A comunidade do Conjunto Ceará
tem uma longa tradição de lutas e resistências em defesa da sua autonomia,
qualidade de vida e desenvolvimento. Os mais antigos e bem informados sabem que
toda a infraestrutura do bairro foi conquistada pelo movimento social na década
dos anos 1980, com mobilização popular, idas a Brasília e articulações com o
Mandato de Maria Luiza Fontenele, então prefeita de Fortaleza pelo partido
dos trabalhadores. Outras gerações lembrarão da grande derrota que essa
comunidade impôs ao Governador Tasso Jereissati, do PSDB, quando o fez voltar
atrás na decisão de passar linhas de alta tensão pelas avenidas do Conjunto
Ceará, jornada de mobilizações conhecida localmente como, “Luta contra o Linhão
da Morte”. Mais recentemente a vitória comunitária foi contra a ala neoliberal do governo de
Camilo Santana (PT) quando a Secretaria do Planejamento e Gestão/SEPLAG tentou, através da Companhia de Habitação do Ceará/COHAB-CE, leiloar os prédios do Centro Cultural
Patativa do Assaré e do Território Criativo, localizados no polo de lazer. Polo
este, que teve uma reforma conquistada pela luta dos movimentos sociais e
culturais do Bairro junto ao próprio governo Camilo. Isto após a realização de uma grande campanha e até de uma audiência pública com Assembleia Legislativa e Câmara de Vereadores de Fortaleza em pleno Polo de Lazer, exigindo a sua reforma e requalificação.
No entanto, os poderes públicos parecem
desconhecer ou ter esquecido a tradição de lutas do Conjunto Ceará, e
desavisadamente vêm pondo em teste a força dos movimentos sociais e culturais
desta comunidade. A “bola da vez” é a reforma do polo de lazer. O imbróglio já
começou no anuncio da obra pelo governador e pelo prefeito de Fortaleza, com ambos
atribuindo a conquista da reforma a um vereador pouco expressivo e sem nenhuma
relação com os movimentos sociais e culturais que de fato a conquistaram. O problema se agravou com o descumprimento por parte do Governo estadual de
promessas e acordos firmados com os empreendedores e coletivos que atuam e
trabalham no local, para que os mesmos desocupem o Polo para que aconteça a obra.
E o problema chega ao ápice com a Prefeitura de Fortaleza (parceira do Governo do
Estado na reforma) lançando uma brutal onda de perseguição contra os
empreendedores, coletivos e juventudes locais, através da Agência de Fiscalização
da Prefeitura (AGEFIS), que multa, recolhe equipamentos e humilha os
empreendedores e criativos do polo de lazer. E o Governo do Estado silencia e
não aponta solução para os impasses ou para a continuidade da reforma.
Mas a comunidade continua
aguerrida, os movimentos sociais continuam mobilizados e os empreendedores cada
vez mais dispostos a resistir aos desmandos governamentais. Portanto, o Governo
parece fazer uma aposta delicada ao negligenciar a situação envolvendo a
reforma do polo de lazer do Conjunto Ceará. Estamos aparentemente caminhando
para mais um grande enfrentamento entre comunidade e poder público. E historicamente,
os resultados não têm sido bons para os governos quando estes ameaçam a dignidade,
qualidade de vida e o desenvolvimento do Conjunto Ceará.
O Governo Camilo Santana, tudo indica,
vem gastando, de forma imprudente, o capital social e o crédito que detém junto
a importantes movimentos do Conjunto Ceará (boa parte deste crédito conquistado pela ação do governador em barrar a venda dos prédios históricos da comunidade pela SEPLAG e COHAB e por atender as reivindicações de reforma do Polo). A paciência dos coletivos parece
estar chegando ao fim devido a omissão e o trato descuidado dos agentes
governamentais em relação ao Bairro. E o Polo de Lazer do Conjunto Ceará pode
acabar se tornando uma espécie de “Vietnam” para o Governo do Estado e Prefeitura,
logo na véspera da próxima eleição para prefeito de Fortaleza. Aos círculos de
relação do Palácio da Abolição e do Paço Municipal, fica a dica.
Leia também: http://blogmundospossiveis.blogspot.com/2019/08/a-importancia-do-polo-criativo-para-o.html
*foto retirada do sitio Fortaleza Nobre.
Mundos Possíveis.
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