No
Banquete de Platão, a profetisa Diotima de Mantinéia ressaltou para Sócrates,
com a sincera aprovação deste, que “o amor não se dirige ao belo, como você
pensa; dirige-se à geração e ao nascimento no belo”. Amar é querer “gerar e
procriar”, e assim o amante “busca e se ocupa em encontrar a coisa bela na qual
possa gerar”. Em outras palavras, não é ansiando por coisas prontas, completas
e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a
participar da gênese dessas coisas. O amor é afim à transcendência; não é senão
outro nome para o impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim
de uma criação nunca é certo.
Em
todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do
outro. É isso que faz o amor parecer um capricho do destino – aquele futuro
estranho e misterioso, impossível de ser descrito antecipadamente, que deve ser
realizado ou protelado, acelerado ou interrompido. Amar significa abrir-se ao
destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde
ao regozijo num amálgama irreversível. Abrir-se ao destino significa, em última
instância, admitir a liberdade no ser: aquela liberdade que se incorpora no
Outro, o companheiro no amor. “A satisfação no amor individual não pode ser
atingida sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras”, afirma
Erich Fromm –apenas para acrescentar adiante, com tristeza, que em “uma cultura
na qual são raras essas qualidades, atingir a capacidade de amar será sempre,
necessariamente, uma rara conquista”.
(Zygmunt Bauman em Amor Líquido).
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