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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Funk, Brega, Religião e Estética em Ruth Benedict (?)


Ruth Benedict, escreve, em Padrões de Cultura: "O grandioso período da arte plástica da Europa foi motivado religiosamente. A arte pintou e tornou propriedade comum as cenas religiosas e os dogmas, fundamentais no ponto de vista desse período. A estética europeia moderna teria sido absolutamente outra se a arte medieval tivesse sido puramente decorativa e não tivesse feito causa comum com a religião.

A autora aborda essa questão para tratar da necessidade de não se generalizar como lei social geral resultados de uma fusão local de feições culturais. Ruth Benedict também está preocupada em alertar para que não se tome como fenômeno universal, determinada união local. Ou seja, não se passe a acreditar a partir do conhecimento e análise da arte européia nesse dado período e contexto que a arte e a religião apresentem-se universalmente com essas feições fundidas. Afinal, lembra Benedict:

 No ponto de vista puramente histórico têm-se, no campo da arte, dado grandes acontecimentos notavelmente alheios à motivação e à utilização religiosa. A arte pode manter-se definitivamente alheia à religião, mesmo onde uma e outra atingiram alto desenvolvimento.

A autora afirma que "nos povos do sudoeste dos Estados Unidos as formas de arte da olaria e dos tecidos provocam grande respeito nos artistas de qualquer cultura, mas os seus vasos sagrados usados pelos padres ou próprios dos altares são inferiores, e as decorações, rudes e não estilizadas. Nalguns museus têm-se se posto de parte objetos religiosos do sudoeste por estarem muito abaixo do nível tradicional de habilidade. 

Segundo  a  autora, para os indíos Zuñis as exigências religiosas eliminam toda a exigência de perfeição artística. Ruth afirma ainda que outros povos como certas tribos da América do sul e da Sibéria também fazem essa distinção e não usam a habilidade artística para servir a religião.

Seria possível aplicarmos a mesma lógica utilizada por Ruth Benedic em relação às artes plásticas e a religião, para analisarmos outras manifestações e principalmente expressões artísticas contemporâneas?

Tal discussão é muito importante, ainda mais, se a trazemos para nossa época e para o contexto atual de nossa cultura local. No Brasil de nossos tempos temos grande inclinação para associar, ou na maioria das vezes, resistir a desassociar, determinada expressão artística, ritmo ou manifestação cultural das motivações, e ou mesmo dos temas, aos quais aparecem fundidos ou entrelaçados. Nossa sociedade, ou amplas frações desta, tem "defenestrado" várias manifestações culturais e artísticas populares por incapacidade de vê-las separadas dos discursos, motivações e da estética predominante nas mesmas atualmente.

O RAP, o funk, o forró, o pagode, a música brega, a pixação, são expressões artísticas que se enquadram facilmente num campo de estudos que leve em conta esses argumentos de Ruth Benedict. Isso se tivermos a generosidade e ou o alcance intelectual necessários para adaptar tais argumentos a novos, atuais e desafiadores objetos de estudo.

Tal empreitada seria possível?



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