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segunda-feira, 8 de abril de 2013

O "neoliberalismo" de luto


 

Morre Margaret Thatcher aos 87 anos na Inglaterra

Margaret é uma das figuras dominantes na política inglesa do século XX. Seu governo, que ficou conhecido como "thatcherismo" influencia políticos até hoje

Morreu nesta segunda-feira, 8, Margaret Thatcher, aos 87 anos. Ela foi a primeira mulher a se tornar primeira-ministra britânica, cargo que ocupou durante três mandatos consecutivos, de 1979 a 1990.
Thatcher faleceu em Londres em consequência de um derrame, anunciou seu porta-voz Lord Tim Bell.


Com grande tristeza, Mark e Carol Thatcher anunciaram que sua mãe, a baronesa Thatcher, morreu tranquilamente depois de um ataque cerebral esta manhã", afirma em um comunicado.

"Perdemos uma grande dirigente, uma grande primeira-ministra e uma grande britânica", declarou o primeiro-ministro britânico David Cameron, conservador como a "Dama de Ferro".

A rainha Elizabeth II se declarou "triste" ao receber a notícia da morte de Thatcher, anunciou o Palácio de Buckingham em um comunicado.

Mas de acordo com Downing Street, residência oficial do premiê britânico, Thatcher terá apenas um funeral cerimonial na Catedral de St. Paul.

"Downing Street pode anunciar que, com o consentimento da Rainha, Lady Thatcher receberá um funeral cerimonial com honras militares", declarou em um comunicado, sem informar por ora uma data.

Isso significa que não terá funerais de Estado, como a imprensa chegou a especular, já que era muito associada a outro ilustre primeiro-ministro, Winston Churchill.

Mas todos os ministérios e prédios oficiais mostravam nesta segunda-feira bandeiras a meio mastro, em homenagem a Thatcher, que há uma década se encontrava afastada da vida pública.

Dirigentes que compartilharam com ela o mesmo período de poder também expressaram sua tristeza pelo desaparecimento da Dama de Ferro.

O ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger afirmou que a ex-primeira-ministra era uma "personalidade corajosa".

"Foi uma personalidade corajosa, uma mulher que aprendeu que um líder deve ter convicções firmes, porque as pessoas não têm como decidir por elas mesmas a menos que seus líderes lhes indiquem a direção a seguir", afirmou à CNN o secretário de Estado de Richard Nixon e Gerald Ford.

"Ela não acreditava que seu trabalho consistia em alcançar compromissos, e sim em ter convicções", afirmou Kissinger, Prêmio Nobel da Paz 1973.

Já o ex-presidente polonês e histórico líder do sindicato Solidariedade, Lech Walesa, disse que Thatcher contribuiu para a queda do comunismo na Europa.

"Lástima. Era uma grande personalidade que fez muito pelo mundo, que contribuiu para a queda do comunismo na Polônia e na Europa do Leste, com (o presidente americano também falecido) Ronald Reagan, o Papa João Paulo II e o sindicato Solidariedade", declarou Lech Walesa, emocionado, falando à AFP.

"Margaret Thatcher era uma grande personalidade política e uma pessoa brilhante. Ela permanecerá na memória e na história", declarou, por sua vez, o antigo dirigente soviético Mikhail Gorbachev.


Margaret Thatcher com Mikhail Gorbatchev. Foto: AFP

Desde 2002, Thatcher não falava em público, após sofrer uma série de pequenos derrames e ser aconselhada pelos médicos a evitar a presença em audiências públicas devido a sequelas como confusões ocasionais e perda de memória.
Em 2008, sua filha Carol revelou, em um livro de memórias, que a mãe sofria demência senil há sete anos. Também havia sofrido vários ataques cerebrais.


"Thatcherismo"
Thatcher, a primeira e até agora única primeira-ministra britânica, permaneceu 11 anos em Downing Street, entre 1979 e 1990. Margaret é uma das figuras dominantes na política inglesa do século XX.

Mais de duas décadas depois, o legado desta política que ganhou o apelido de Dama de Ferro, implacável defensora do conservadorismo político e do liberalismo econômico, continua dividindo os britânicos.
Sua lenda foi forjada em sua autodeterminação para impulsionar a liberalização econômica dos anos 1980, para resistir às pressões europeístas, para enviar a marinha real às Malvinas para combater as tropas argentinas em 1982 e devido a sua intransigência perante o nacionalismo do grupo IRA na Irlanda do Norte.

Traída por uma saúde delicada, "Maggie" Thatcher foi muito afetada pela perda de seu marido, Denis, depois de mais de 50 anos de casamento, em junho de 2003.

Ele a apoiou ao longo de toda uma carreira que a tornou um verdadeiro "monstro sagrado" em seu país.

Biografia
Com nome de batismo Margaret Hilda Roberts, Thatcher nasceu em 13 de outubro de 1925 em Grantham, Lincolnshire. Margaret e a irmã mais velha, Muriel, cresceram ao lado de uma via férrea. O pai era dono de duas mercearias e envolvido com a política local. Foi ele o responsável pela criação metodista das filhas.

Após uma vida escolar de destaque, ela conquistou uma bolsa de estudos, em 1943, para estudar química na Universidade de Oxford, onde presidiu a tradicional Associação Conservadora, composta por alunos.


Margaret Thatcher em 1984. Foto: AFP








Em 1951, se casou com Denis Thatcher, um bem-sucedido homem de negócios, com quem teve dois filhos gêmeos, Carlo e Mark. Denis sustentou os estudos em advocacia da esposa, que se formou em1953, mesmo ano de nascimento dos filhos.


Aos 26 anos, Margaret casou-se com Denis Thatcher. Foto: AFP

Foi eleita pela primeira vez deputada em 1959 e escalou rapidamente na hierarquia do Partido Conservador. No ano seguinte, assumiu a liderança dos "Tories" e, em maio de 1979, se converteu na primeira mulher a assumir o posto de primeira-ministra do país.

Os sindicatos foram amordaçados, setores inteiros da economia privatizados (telecomunicações, ferroviários, aeronáutica, etc) e o Estado de bem-estar desmantelado. Os impostos caíram, os gastos públicos também.


Thatcher, em 1975, presidente do Partido Conservador

Os círculos empresariais a veneravam, mas sua revolução também se chocava com fortes resistências, uma divisão vigente até hoje na avaliação de seu legado.

Nos primeiros anos de seu mandato, foi superada a marca de três milhões de desempregados e cresceram o mal-estar social e os confrontos com os sindicatos, contra os quais declarou uma guerra sem quartel. No início dos anos 1980, os mineradores em greve se chocaram com a intransigência de "Maggie", assim como os grevistas de fome do Exército Republicano Irlandês (IRA), que iam morrendo na prisão.

No âmbito internacional, a Dama de Ferro tentou restabelecer o prestígio do antigo Império.

Em 1982, quando as tropas argentinas desembarcaram no arquipélago austral das Malvinas, sob dominação britânica desde 1833, Thatcher enviou uma força naval que em dois meses recuperou as ilhas. A vitória encarrilou sua reeleição em 1983.

Ao seu nacionalismo se somou uma desconfiança quase visceral em relação à União Europeia.

Sua intransigência também lhe valeu sólidas inimizades no próprio Reino Unido e até em seu próprio partido, o que a levou a uma humilhante renúncia no dia 22 de novembro de 1990. Suas posições sobre a Europa, após uma calamitosa reforma fiscal local - a famosa "Poll Tax" -, acabaram com sua carreira.

Após sua saída em prantos de Downing Street, a baronesa Thatcher se refugiou no elegante bairro londrino de Belravia, onde continuou preparando lucrativas conferências e redigindo suas memórias.


Fonte: Redação O POVO Online
com informações da AFP

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