inicial. Morato conta que não
pensava em procurar por fundos de investimento. “Obviamente, com o
crescimento rápido, sentimos a necessidade de ganhar escala, de atender
às demandas com qualidade e, para isso, precisávamos de dinheiro. O Vox
mostrou interesse em medir o impacto dos nossos benefícios, saber a
opinião da população; não falaram apenas de indicadores financeiros, e
isso chamou nossa atenção. Esse é o papel do investidor de impacto.
Agora, estamos numa fase em que o Vox planeja entrar como sócia no
projeto, em modelo de joint venture”, diz. Depois disso, o próximo passo para o Saútil será o lançamento de um market place
no site, oferecendo acesso a produtos de baixo custo, como cadeiras de
rodas, aparelhos de inalação e exames mais baratos. Não haverá venda,
mas a facilidade para o usuário da compra por telefone ou internet.
Apoios de peso
Há muitos players
apostando no desenvolvimento de negócios sociais. Além da Artemísia,
outros desenvolvedores têm atuado no Brasil, como a NESsT e a Fundação Avina, como grandes aliados na capacitação de talentos empreendedores, desde sua fase startup, nos dois primeiros anos de vida, por meio de educação, disseminação de conhecimento e aceleração de negócios.
No caso dos fundos de investimento especializados, além do Vox Capital, atuam no Brasil a Kaeté Investimentos, Pragma, First Impact Investing e Sitawi.
“Quaisquer que sejam as características específicas dos negócios
sociais, a realidade é que hoje, no mercado, as opções de financiamento
são muito similares às dos negócios tradicionais. As linhas e os
veículos de investimento coincidem quase em sua totalidade”, afirma
Daniel Izzo, do Vox Capital.
Outras possíveis fontes de financiamento são os órgãos governamentais brasileiros (FINEP e BNDES, principalmente) ou por multilaterais internacionais (IFC e BID,
por exemplo). Entretanto, muitos empreendedores ainda não buscam esse
tipo de recurso por uma percepção de dificuldade no acesso. O certo é
que algum recurso de filantropia parece indispensável no inicio dos
negócios sociais. E os chamados investimentos de impacto surgem como
oportunidade para oferecer escala. Os bons naturalmente irão crescer.
Integrando a cadeia de grandes empresas
Os negócios sociais surgem como um novo player :
pequenas empresas conectadas a uma cadeia que se interliga com as
grandes do mercado. Essas, por sua vez, se estiverem abertas para
arriscar e repensar a cadeia de valor inteira, estarão no caminho de
ajudar a desenhar uma nova economia.
Graziella Comini, do CEATS, afirma que
há boas oportunidades de negócios para as grandes empresas com o setor
dois e meio. Afinal, é possível escolher, por exemplo, uma gráfica com
proposta social ou mesmo adquirir produtos de comunidades. Os
departamentos de compras podem ficar mais atentos aos fornecedores
sociais, estabelecer pregões socioambientais, assim como o governo, que
representa um grande comprador, além de regulador dessas ações.
Já
as empresas sociais, como qualquer outra sob as regras do mercado,
precisam elaborar seus modelos de negócios, dedicando-se a conhecer seu
público, oportunidades e riscos. Um dos maiores perigos ao ingressar na
cadeia de fornecimento de grandes empresas é o descompasso de ritmos nas
negociações.
Grandes corporações trabalham com
volumes muito grandes, numa velocidade que as empresas sociais podem não
conseguir atender, como explica Roberto Palmieri, gerente de projetos
do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
Um problema clássico é o do crescimento
da demanda. “No nosso caso, que trabalhamos com insumos da natureza em
sistema de manejo florestal, vemos muitas empresas, por exemplo, de
cosméticos, solicitando de repente um volume muito grande de um
determinado ativo para dar conta da produção. Tentar atendê-las pode
representar um risco para as empresas pequenas, impactando até mesmo o
seu funcionamento social, ou seja, o core business, e
comprometer a qualidade das relações”, explica. Outra armadilha: muitos
negócios passam a trabalhar exclusivamente para apenas um cliente grande
por não ter fôlego para aumentar sua equipe e diversificar compradores.
“Quando se fala em negócios sociais, não
são apenas eles que precisam se adequar ao mercado e ao ritmo das
grandes corporações. As grandes empresas precisam se abrir para entender
a dinâmica, capacidade e limitações, para que seus contratos reflitam
esse novo tipo de negócio, preocupado com as relações sociais”, diz
Palmieri. No caso das grandes, isso implica muitas vezes alterar suas
políticas, a forma como fazem solicitações, pedidos e o tempo de
entrega.
Quando se fala de produtos florestais e
agrícolas, principalmente, deve-se colocar o ritmo da natureza em
primeiro lugar, não o do mercado. Um bom exemplo é o da copaíba, árvore
que produz um óleo muito procurado. Palmieri conta que o Imaflora
precisou intermediar a relação entre os produtores e uma empresa, pois
um aumento da demanda poderia desestruturar o grupo de trabalhadores e
causaria uma pressão muito grande nos recursos naturais. Uma evolução na
relação entre as multinacionais e as ONGs ou negócios sociais mostra
que ambos podem aprender mutuamente, num processo de cocriação que
envolve uma nova perspectiva: corporações com uma visão mais social e
ONGs com um conhecimento mais gerencial.
Negócios sociais e a nova economia
Em artigo chamado Visão 2050: um Mundo Livre da Pobreza,
o professor Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1996,
escreveu acreditar que os negócios com foco social sejam “um passo na
direção de uma nova ordem econômica e social global”. Eventualmente, uma
ordem num mundo “livre da pobreza, algo que só poderá ser visto em
museus, em 2050”. Ao iniciar uma revolução mundial nos financiamentos e
conceder crédito para os pobres por meio do projeto de microcrédito
iniciado em 1976, em Bangladesh, que evoluiu para o Banco Grameen, em
1983, Yunus colocou holofotes sobre uma parcela da sociedade excluída do
sistema capitalista, ao menos dois terços da população mundial
considerada como não merecedora de crédito. “Todo ser humano nasce
perfeitamente capacitado, não apenas para cuidar de si mesmo mas também
de contribuir para o bem-estar do mundo. O problema é que eles morrem
com seus dons inexplorados e o mundo perde suas contribuições”, afirma o
banqueiro dos pobres.
No sistema capitalista, as pessoas e
suas humanidades localizam-se na periferia, e não no centro dos
negócios. No entanto, já 250 anos atrás, o fundador da economia liberal
clássica escrevia: “O que melhora as condições da maior parte não deve
ser nunca considerado um inconveniente para o todo. Nenhuma sociedade
poderia florescer e ser feliz onde a maior parte dos indivíduos é pobre e
miserável”, afirmou Adam Smith em A Riqueza das Nações (1776).
Yunus e uma linha de estudiosos de Smith
afirmam que, já nessa época, o pensador havia elaborado uma teoria
econômica que vislumbrava um capitalismo muito mais social do que o que
conhecemos hoje. Defendem que o conceito de “mão invisível do mercado”,
cunhado em sua obra, não poderia ser entendido sem um outro livro de
Smith, A Teoria dos Sentimentos Morais, quase ignorada pelos
seguidores do capitalismo, em que ele fala sobre a dimensão moral da
consciência social do homem, afirmando que ele é movido pela
consciência, simpatia e desejo de lucro pessoal. Assim, merece um
entendimento mais amplo seu célebre conceito fundamental para a doutrina
do liberalismo: “Ao buscar seu próprio interesse, o indivíduo
frequentemente promove o interesse da sociedade de maneira mais
eficiente do que quando realmente tem a intenção de promovê-lo.”
Yunus declarou diversas vezes que a
natureza humana é multifacetada, multidimensional: seu comportamento tem
uma dimensão egoísta, que visa ao ganho próprio, lucro pessoal e
exclusivo, outra, altruísta, solidária, capaz de encontrar satisfação na
satisfação alheia. Entretanto, a teoria econômica convencional foi
desenvolvida de forma unidimensional, deixando espaços muito reduzidos
para essa parcela mais altruísta da humanidade. Para Yunus, “de certa
forma, escolhemos não levar em conta metade da mensagem de Smith”. Nesse
sentido, o desenvolvimento de negócios sociais seria uma correção
necessária à rota do capitalismo.
Erich
Fromm também dedicou-se a estudar as tendências presentes no ser
humano, uma “ter – possuir –, que adquire sua força, em última análise,
no fator biológico do desejo de sobrevivência; a outra, ser –
participar, dar, sacrificar-se –, que obtém sua força das condições
específicas da existência humana e da necessidade de superar o
isolamento pela identificação com os outros”. Para o filósofo, o que
determina a valorização de um aspecto ou outro é a pressão social. Uma
maior abertura social para um caminho do meio, entre o ter e o ser,
parece estar em discussão.
“Na minha opinião, a razão de nada
deveria ser apenas fazer mais dinheiro. Isso cria um abismo de valores, a
crise que vivemos hoje. O dinheiro deve ser trabalhado no lugar dele:
como ferramenta para grandes realizações e como consequência da
realização de coisas bem feitas. Estamos falando em gerar prosperidade, e
o lucro permite isso”, diz Daniel Izzo.
Ao que tudo indica, para uma nova
geração de empreendedores, os caminhos híbridos parecem fazer muito mais
sentido. Insatisfeitos com as limitações dos modelos tradicionais, que
separam o “fazer o bem” do “ganhar dinheiro”, querem progredir na
carreira e criar família beneficiando a sociedade. “Eu formo alunos e
vejo que o modelo das ONGs nunca gerou grande atrativo de carreira para a
maioria, sendo consideradas atividades periféricas. Quando se fala em
negócios sociais, os jovens pensam nessa nova perspectiva”, diz
Graziella Comini, do CEATS. Para ela, esse seria um importante potencial
inovador dos negócios sociais. Por isso, vale analisar as empresas que
já nascem sob uma nova concepção, naturalmente híbridas, rompendo,
assim, com as tradicionais fronteiras entre setor social e privado.
Para o professor da Fundação Dom Cabral,
Cláudio Boechat, outro aspecto importante é salientar que qualquer
empresa é inclusiva, em menor ou maior grau. “Não estimulamos nossos
alunos a pensar em ‘caixas’ de social e não social; preferimos falar
sobre inclusividade das empresas, e, assim, não conferirmos autorização
para que as empresas grandes não sejam sociais.” Segundo ele, o
principal argumento é que o impacto das grandes empresas do mercado,
tornando-se mais sociais, seria muito maior do que o de tantas empresas
sociais sendo criadas, já que as grandes detêm recursos e escala.
Roberto Palmieri observa mudanças
importantes em curso: as empresas costumavam negociar com pequenos
fabricantes de produtos florestais, por exemplo, sem se relacionar com
eles, já que usavam atravessadores para seguir a lógica do mercado.
Dessa forma, tudo tinha de se adaptar ao ritmo das grandes corporações,
não havendo preocupação em saber sobre ciclos e ritmos da ecologia. “Com
mudanças no sentido da sustentabilidade, os atravessadores diminuem e
as grandes empresas passam a ter contato com os pequenos negócios
sociais e suas realidades”, diz.
O gerente do Imaflora aponta mudanças na forma de lidar com os fornecedores em empresas grandes, como a suíça Firmenich, que fornece ativos da biodiversidade para empresas cosméticas, como a Natura.
“Elas têm uma forma diferente de comprar, não observam apenas questões
de quantidade e qualidade, mas se no processo estão sendo respeitadas as
questões sociais e do meio ambiente. Outro bom exemplo vem da Mercur,
que trabalha com borracha nativa de produtores das reservas
extrativistas na Terra do Meio, no Pará, que afirma: ‘Se não der para
fazer de uma forma sustentável, respeitando o tempo das comunidades e
das seringueiras, não interessa mais, é um principio inegociável’”,
completa. “Gosto de levá-los para visitar seus fornecedores, para falar
com as pessoas, conhecer a vida delas, sua realidade, comer o que comem,
dormir como dormem”, diz. Isso, definitivamente, não é filantropia, mas
um novo tipo de negócio.
Nessas novas relações, empresas sociais
devem pensar e agir de forma diferente, e a cocriação torna-se
extremamente importante como estratégia para que modelos de negócios
tradicionais não sejam replicados. Na teoria de Fromm, o lado mais
altruísta, social e ecológico do homem teria sido reprimido
historicamente, desde a Revolução Industrial, porque a sociedade
baseou-se na aquisitividade, no lucro por si só, orientando o caráter
social no sentido do ter. Para ele, não houve resistência porque humanos
querem pertencer, não ser marginalizados, adaptando-se à maioria.
Com uma busca crescente da sociedade por
sentido e felicidade, pelo equilíbrio entre o ser e ter, novos ventos
sopram. Seriam eles suficientes para incentivar a construção de uma nova
economia capitalista, nos moldes dos melhores sonhos de Smith e Yunus?
Este conteúdo e muito mais em: http://www.ideiasustentavel.com.br/
Governador do Ceará pede paciência à população de Fortaleza para com o novo prefeito e seu grupo caracteriza o titular do Palácio do Bispo como nova liderança política
Confesso que nesta matéria do Jornal O Povo em que o
Governador do Ceará pede à população de Fortaleza que tenha paciência
com o novo prefeito, fiquei com uma dúvida em relação ao que pode ser
considerado "liderança" ou "liderado". E como se revelaria uma nova
"liderança" ou "quadro" político. Também não está claro pra mim o papel
da meritocracia na revelação dessas novas "lideranças". Quem puder
ajudar, agradeço desde já!
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Cid pede que população tenha paciência com gestão Roberto Cláudio
Durante a inauguração em Sobral, o governador disse que Roberto Cláudio recebeu uma "herança terrível"As declarações foram feitas durante a inauguração do Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral, na noite da última sexta-feira, que contou, inclusive, com a participação de RC. “Não tenho dúvida que o Roberto Cláudio passará pela história de Fortaleza como o melhor prefeito dos últimos anos. E olha que eu tenho um irmão que foi prefeito de Fortaleza”, completou Cid, se referindo ao ex-deputado Ciro Gomes (PSB).
Secretariado
Mesmo frisando que estava de férias até o dia anterior, o governador analisou, ainda, a composição do secretariado do prefeito. Para ele, que disse conhecer “muita gente” dentre os nomes escolhidos, “boa parte, também, é gente nova, o que é bom”.
“A gente deve estar sempre procurando atrair pessoas para o serviço público e testá-las, colocá-las para atuar”, pontuou Cid, acrescentando que a principal caraterística do governo de RC é a juventude.
“São pessoas novas, a começar pelo próprio prefeito que exerce o primeiro mandato no Executivo e que compôs uma equipe à sua feição. Não são gordinhos e baixinhos, mas são novos, pessoas dispostas a acertar e a fazer um bom serviço em Fortaleza”, disse.
Para o ex-deputado e irmão do governador, Ciro Gomes, Roberto Cláudio, eleito com apoio de larga aliança política na Capital, teve “liberdade” para escolha do seu secretariado, composto, segundo ele, por nomes que respondem a critérios de seriedade, competência e compromisso. “Mas, equipe de governo é aquela que cumpre aquilo que está estabelecido para ser cumprido. Se não cumprir, ele também tem a liberdade para trocar. Isso é que é importante”, avisou o ex-ministro.
Roberto Cláudio, por sua vez, salientou que a escolha de seu secretariado foi uma mistura de pessoas renomadas nas áreas técnicas e políticas e de novos rostos no cenário estadual. “Temos pessoas do mais alto gabarito, como Eudoro Santana (PSB) e temos pessoas novas, iniciando seus passos na vida pública”, destacou.
Novas lideranças
Durante a cerimônia de inauguração do hospital em Sobral, Roberto Cláudio, que foi bastante assediado pelos próprios políticos presentes à solenidade, foi apontado pelos Ferreira Gomes como fruto das novas lideranças políticas para o Estado.
Conforme Ciro, “Cid está terminando um clico. É uma liderança que ainda tem muito a dar para o Ceará. E eu estou preocupado em formar um conjunto de quadros novos para a nova geração de líderes no Ceará. O Roberto é, sem dúvida, o primeiro grande líder que surge dessa nova geração. E está frutificando”.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Até o início do ano passado, o governador Cid Gomes era aliado político da ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. Desde que romperam a aliança, críticas à administração de oito anos do PT são recorrentes.
Bastidores
Dentre os principais políticos presentes na solenidade de inauguração do Hospital Regional Norte (HRN), estavam os petistas José Guimarães e Camilo Santana. Os dois são favoráveis à manutenção da aliança do PT com o Governo do Estado.
Em massa, parlamentares cearenses, além de vários prefeitos municipais, lotaram o hall de entrada do hospital, à espera do governador Cid Gomes (PSB), e o palco montado ao lado da unidade de saúde. Dentre eles, estavam o senador Inácio Arruda (PCdoB); os deputados estaduais Ivo Gomes (PSB), Zezinho Albuquerque (PSB), Lula Morais (PCdoB), Júlio César Filho (PTN), José Sarto (PSB), Sérgio Aguiar (PSB), Sineval Roque (PSB), João Jaime (PSDB) e Gony Arruda (PSD); e os deputados federais Padre Zé Linhares (PP), João Ananias (PCdoB), Antônio Balhman (PSB) e Domingos Neto (PMDB).
O senador Eunício Oliveira (PMDB), que já demonstrou interesse em disputar o Governo do Estado em 2014, não compareceu à solenidade. O senador José Pimentel (PT) também não esteve presente.
Ao O POVO, Ciro Gomes disse que, sob o ponto de vista de liderança popular e regional, no Brasil, Cid Gomes e o governador de Pernambuco, Educardo Campos (PSB), se equiparam. Ele afirma esperar que as ponderações feitas por seu irmão possam ajudar Campos “a ponderar também os melhores caminhos” para o PSB nacional.
Fonte: Jornal OPOVO.
domingo, 20 de janeiro de 2013
7% da população de Fortaleza detém 26% de toda a riqueza da cidade; Fortaleza é a quinta cidade mais desigual do mundo
O preocupante quadro da desigualdade social em Fortaleza
As diferenças de renda que apartam a capital cearense a colocou como a 5ª cidade mais desigual do mundo. O dado provocou a primeira promessa de Roberto Cláudio no dia de sua posse: "derrubar a muralha da vergonha"O muro que aparta a Fortaleza dos ricos e a Fortaleza da miséria não tem traço definido. Sabe-se que está ramificado, cortando um sem-número de rincões espalhados pela quarta capital do País. Rígido, ergueu estrutura que hoje consegue separar os que sucumbem com menos de R$ 70 por mês dos que acumulam rendas e luxos milionários.
A muralha até pode delimitar as classes sociais, mas, por vezes, consegue fazê-las coexistirem em mesmo endereço, tornando as diferenças indivisíveis. Nos bairros Meireles, Edson Queiroz e Cidade 2000, por exemplo, há bolsões de miséria imersos em nobres metros quadrados. São comunidades que se formaram e sobrevivem por entre o luxo dos condomínios fechados habitados pelo que se convencionou chamar de classe média/alta fortalezense.
No Meireles, a comunidade do Campo do América resiste. No entorno do Edson Queiroz, o Dendê padece. Na Cidade 2000, a favela do Pau Fininho arqueja com casebres erguidos nos fundos dos mais imponentes condomínios residenciais da Capital. Para além das áreas minimamente assistidas, há ainda uma Fortaleza que adormece sem qualquer atenção do poder público, concentrada essencialmente no subúrbio da cidade.
Uma rápida análise nos indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) denuncia que a Fortaleza escondida na Secretaria Executiva Regional (SER) VI é a que mais carece de atenção. Dos 10 bairros com menor renda média por habitante, seis estão ali. Entre os 10 bairros mais ricos, nove concentram-se num entorno privilegiado da Secretaria Executiva Regional (SER) II. Desse emaranhado de gente com as maiores rendas da cidade, 7% são capazes de se apropriar de 26% da renda pessoal total de Fortaleza.
O reflexo do cenário
Estampando o cenário de contrastes, a capital cearense foi apontada, no último mês de outubro, como a quinta cidade mais desigual do mundo. O dado, que acabara de cair no colo do prefeito eleito Roberto Cláudio (PSB), está no mais recente relatório das Nações Unidas State of the World Cities.
E fez lembrar que na tarde do dia 1º de janeiro, no discurso de posse em seu primeiro dia nas dependências do Palácio do Bispo, no Paço Municipal, RC fazia sua mais recente e desafiadora promessa ao fortalezense: “Quero derrubar a muralha da vergonha em Fortaleza”, anunciava.
Em cenário que coloca a promessa do novo prefeito diante do retrato da extrema desigualdade, O POVO procurou especialistas para tentar prospectar o que é possível executar nos próximos quatro anos para que seja derrubada a muralha que historicamente persiste erguida em Fortaleza. Nas páginas a seguir, caro leitor, você verá que em uma única gestão muito pode ser feito. Contudo, é consenso que será apenas o começo do que pode ser visto em longo prazo - pelo menos quatro governos à frente e uma geração inteira a se desenvolver.
Como
ENTENDA A NOTÍCIA
Quando tomou posse no último dia 1º, em seu primeiro discurso como prefeito, Roberto Cláudio (PSB)disse que o principal objetivo de seu governo era “derrubar a muralha da vergonha” que separa ricos e pobres
NÚMEROS
5º
lugar é a posição de Fortaleza entre as cidades mais desiguais do mundo
7%
da população de Fortaleza detém 26% de toda a riqueza da cidade
Saiba mais
Um dado que agrava a situação de desigualdade extrema em Fortaleza é que a capital cearense é também a cidade mais densamente povoada do País.
Fortaleza chegou a essa condição essencialmente por conta do processo migratório do homem do campo para a Capital, iniciado nos anos 1960.
Como o Ceará não desenvolveu cidades de grande porte que dividissem a população migratória, o emaranhado de gente concentrou-se em Fortaleza.
Ao passo que a cidade recebia novos habitantes, a administração não deu conta de adequar os serviços ao crescimento desordenado da metrópole e da aglomeração.
O descaso provocou um efeito cascata: a criação de áreas faveladas, que hoje não têm estrutura adequada de serviços. Um grande desafio para qualquer gestor que assumir o poder.
Fonte: Jornal O Povo.
Esse é o tipo de postura que agrada ver no Palácio do Bispo! Fortaleza precisa e o povo agradece!
A queda do muro da vergonha tem prazo
Depois que o prefeito Roberto Cláudio prometeu derrubar o muro da desigualdade em Fortaleza, especialistas apontam que os efeitos das políticas executadas agora só serão vistos daqui a cerca de quatro gestõesANDRÉ SALGADO
Eudoro garante que gestão RC tem ideias para profundas mudanças
Se a intenção do prefeito Roberto Cláudio (PSB) é ver o muro da desigualdade ir abaixo ao longo dos próximos quatro anos, poderá ter uma frustração ao fim de seu mandato. Se, por outro lado, RC projeta ver os resultados de seu esforço daqui a pelo menos 15 anos, a surpresa poderá ser positiva.
De acordo com economistas e especialistas em estudos sobre a pobreza de Fortaleza, será necessária pelo menos uma geração inteira pela frente para que se vejam resultados efetivos de uma política certa, caso ela seja iniciada a partir de agora.
No cerne da questão, estariam investimentos essenciais em educação, saúde e geração de emprego, ao lado dos programas de transferência de renda que hoje já são tocados pelo Governo Federal.
Em seus quatro anos de governo, Roberto Cláudio terá a possibilidade de apontar as diretrizes para que os próximos gestores sigam políticas de resultados. Contudo, apenas se o ciclo de bons exemplos não for interrompido ao longo dos próximos governos, Fortaleza poderá começar a vislumbrar o início da queda da muralha da desigualdade.
“Para conseguirmos identificar resultados, será preciso que sucessivas gestões mantenham as políticas de transferência de renda, em paralelo com a oferta dos serviços básicos e as ações de impacto na educação, saúde e capacitação”, sintetiza o coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza da Universidade Federal do Ceará (UFC), João Mário França.
Rumo certo
Pelo menos no discurso do presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), Eudoro Santana, a gestão Roberto Cláudio deverá iniciar pelo rumo certo. A ideia para os próximos quatro anos é investir em políticas para capacitação e geração de emprego, com a meta de garantir renda às famílias que hoje estão em situação de vulnerabilidade. O passo seguinte seria o incentivo à instalação de empresas limpas nos bairros mais periféricos.
Ao lado da capacitação, o governo municipal projeta ampliar o número de famílias assistidas pelos programas de transferência de renda do Governo Federal. “Além disso, há uma série de ideias que estão arroladas em todas as áreas. Com a execução de todos os projetos, aos poucos vamos abrindo horizontes para dar início ao processo de mudanças”, vislumbra. (Raquel Maia - raquelmaia@opovo.com.br)
Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2013/01/19/noticiasjornalpolitica,2991531/a-queda-do-muro-da-vergonha-tem-prazo.shtml
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Por menos reclamações e mais ações por parte do Palácio do Bispo
Gostaria
de ver menos reclamações e mais providências por parte da gestão municipal
atual de Fortaleza. Se alguém tem que estar se lamentando é uma multidão de
trabalhadores terceirizados que estão perdendo seus empregos. Nossa cidade saiu dessas
últimas eleições dividida ao meio. Não precisa de tanto acirramento contido
nesses esforços para desgastar a gestão
passada. Na minha (talvez ingênua) visão, o momento seria de trabalhar e buscar
reconciliar às duas metades divergentes de eleitores de Fortaleza em torno da
preparação de nossa gente para os muitos desafios que se interpõem entre nós e
um futuro melhor. O crack, a violência, a pobreza extrema, o desemprego, o
baixo IDH, nosso meio ambiente ameaçado, nosso trânsito assassino e sufocante,
nosso saneamento básico precário, nosso transporte coletivo insuficiente e
desrespeitoso, as vidas perdidas de nossa juventude, deveriam ser os temas
principais de uma agenda urgente-urgentíssima do novo prefeito que
corajosamente anunciou como prioridade "derrubar o muro da vergonha" que
simboliza as desigualdades sociais de nosso município. Esses temas também
deveriam pautar nossos jornais, TVs, mídias sociais e formadores de opinião,
todos debatendo profundamente e buscando soluções, ao invés de repetirem
exaustivamente esse "mantra do caos" que só fomenta o ódio e o rancor
Fratricida entre grupos e setores de nossa sociedade. Mas essa visão minha pode
ser inadequada para os interesses, jogos políticos e guerras de posição que
antecedem novas eleições em 2014. Ou ainda, posso estar sendo ingênuo ou
ignorante em relação ao que é Gestão pública e vontade política na Fortaleza
contemporânea. Que seja! Mais ainda torço por nossa cidade, independente de
qual partido esteja ocupando o Palácio do Bispo. Reflitamos! E mãos à obra.
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